Peças de segunda mão: usadas, baratas – e com garantia
Com a chegada das peças de segunda mão rastreadas e com garantia, é possível economizar até 86% na manutenção. E dentro da lei
O motor do carro fundiu ou o para-choque amassou numa batida. A primeira ideia de muita gente nessa hora é recorrer ao velho desmanche para escapar do alto preço desses componentes vendidos nas concessionárias.
Só que aí vem o grande risco de comprar um item roubado e a falta de garantia contra defeitos. Mas esse impasse agora tem uma solução: as peças usadas fornecidas por uma desmontadora certificada, com garantia.
“Desmontadora” é o nome da empresa que desmonta carros segundo a lei federal 12.977 e a estadual 15.276 (de São Paulo), ambas de 2014.
Elas estabeleceram as regras para a legalização dos desmanches, que possibilitam rastrear de onde vêm os componentes de segunda mão e coibir furtos e roubos. E o mais importante: elas permitem fazer um ótimo negócio.
Ao comparar o preço da peça usada com sua equivalente nova, descobrimos uma economia de até 86%. “O custo das peças novas no Brasil é realmente abusivo. Fizemos um estudo a respeito e comprovamos que, se montarmos um carro comprando peças novas, o veículo custará o triplo”, explica Fabio Frasson, superintendente da Renova Ecopeças, a maior desmontadora do país, ligada ao grupo Porto Seguro.
A economia proporcionada por esses componentes usados, porém, tem limite. Por lei, só podem ser revendidos itens que não sejam ligados à segurança.
“São cerca de 40 peças que podem ser revendidas”, diz Sérgio Fabiano, gerente de serviços automotivos do IQA (Instituto da Qualidade Automotiva), que vem certificando algumas desmontadoras. Entre os itens à venda estão partes de lataria, motor, câmbio ou escapamento.
Essa nova regulamentação vai mais longe. Estabelece também como deve ser o desmonte dos veículos, de que maneira as peças devem ser descartadas, os documentos necessários para legalizá-las e até o procedimento para rastreá-las.
O rastreamento é feito por meio de um selo holográfico fornecido pelo Detran de cada estado. No caso de São Paulo, há um QR Code (código de barras em duas dimensões) e um aplicativo que permite ao consumidor descobrir no seu celular de que carro veio a peça.
“O QR Code vem numa etiqueta autodestrutiva. Não dá para tirar. Para cada QR Code que o Detran fornece, há um cadastro. E toda essa identificação da peça está na nota fiscal”, diz o superintendente da Renova.
Além da Renova, ainda há poucas desmontadoras em atividade no país, como a JR Diesel, especializada em caminhões. Mas isso está mudando aos poucos.
“Dos 6.000 desmanches que existiam em São Paulo, 1.000 foram fiscalizados, dos quais só 300 passaram na peneira. Essa foi a primeira rodada de fiscalização. Talvez os outros 5.000 já estejam tentando se adaptar”, afirma Frasson.
A razão da dificuldade de regularização está no custo alto para o desmanche se transformar em desmontadora. O processo leva de seis a sete meses e a empresa precisa ter toda uma estrutura especial, incluindo piso todo de epóxi, dar tratamento aos resíduos, como o óleo, e ela ainda precisa de um responsável técnico, que é quem vai dizer se a peça pode ou não ser revendida.
“Trabalhamos com três tipos: a peça A, que está impecável; a B, com pequenas avarias que não comprometem seu uso; e a C, que vira sucata. E cada item vendido tem de ter, por lei, garantia de três meses.”
Peças | Usadas | Novas | Economia |
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coletor de escapamento de Corolla 2012 | R$ 180 | R$ 1.324 | 86% |
painel de Palio Attractive 1.0 2013 | R$ 229 | R$ 1.231 | 81% |
porta traseira de Subaru Impreza 2009 | R$ 650 | R$ 2.864 | 77% |
motor de Nissan Versa 2014 | R$ 4.200 | R$ 14.560 | 71% |
módulo de câmbio do Livina 2014 | R$ 1.897 | R$ 5.791 | 67% |
motor do vidro elétrico de Voyage 2013 | R$ 65 | R$ 157 | 59% |
radiador de Hyundai i30 2009 | R$ 582 | R$ 1.401 | 58% |
para-choque traseiro de Mini Cooper 2013 | R$ 2.292 | R$ 3.794 | 40% |
interruptor de farol de Onix LT 1.0 2014 | R$ 85 | R$ 126 | 33% |
RECICLAGEM VIRA NEGÓCIO
As vendas das peças usadas ao consumidor não são a única fonte de renda das desmontadoras.
“Partes metálicas que não servem são revendidas a siderúrgicas, que as utilizam para fazer vergalhões. Os amortecedores nós vendemos de volta aos fabricantes. Com isso, eles tiram de circulação as carcaças, que poderiam ser usadas para fazer peças recondicionadas sem segurança”, diz Fabio Frasson, da Renova.
“Também vendemos os pneus e as baterias. Pela lei do descarte, quem produz esses produtos precisa tirar de circulação os antigos para poder comercializar os novos. Chamamos isso de logística reversa. Por isso, as empresas produtoras de pneus, baterias e amortecedores são hoje nossos maiores clientes.”