Óleo inadequado pode transformar seu carro em uma bomba: saiba como prevenir
Usar exatamente o óleo previsto no manual do carro nunca foi tão importante: o preciosismo vai, sim, preservar a vida útil do motor
Turbo, variação nos comandos, injeção direta. Blocos compactos, peças menores e mais leves. Esses são só alguns movimentos das fabricantes de veículos na busca por motores mais eficientes. Todo um trabalho de engenharia que pode ir pelo cárter abaixo com um simples óleo não adequado para aquele propulsor.
A questão é até natural. Os motores evoluem para gerar menos atrito entre as partes metálicas e, consequentemente, os óleos se aperfeiçoam juntos. Além do que, todo powertrain e carro desenvolvidos demandam uma lubrificação específica, trabalho feito em parceria pelas montadoras e produtoras de lubrificantes. Daí o risco de se usar um óleo qualquer.
Ao mesmo tempo, a tendência por motores compactos trouxe componentes internos igualmente menores. O que implica diretamente na questão principal atualmente da lubrificação: a viscosidade. O peso do óleo é primordial para fazer com que ele percorra e preencha corretamente as partes do conjunto mecânico.
“Se formos pensar, o objetivo do lubrificante é separar as peças em movimento. Quanto mais distantes essas peças estiverem, melhor”, observa Fernanda Ribeiro, gerente de produto da Iconic, empresa responsável pelas marcas Ipiranga e Texaco.
“Só que nos motores menores você tem necessidade de menos viscosidade, seja para passar pelas canaletas, seja para circular dentro de um motor compacto”, completa.
Milk-shake de caroço
A executiva, inclusive, recorre a uma analogia interessante para ilustrar como essa questão funciona. Colocar um óleo mais grosso e pesado do que o pedido vai gerar um estresse a mais no motor. “Costumo comparar isso como querer beber milk-shake com canudo de refrigerante.”
O problema é que a bebida pode se tornar um milk-shake de caroço e um grande drama quando o motor recebe produto cuja viscosidade não tem seus índices respeitados. Especialmente no caso desses conjuntos mecânicos mais modernos.
“Tais motores trabalham com folgas menores. Então, se o dono não obedece o índice de viscosidade, pode ter problemas”, explica Fernando Mendes, CEO da Widmen, rede de lojas de serviço e reparação automotiva do Rio de Janeiro.
Os problemas não são poucos. A viscosidade maior fará as peças fazerem mais esforço – o que ainda sobrecarrega periféricos, como a bomba de óleo –, enquanto a menor que a especificada aumentará o atrito entre as partes metálicas.
Sem falar que o lubrificante foi projetado para suportar as temperaturas de operação daquele propulsor. Sem essas propriedades corretas, o desgaste dos componentes inevitavelmente será acelerado.
Correias e velas danificadas
Contudo, os efeitos do lubrificante errado vão além. Um deles é o desgaste precoce da correia de comando banhada a óleo, que ocorre principalmente devido à incompatibilidade química entre o produto utilizado fora das especificações e o material de composição da peça.
Nos motores turbinados, a conta também vai ficar mais cara. Segundo Sandro Cattozi, especialista em lubrificantes automotivos da Raízen, que representa a Shell, um problema que afeta os motores turbo de injeção direta são as quebras de velas de ignição, bielas e pistões.
“Essas quebras são causadas pelo fenômeno da pré-ignição do motor em baixa rotação, que consiste na ocorrência de uma combustão involuntária fora do tempo do motor, que força o pistão contra seu movimento natural”, diz o executivo.
Intervalos de trocas
Os prazos de trocas também precisam ser respeitados conforme a recomendação da fabricante. Em geral, dentro da garantia do veículo, os intervalos são a cada 10.000 km. Engenheiros e especialistas, contudo, recomendam que, passada a cobertura de fábrica, a substituição seja a cada 5.000 km.
Fernando, da Widmen, defende, inclusive, que os motores atuais deveriam ter seus intervalos de revisão e de troca de óleo revistos: não mais por quilometragem, mas por tempo e por hora de motor. Principalmente nas grandes cidades, com trânsito pesado, onde o motor trabalha em situações desfavoráveis – um dos casos de uso considerado severo.
“Hoje você leva 45 minutos para percorrer um trecho que você levava 15 minutos tempos atrás em uma cidade como o Rio. Os grandes centros urbanos implicam tempos de deslocamento diferentes. Se a manutenção fosse mais atenta às horas de motor como é na aviação, ajudaria muito a poupar os motores”, acredita.
Até porque óleo velho também vai causar problema no motor. O mais comum, formação de borra (partes do óleo se transformam em uma espécie de graxa), compromete ainda mais a lubrificação e acentua o desgaste do conjunto mecânico. O motor pode travar. Sem falar no aumento do consumo de combustível, também ocasionado pela viscosidade incorreta.
“Como referência, utilizando os métodos-padrão para medir o consumo de combustível, um motor que tenha a indicação do uso de um óleo com viscosidade 0W e o motorista opte por utilizar um óleo com viscosidade 10W pode causar um aumento no consumo de combustível de cerca de 3 a 4%”, alerta Sandro.
O consumo é um dos poucos efeitos perceptíveis do uso errado das especificações do óleo. Em geral, os danos são invisíveis aos olhos do motorista no dia a dia. Curiosamente, em motores mais tecnológicos, as consequências podem surgir de forma mais rápida.
“Hoje esse intervalo entre se colocar um óleo errado e ter um problema está cada vez mais curto, até por conta da dinâmica das novas tecnologias, como injeção direta e correia banhada a óleo. Antigamente, se tinha problema após quatro trocas erradas”, ressalta Fernanda Ribeiro, da Iconic.