A coisa que um motorista mais ouve em um engarrafamento, depois das buzinas, é aquele som típico de ventilador vindo do compartimento do motor. É a popularmente conhecida ventoinha, componente importante no sistema de arrefecimento do conjunto mecânico.
O nome técnico da peça é eletroventilador, que se atualiza em termos de materiais e tecnologias justamente para acompanhar a evolução dos automóveis em busca de eficiência energética. Afinal, manter o controle da temperatura permite ao motor ser mais eficiente e econômico. Além disso, ao minimizar um eventual superaquecimento, esse dispositivo preserva a vida útil do propulsor e evita danos maiores, que demandam retífica, se o motor chegar a “fundir”.
“Ao atingir a temperatura ideal, dentro de uma tolerância chamada de histerese, o sistema de arrefecimento aguarda a temperatura chegar no limite de controle superior para acionar a ventoinha e a temperatura voltar para a faixa ideal”, explica Erwin Franieck, do Instituto SAE 4Mobility.
“Sem a ventoinha, e principalmente em baixas velocidades ou altas cargas, o motor pode rapidamente atingir temperaturas excessivas, que, com certeza, irão danificá-lo”, afirma.
Arrefecimento do motor está mais eficiente
Por isso que é normal em determinadas situações o eletroventilador ser acionado a toda hora. Ou seja, não há nada de errado em você estar parado no trânsito e a ventoinha entrar em ação com frequência e em intervalos curtos.
É sinal, inclusive, de que o sistema está funcionando. Em uma média estimada, a peça é acionada quando a temperatura do conjunto está na faixa dos 90 graus Celsius, mas não há um padrão exato, pois isso varia conforme o motor e o veículo.
“Obviamente que nos dias mais quentes o eletroventilador também entrará mais em funcionamento para manter a temperatura do motor em um nível adequado”, explica Marc Reydams, head de engenharia e inovação da Brose do Brasil, um dos principais fornecedores de ventoinhas do mercado.
“O que não é normal é se essa temperatura subir além do regime tolerável e, se isso ocorrer, mesmo nos carros antigos, será disparado um alerta no quadro de instrumentos”, diz o executivo.
Como saber se o motor está na temperatura certa?
Os especialistas e engenheiros são quase unânimes em dizer que dificilmente a ventoinha dá defeito. Ou seja: o não funcionamento da peça em uma situação de altas temperaturas no conjunto motriz pode ter outras razões.
“O pior problema de uma ventoinha é não entrar em operação, o que pode ocorrer por um problema no fusível, em conexões elétricas ou no próprio motor, e o motorista vai perceber sempre de forma impactante”, explica Erwin, da SAE.
Entre esses alertas, além da luz de temperatura acesa no painel de instrumentos, outros sinais de que o carro está em risco de superaquecimento é o vapor de água saindo pelo capô do veículo ou quando surgem ruídos anormais vindos no interior do bloco, o popular “motor rajando”.
Além disso, a raiz do problema pode estar no sistema de arrefecimento. O uso de fluidos não especificados e a falta de manutenção preventiva – verificação de vazamentos e de dutos entupidos – podem ser as causas para um aquecimento do powertrain.
O erro mais comum nos veículos neste aspecto é o uso de água para completar o nível, seja no radiador ou no reservatório. O sistema foi projetado para receber fluidos aditivados específicos recomendados pela fabricante e não água comum.
“A água comum vai corroer internamente o radiador e levar a um processo de corrosão, além de não fazer a troca térmica correta. Desta forma, a ventoinha vai trabalhar cada vez mais, consumir mais energia e o carro vai consumir mais combustível”, alerta Marc Reydams.
A médio e longo prazos, essa prática levará as paredes internas do radiador a perderem capacidade de troca térmica devido à corrosão. O que aumenta o risco de entupir o sistema e, em casos extremos, danificar o motor.
Novos materiais e tecnologias
Mesmo nessas condições extremas, a ventoinha não chega a ser sobrecarregada. Até porque os eletroventiladores têm recebido tecnologias que prometem aumentar sua vida útil de cinco a sete vezes mais, segundo os especialistas do setor.
Uma dessas inovações está nas ventoinhas sem escovas, chamadas brushless. Esse tipo de equipamento é de 10 a 15 kg mais leve e elimina o contato físico entre as escovas e o motor. O gerenciamento do sistema é feito por meio de um software.
“A tecnologia faz com que a vida útil da peça seja maior e aumenta a eficiência, com redução do consumo de energia que vem do alternador. Assim, o carro consome menos energia para fazer o sistema de arrefecimento funcionar”, explica Marc.
Outra evolução nas ventoinhas está no seu desenvolvimento e construção. Um aspecto importante do item é o fluxo de ar que a peça transmite para o radiador. Com testes em túneis de vento, as hélices do eletroventilador são desenvolvidas de maneira específica para cada projeto de automóvel e conjunto mecânico.
“É preciso ter uma hélice que seja a mais eficiente possível para aquela aplicação. Trata-se de uma tecnologia chamada flex blade, cujas hélices não são uniformes. São adaptadas para um melhor fluxo de ar possível e desenvolvidas seguindo os critérios dos clientes”, explica o executivo da Brose.