Corrente ou correia? Veja as diferenças, como cuidar e quais carros usam
Duas peças distintas que cumprem a mesma função. Uma é de borracha e a outra de metal. Conheça tudo sobre cada uma e como cuidar para não ter prejuízos
Quando falamos de corrente ou correia dentada o assunto pode render mais do que muitas discussões de bar. Há quem defenda a peça metálica, outros preferem a praticidade da borracha. no geral não é que uma seja melhor do que a outra, apenas são peças com a mesma função, mas adaptadas para contextos diferentes.
O que é e para que serve a corrente e correia?
Se você não conhece a funcionalidade dessas peças, saiba que elas são muito importantes para o funcionamento do motor do seu carro. A corrente ou a correia dentada são responsáveis pelo sincronismo entre o motor (virabrequim, bielas e pistões) e o cabeçote (onde estão as válvulas de admissão e escape).
O sincronismo correto permite que as válvulas se abram no tempo certo, sem que as válvulas estejam abertas no momento que o pistão sobe para comprimir a mistura de ar e combustível ou para expulsar os gases, por exemplo.
Caso a corrente ou correia arrebente, o problema é garantido. O sistema passa a funcionar de maneira descoordenada, podendo até se chocar e comprometer o funcionamento do motor, necessitando de uma retífica.
Correia dentada e corrente são a mesma coisa?
Não, elas não são a mesma coisa, porém tem a mesma função no carro.
A corrente é feita de metal, é mais pesada e gera um ruído maior dentro do motor. A peça era usada nos carros de décadas passadas, como nos anos 1970 e 1980, e foi caindo em desuso com o tempo, apesar de ser bem mais resistente. Se olhar para uma, verá que ela se assemelha muito a uma corrente de bicicleta ou motocicleta.
A solução da indústria para as desvantagens da corrente metálica foi criar uma peça mais leve e barata. Assim surgiu a correia dentada feita de borracha. Ela é mais leve e silenciosa, mas em contrapartida costuma durar 60.000 km, em média, contra os quase 200.000 km da corrente.
Porém, em projetos modernos, como os dos motores da Volkswagen, Ford e Chevrolet, a correia tem duração maior, podendo passar dos 100.000 km. O segredo foi deixar essa correia banhada em óleo, o que pode levar a outros problemas que veremos mais adiante.
Apesar da correia dentada ter sido a principal escolha da indústria automotiva nos últimos anos, a corrente está voltando a ser usada. O que determina a escolha entre uma e outra é o projeto do motor e o que a montadora quer com aquilo.
Por ser mais leve, a correia dentada ‘rouba’ menos potência do motor, resultando em melhor desempenho e menos emissões — algo que toda montadora procura atualmente. Além disso, o kit para troca de correia dentada é muito mais barato.
Em uma pesquisa rápida no Mercado Livre, podemos encontrar o kit (composto pela correia e tensores) para o Volkswagen Polo Track 1.0 por R$ 430.
Outras montadoras preferem utilizar as correntes metálicas. O ruído elevado já não é um problema tão grande, já que um bom isolamento acústico faz com que ele mal seja percebido dentro da cabine.
Somado a isso elas também são mais robustas e resistentes. Diferente das correias de borracha, são raros os casos onde elas arrebentam (no pior dos casos, pode ocorrer um esticamento), o que garante a integridade do motor e passa mais confiança para o proprietário, mesmo que isso não dispense as revisões regulares para saber se não existe nenhuma folga no sistema.
Porém, mesmo que demore mais de 150.000 km (ou mais de 200.000 no caso dos motores Firefly da Fiat) para trocar a corrente, quando precisar fazê-la, não será barato.
O Hyundai HB20 1.0 com motor Kappa (aspirado) é um dos carros populares que utilizam corrente metálica para fazer o sincronismo das válvulas e seu kit pode custar mais de R$ 1.500.
E a correia banhada a óleo?
Essa foi a solução usada na indústria para aumentar a durabilidade da correia dentada. Ao banhá-la em óleo lubrificante, sua expectativa de vida quase dobra e, dos meros 60.000 km, podem facilmente passar dos 100.000 km. No caso do Ford Ka com motor 1.5 Dragon, a promessa é que a correia banha óleo durasse até 240.000 km.
Mas existe um porém. É preciso ficar atento ao óleo lubrificante usado no seu motor. Por serem de borracha, a correia dentada é sensível a produtos químicos e usar óleo com especificação diferente da descrita no manual, além dos problemas no motor, irá degradar a peça mais rapidamente, aumentando — e muito — o risco de rompimento.
