O consórcio é uma modalidade de crédito, um tipo de financiamento que cresceu bastante nos últimos anos por ter vantagens como o fato de não ter juros.
Na prática, o consórcio é uma poupança programada em que o consumidor adquire uma cota e participa de um grupo para aquisição de um carro por meio de pagamentos mensais em um período preestabelecido.
As parcelas pagas mensalmente pelos clientes formam o saldo financeiro para a realização das assembleias do grupo.
Devido à alta taxa de juros existente no Brasil, bancos e financeiras praticam juros elevados nos contratos de financiamento de veículos. Em março de 2024, a taxa básica de juros brasileira (Selic) fechou em 11,24%, mesmo em queda, uma das mais altas do mundo.
Já o consórcio não trabalha com juros e as administradoras cobram uma taxa de administração, que é de cerca de 15% durante toda a duração do consórcio. A média de tempo é de 80 meses (seis anos e meio), segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), portanto a taxa média ao mês do consórcio é de 0,19%, enquanto um financiamento tradicional de veículo tem taxa média de juros de 2,17%, segundo o Banco Central.
Atualmente, é possível fazer um consórcio tanto de um modelo específico quanto por um valor exato de carta de crédito e permite a aquisição tanto de modelos zero-km quanto seminovos, com até três anos de uso.
Em 2023, houve um crescimento de 13,3% no volume de cotas de consórcios de veículos leves. Foram vendidas 1,7 milhão de cotas ante 1,5 milhão do acumulado de 2022.
Carro de consórcio é pago com cartas de crédito
O total de créditos disponibilizados no ano passado foi de R$ 38,84 bilhões, com 636.002 contemplações. Ao analisarmos o volume de vendas de automóveis em 2023 (1.720.834), segundo a Fenabrave, é possível chegar à conclusão de que 37% das vendas de carros no Brasil podem ter sido por carta de crédito. É um número expressivo, mas é uma suposição, pois também há um volume importante de carta de crédito que é utilizado na compra de modelos seminovos.
“O setor também foi impulsionado pela taxa de juros elevada e pelo aumento do rigor para a aprovação de crédito. As administradoras de consórcio são menos rigorosas na aprovação de um novo consorciado e isso sempre foi um atrativo para novos clientes”, diz Rossi.
O grupo Disal, um dos principais grupos de consórcio de automóveis, credita o crescimento desse mercado à digitalização. “Investimos em tecnologia para digitalizar nossos processos e reduzir os prazos de atendimento aos clientes e atraímos clientes de diversas faixas etárias e poderes aquisitivos”, afirma o CEO, Fabio Augusto de Souza. O grupo Disal comercializou R$ 4,5 bilhões em venda de créditos de consórcio somente de automóveis.
“O cliente pode gerenciar o seu grupo de consórcio por aplicativo no smartphone, onde pode ofertar lances, acompanhar assembleias, obter código de barras para boletos e dar início ao processo de contemplação para faturar o bem em alguns cliques, obtendo expressiva redução dos prazos de aprovação de crédito e faturamento do automóvel”, afirma Souza.
Consórcio de carro é para todos?
É válido ressaltar que o consórcio para aquisição de um automóvel só é recomendado caso o consumidor não tenha necessidade de adquirir o bem de forma imediata. Portanto, quem optar por um consórcio não pode ter pressa na conquista do carro novo.
“Os grupos de consórcio são em maioria de longa duração, cerca de 80 meses, e o cliente deve estar ciente de que pode ser contemplado no primeiro mês, no fim do contrato ou por meio de um lance”, explica Rossi.
A Abac orienta que o cliente só confie em administradoras de consórcio devidamente registradas e reguladas pelo Banco Central e destaca que no site oficial do banco há a relação de todas as empresas autorizadas a operar grupos de consorciados no Brasil.
Como fazer um consócio de carro
- Antes de adquirir uma cota, cheque se a administradora é autorizada a atuar pelo Banco Central do Brasil (bcb.gov.br) ou pela Abac (abac.org.br).
- No contrato, preste atenção em valor do crédito, duração do grupo, taxa de administração e todas as despesas que serão cobradas.
- E verifique as regras de contemplação. Aliás, esse é o maior ponto negativo do consórcio: você não leva o carro no ato, como no financiamento.
- O carro só sera entregue por um sorteio e por lance, cujas regras estão definidas também no contrato.
Caso você não tenha pressa para adquirir o seu carro novo, o consórcio pode ser uma boa opção. “É uma alternativa viável para todos os perfis de clientes, desde aqueles que não tiveram o financiamento aprovado até aqueles que pretendem trocar de carro, mas não têm urgência para isso”, diz o CEO da Disal.
O executivo salienta ainda que o fato de o consorciado poder ofertar lances para adquirir a carta de crédito é mais uma vantagem do consórcio. “No caso daqueles que querem trocar de carro, eles podem oferecer o carro usado como lance e conseguir a contemplação. Isso é uma prática comum na Disal por trabalharmos com mais de 400 concessionárias parceiras que cuidam da revenda desses veículos”, afirma Souza.
Outra possibilidade de contemplação é por meio do sorteio que é realizado mensalmente pela extração da loteria federal, para garantir a idoneidade de todos os premiados.
A Abac ainda ressalta que após a contemplação o cliente pode utilizar 10% do valor da carta de crédito para quitar as despesas inerentes à aquisição do novo carro como seguro, taxa de transferência e licenciamento.
E para desistir de um consórcio?
Caso o consorciado tenha dificuldade de honrar com os pagamentos das parcelas, há algumas alternativas. A primeira é tentar diminuir o valor da carta de crédito para que a parcela também reduza e assim possa se encaixar em seu orçamento. E, caso essa alternativa não seja viável, a indicação da Abac é que o consorciado transfira o contrato para outra pessoa, que deve pagar os valores já pagos para o cliente que pretende sair do grupo.
Se a única alternativa é a desistência, o cliente é excluído do grupo, mas continua participando dos sorteios para receber os valores devidos e dependendo do contrato assinado com a administradora pode ter de pagar uma multa rescisória.
O melhor é só entrar em um consórcio se pretende concluir o pagamento de todas as parcelas. Os especialistas aconselham ainda que o ideal é se planejar antes de entrar em um grupo para dar lances, os quais dobram a chance de ser contemplado mais cedo e “poder usufruir do novo carro pagando uma espécie de financiamento sem juros”.
Confira as principais diferenças entre o financiamento e consórcio
Financiamento | Consórcio |
Juros de R$ 1,60% a 1,99% mensais | Não tem juros |
Taxa de abertura de crédito: varia de R$ 500 a R$ 1.000 | Taxa de administração, fundo de reserva e taxa de adesão: 0,8% mensais |
O veículo é retirado na hora | O veículo pode demorar a ser retirado |
Caso fique inadimplente, o cliente pode ter de devolver o carro que passou por alta depreciação, que é a sofrida logo após a retirada do veículo, ou seja, o prejuízo é bem maior do que no consórcio | Em caso de desistência ou falta de capacidade de pagamento do consorciado, ele não recebe todo o dinheiro de volta, mas seu prejuízo é menor em relação ao financiamento |
No caso da aquisição de um carro de R$ 60.000 em 60 parcelas, o valor médio das mensalidades será de R$ 2.007,27. Ao final, o automóvel custará R$ 120.420 | No caso da aquisição de um veículo de R$ 60.000 em 60 parcelas, o valor médio das mensalidades será de R$ 1.208. Ao final, o automóvel custará R$ 72.501 |