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Carros automáticos já são os mais vendidos; câmbio manual pode desaparecer

Aposentar o pedal da embreagem deixou de ser um desejo apenas de quem compra carro novo. Nos usados, o câmbio automático também é o preferido

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 15 jul 2023, 00h08 - Publicado em 10 mar 2023, 04h00
Mercado do carro manual
 (William Mur/Quatro Rodas)
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O câmbio manual perdeu relevância nas vendas de automóveis (comerciais leves ficam de fora, portanto) nos últimos dez anos. Esse sistema estava em 79,8% dos carros novos vendidos em 2012 e em 37,7% dos que ganharam as ruas em 2022, como revelam dados fornecidos pela consultoria Jato.

O câmbio manual ainda tem presença forte entre as picapes compactas. Dados da Bright Consulting mostram que apenas 11% são automáticas, mas entre as intermediárias os automáticos formam maioria (85%, desde 2019), enquanto entre as médias houve uma queda de 80% para 77% de 2019 a 2022, explicada por um aumento das vendas das versões de trabalho. Entre os furgões, Ford Transit e Iveco Daily serão as primeiras com câmbio automático, nos próximos meses.

A maioria dos manuais que ainda vendem são compactos com motor 1.0 aspirado. Alguns, como VW Polo e Virtus, Chevrolet Onix e Hyundai HB20 preservam versões com motores mais potentes (turbo) com câmbio manual, mas são os automáticos os que têm maior saída. Versões topo de linha com câmbio manual, por sinal, não existem há muitos anos.

De acordo com Murilo Briganti, da Bright Consulting, o carro 1.0 manual dificilmente vai acabar e não é por uma questão técnica, mas de custos. “Os carros vendidos no Brasil hoje têm preço médio de R$ 137.852. Esse valor gera uma barreira de acesso à compra e as montadoras precisam criar um portfólio para atrair os diversos perfis. Dessa forma, se faz necessário reduzir ou adicionar menos conteúdo tecnológico, para reduzir o preço”, diz.

VW Fox
(Marco de Bari/Quatro Rodas)

O segmento dos SUVs compactos, porém, foi o mais representativo nas vendas de 2022, respondeu por 35,1% dos emplacamentos e também aquele com maior crescimento de vendas de automáticos, passando de 54% em 2018 para 67% em 2022. A tendência é que isso aumente, pois restam apenas três opções com câmbio manual: Fiat Pulse Drive 1.3 (R$ 98.990), Renault Duster Intense 1.6 (R$ 110.990) e o Suzuki Jimny Sierra 4You (R$ 160.990). Nissan Kicks e VW T-Cross perderam a opção de câmbio manual há pouco tempo por falta de demanda.

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O câmbio automático ainda é mais caro, mas seu impacto no preço final depende do fabricante. Na Fiat, o Cronos Drive 1.3 CVT custa exatamente R$ 6.000 mais caro que o manual (R$ 98.990 contra R$ 92.990), enquanto o Renault Duster Intense 1.6 CVT custa R$ 121.990, precisamente R$ 11.000 a mais que o manual.

Briganti diz que os preços dos automáticos baixaram nos últimos anos, justamente por estarem vendendo mais. “Dez anos atrás, as transmissões automáticas equipavam tipicamente veículos premium, com um volume bem menor de aplicação. Hoje, em países desenvolvidos, esta tecnologia já ultrapassa 90% e essa crescente participação no Brasil permite redução de custos por ganho de escala e também pelo aprimoramento de materiais, componentes e tecnologias”.

Ascensão e queda dos sistemas

Grafico 1
Fonte: JATO (Reprodução/Quatro Rodas)
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O preço não impede que os automáticos já dominem as vendas. Foi em 2020 que os carros sem pedal de embreagem passaram a marca de 50% dos carros novos. Em 2022, 57,6% dos zero-quilômetro eram automáticos. Isso em um ano no qual 35,1% das unidades vendidas foram SUVs; 34,4% compactos; 9,9% carros médios; 9,7% picapes médias e 7% picapes compactas.

Por sinal, é o câmbio automático com conversor de torque quem domina o mercado brasileiro hoje. Se o câmbio manual detém 37,7%, o automático tem 39,7% e o câmbio CVT, 21,4%. Os automatizados de uma ou duas embreagens chegaram a ter 7,5% das vendas em 2015, mas hoje detêm apenas 1,4% dos emplacamentos, revelam os dados da Jato.

Participação de cada tecnologia

Grafico 2v

Essa preferência já se reflete no mercado de usados e seminovos. “Hoje o consumidor quer o carro automático e só vai optar pelo manual se a diferença de preço para o carro automático não couber no bolso. O pedido do cliente 100% das vezes é por carros automáticos”, diz o presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Auto-motores (Fenauto), Enilson Sales.

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Existe, também, uma questão de oferta e procura. Com a alta notável nos preços dos carros novos, o comprador leva o desejo de ter um carro automático para o mercado de usados, que, por sua vez, ainda tem o câmbio manual como maioria. Considerando toda a frota de automóveis em circulação no Brasil, apenas 17% são automáticos, de acordo com a Fenauto. Segundo Enilson Sales, a tendência é de que carros com câmbio manual desvalorizem cada vez mais, enquanto os com câmbio automático, mais disputados, ganhem preço. Para quem pensa em comprar um carro novo manual, fica o alerta: “Sem dúvida alguma serão mais difíceis de revender”.

Enquanto for possível, existirá carro manual à venda no Brasil. “Tirando as picapes compactas e os carros 1.0 aspirados, os carros manuais ainda representam um quinto do mercado brasileiro. Em algum momento essa tecnologia deverá ser extinta, principalmente por conta do aumento da conectividade e dos níveis de automação dos automóveis”, diz Briganti.

O câmbio manual não impede que um carro seja híbrido leve, mas é incompatível com sistemas híbridos mais robustos e com sistemas de automação mais avançados ou mesmo com piloto automático adaptativo. Mesmo assim, as previsões da Bright Consulting apontam que, em 2030, o câmbio manual ainda estará em 5% dos carros vendidos no Brasil.

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