Não é raro ver alguém dirigindo com o cachorro no colo ou solto pelo carro. Você pode não ver nada de mais nisso, mas essa atitude pode representar um risco para sua segurança – e seu bolso. Assim como as pessoas, seu animal de estimação precisa andar corretamente dentro do veículo para não causar acidente nem levar multas.
“É necessário que o cão esteja devidamente acomodado e que não impeça a visibilidade do motorista. É por isso que eles não podem andar no colo”, diz Monica Grimaldi, advogada especializada em legislação sobre animais.
Ela explica que levar um animal fora do veículo, como na caçamba de picape, é infração grave, com direito a 5 pontos na carteira e multa de 127,69 reais. O mesmo vale se ele andar com a cabeça para fora da janela. Por isso resolveu carregá-lo no colo ou à sua esquerda, certo? Ainda assim pode ser multado em 85,13 reais, além de ganhar mais 4 pontos.
Pensando no bem-estar de Tib, seu cão da raça teckel arlequim, a estudante Amanda Braido carrega-o de um modo que não é o mais recomendado. “Ele vai no colo de quem está no banco traseiro. Já tentamos outros métodos, mas não deram muito certo. Assim ele fica mais calmo”, diz ela. O preço de Tib ficar mais calmo pode ser alto. Para cães do seu porte (ele pesa 6,5 kg), o ideal é uma caixa ou cesto de transporte, que deve ser fixada com o cinto ou presa atrás dos bancos dianteiros. E nunca se deve colocá-la no porta-malas de um sedã, que é todo fechado.
Qual o melhor lugar para transportar animais no carro?
Para a diretora presidente da Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), Izabel Cristina Nascimento, o melhor seria nem mesmo usar o porta-malas de hatches ou peruas. “Prefira transportar o cão, de qualquer porte, no banco traseiro, que é a área menos afetada em caso de acidentes.”
Segundo a Royal Society for the Prevention of Accidents, entidade britânica que visa prevenir diversos tipos de acidentes, uma batida a 50 km/h faria um cão de 22,5 kg ser atirado contra o motorista com peso equivalente ao de nove homens de 76 kg, ou seja, 684 kg. No caso de Tib, seriam 197,6 kg. Assim, mantê-lo preso é bom para todos. Apesar de ser uma opção melhor que o colo, entretanto, a coleira comum presa ao cinto de segurança do carro é um hábito corriqueiro, mas perigoso, pois pode enforcá-lo em uma batida ou freada forte. Por isso, o cinto canino é o mais indicado para cães de médio e grande porte.
Um cachorro não atrapalha o motorista apenas porque pode atingir alguém numa freada. Ele pode obstruir sua visão ou desconcentrá-lo (pulando de seu colo, por exemplo) e provocar um acidente. Então, mantenha-o sempre preso. “Se o cão já foi condicionado desde pequeno a andar de carro, basta o cinto. Caso contrário, coloque-o em uma caixa de transporte apropriada”, diz Cyntia Peixoto, sócia da Clínica Veterinária Pelo&Pena, especializada em bem-estar animal. “A caixa de transporte ideal tem de ser grande o suficiente para que o bichinho fique de pé dentro dela e possa dar uma volta inteira”, diz Monica.
Há casos em que o cão é tão grande que não há caixa que o comporte ou que caiba no veículo. Para esses, recomenda-se o cinto canino.
“Mas, se for um animal muito grande, use uma grade divisória entre o motorista e o cachorro, deixando-o no banco de trás e com o cinto de segurança”, afirma Cyntia. Outros animais, como gatos, devem ser levados em caixas. “Gatos odeiam qualquer tipo de mudança e, por isso, precisam ser transportados sempre dentro das caixas especializadas para os felinos. Já aves, hamsters e outros animais pequenos devem estar também dentro de gaiolas específicas para a espécie, cobertas com um pano fino, para diminuir o estresse”, diz Izabel.
Outra preocupação do dono é com o calor dentro do carro, especialmente para os cães. “Mantenha o interior bem ventilado e nunca o deixe dentro do veículo sob sol forte. Os sintomas de uma hipertermia são respiração acelerada, salivação intensa, falta de coordenação, perda de consciência e até mesmo convulsão. Se isso acontecer, molhe rapidamente o animal e não dê antitérmicos. Apenas leve-o logo ao veterinário”, afirma Monica.
Cuidado com as unhas dos animais
Dona de Bella, uma golden retriever de 2 anos, Maysa de Mattos Pimenta segue todas as recomendações à risca. “Ela vai no porta-malas da minha Toyota Fielder. Instalamos a grade divisória que vai do teto até o piso e uma proteção de borracha no assoalho”, afirma. A preocupação aqui não é higiênica. Cyntia explica por quê: “O carpete pode provocar alergia em alguns animais e é difícil de desinfetar. Também há o risco de acidentes com as unhas do animal, que podem ficar presas”.
E o que fazer quando o animal costuma vomitar? O jornalista Geraldo Tite Simões teve esse problema com sua cadela Valentina. “Na primeira viagem, ela vomitou umas 14 vezes. Então me indicaram um anestésico para cães. Ela dormiu o trajeto todo, mas depois mal se mantinha em pé.” Segundo Cyntia, Geraldo ser arriscou demais, pois nenhum medicamento deve ser administrado sem uma consulta ao veterinário. “Cada animal precisa de uma dosagem específica de remédio, e não necessariamente de anestésico. É comum darem Dramin, mas o resultado não é o mesmo para todos. Tem cão que não apresenta efeito algum e há animais grandes que necessitam de dosagens menores que os pequenos.”
Os cuidados principais
Nas viagens, evite alimentar o animal até quatro horas antes de sair, para ele não passar mal. Prefira andar à noite ou bem cedo, por causa do calor. Em trajetos longos, planeje paradas para o animal fazer suas necessidades. E cuidado com o ar-condicionado, que pode provocar bronquite alérgica ou problemas respiratórios, devido à alteração de temperatura.
E se a polícia te parar?
Numa blitz, é possível que o policial peça os documentos dos animais, apesar de na prática isso raramente acontecer. Cães e gatos devem ter a carteirinha de vacinação em dia, mas também é possível pedir ao veterinário um atestado de saúde. Nas viagens ao exterior, alguns países vizinhos exigem um certificado do Ministério da Agricultura comprovando o bom estado de saúde do animal.
OPÇÕES PARA O PASSAGEIRO ANIMAL
Cinto de segurança
– Indicado só para cães, entre 5 e 50 kg
– O cinto deve envolver o peito, as costas e os ombros do cão. Além de absorver o impacto, deve trazer opções de fixação no cinto do carro ou nos ganchos Isofix.
Grade divisória
– Indicada para cães acima de 25 kg
– Deve ser colocada para separar os passageiros do animal de estimação. É ideal para os cães mais irrequietos, que não se adaptam à caixa de transporte ou ao cinto canino.
Caixa de transporte
– Disponível para animais de até 50 kg
– Veterinários recomendam a caixa para cães de até 25 kg – acima, o cinto ou a grade são mais indicados. Deve ser fixada no cinto ou presa atrás do banco dianteiro.