Antes de se romper, porém, a correia dentada pode se esfarelar e seus pedaços acabarão entupindo os dutos de passagem do óleo do motor. Assim, com menos fluxo de óleo, o motor pode se fundir antes que a correia arrebente. Será um reparo igualmente caro.
No caso dos Chevrolet Tracker e Onix, como o que tínhamos no Longa Duração, o óleo usado tem que ter o selo de aprovação Dexos 1 Gen 2. Exija sempre o óleo especificado no manual do carro quanto a viscosidade, norma SAE e eventuais padrões de aprovação do fabricante.
Não confundir com correia do alternador!
Os nomes são semelhantes, mas a função no carro é diferente. As correntes e correias de comando trabalham para manter a sincronia dos pistões e válvulas. No caso da correia do alternador (ou poly-V), ela tem a função de transferir a força do motor para o alternador e gerar energia.
Essa energia gerada é usada para carregar a bateria de 12V e alimentar os sistemas elétricos do carro. Portanto, não confunda!
Quais são os problemas que a corrente e a correia podem apresentar?
Se você comprou um carro 0km que usa corrente metálica, dificilmente terá algum problema enquanto estiver com o carro. Muitas vezes, ela só começa a apresentar defeitos na casa dos 150.000 km, ou seja, depois do primeiro dono. Em todo caso, sempre peça ao seu mecânico para olhar a corrente durante as revisões programadas.
No caso da corrente, dificilmente ela terá sinais visíveis, como rachaduras ou partes soltas. No geral, ela apresenta folgas, ficando mais frouxa e esticada no sistema, fazendo com que o funcionamento dos pistões e válvulas perca sincronia e o ruído mude.
Se isso acontecer, o carro te dará sinais claros. O motor vai apresentar um barulho metálico anormal, que se modifica à medida que as rotações sobem. Você também notará uma perda de potência e aumento no consumo.
Já a correia dentada — banhada a óleo ou não — traz sinais mais visíveis de desgaste. Você pode tirar a capa do motor e procurar por sinais como dentes danificados, ressecamento ou rachaduras. Se encontrar, procure um mecânico de confiança para fazer a troca, já que o risco de rompimento é grande.
Os sinais de desgaste também podem ser ouvidos. Fique atento para qualquer barulho agudo e estranho vindo do motor, que aceleram conforme as rotações aumentam. Eles indicam que a peça já está desgastada e necessitando de uma troca imediata.
Para evitar maiores dores de cabeça, sempre peça para checarem o estado da corrente nas revisões periódicas. Também evite fazer o carro pegar no tranco e usar produtos abrasivos ao limpar o cofre do motor, já que diminuem a vida útil da peça.
Caso transite por muito em estradas de terra ou em áreas de mineração, troque a correia com mais frequência, pois a sua durabilidade também é reduzida nessas condições.
Como preservar as correntes e correias?
Para as correntes e correias banhadas a óleo, utilize sempre o lubrificante especificado no Manual do Proprietário. O produto certo vai garantir não só o funcionamento ideal, como também não vai degradar a peça, fazendo com que ela fique frágil e arrebente com mais facilidade.
Além de usar o produto óleo correto, também faça a sua troca, bem como a do filtro, na período estipulado. Isso garantirá a melhor qualidade não só das correntes, como de todo o sistema de lubrificação do seu motor como um todo.
Muitos especialistas aconselham a não fazer o carro pegar no tranco, já que isso gera uma carga excessiva nas correntes e correias. Outro conselho é fazer as trocas de marcha sempre no tempo certo e evitar cantar pneus – o que força, em cadeia, a junta homocinética, embreagens e a correia.
Quais carros usam correia dentada e corrente?
Se está na dúvida entre qual carro utiliza corrente e qual tem correia dentada, fizemos um apanhado com os 20 veículos mais vendidos do país no primeiro semestre de 2024, segundo a Fenabrave.
Correia Dentada
- Volkswagen Polo
- Chevrolet Onix*
- Fiat Mobi
- Volkswagen T-Cross
- Chevrolet Onix Plus*
- Chevrolet Tracker*
- Volkswagen Nivus
- Volkswagen Saveiro
- Fiat Toro 2.0 turbo diesel
- Jeep Compass 2.0 turbo diesel
*correia dentada banhada a óleo
Corrente
- Fiat Strada
- Hyundai HB20
- Fiat Argo
- Hyundai Creta
- Nissan Kicks
- Renault Kwid
- Renegade
- Fiat Toro 1.3 Turbo
- Jeep Compass 1.3 e 2.0 Hurricane
- Toyota Hilux
- Honda HR-V