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Longa Duração: o desmonte do Chevrolet Cruze

Terminado seu mandato, na hora da prestação de contas o Cruze mostra integridade e uma folha corrida imaculada

Por Péricles Malheiros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 Maio 2018, 16h46 - Publicado em 5 dez 2012, 15h14
Chevrolet Cruze
Os 60 000 km não deixaram marcas no Cruze (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

A capa da edição de setembro de 2011 anunciava o teste exclusivo e antecipado do Cruze no Brasil. O texto deixava claro: “O modelo tem importância estratégica para a marca”.

E isso não valia (e vale) apenas para o Brasil, pois o sedã é global e atende a outros mercados importantes, como o norte-americano e o europeu.

Cercado de expectativas e dúvidas, o Cruze mal havia chegado às concessionárias e nós adquirimos um para a frota de Longa Duração – ele estreou na edição de novembro de 2011.

A festa de aniversário será especial, com direito a desmonte e recepção de convidados: quem for ao Salão do Automóvel de São Paulo, de 24 de outubro a 4 de novembro, poderá ver o Chevrolet desmontado no estande de QUATRO RODAS.

O “esquenta” dessa festa começa agora, com um resumo desse um ano de convívio e, claro, o resultado da desmontagem.

Os últimos carros da frota de Longa Duração têm deixado clara uma evolução técnica que se traduz em qualidade. Peugeot 3008, Hyundai i30 e JAC J3, por exemplo, arrancaram elogios de Fabio Fukuda, nosso consultor técnico e responsável pelos desmontes.

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Chevrolet Cruze
Estradeiro, o Cruze enfrentou os 1000 km entre São Paulo e Brasília (DF) (Pedro Rubens/Quatro Rodas)

Com o Cruze, a avaliação de Fukuda foi ainda mais positiva. “Foi impossível separar peças reprovadas ou mesmo que mereceriam alguma atenção especial.

O Cruze terminou sua jornada ainda mais íntegro que o i30. Sem dúvida, é a nova referência do Longa Duração em termos de qualidade técnica”, diz.

Antes da desmontagem, Fukuda realiza algumas medições. Uma vez aquecido até a temperatura de trabalho, o motor tem aferidas as pressões de óleo e combustível.

Tudo perfeito: respectivamente 58 psi (a fábrica tolera de 56 a 60) e 24 psi (o mínimo tolerado pela GM é 18,85).

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Ainda é examinada a compressão dos cilindros. “É cada vez mais raro as fábricas divulgarem o valor nominal dessa medição. Mas, quando há algo que comprometa a vedação, surgem variações dos valores obtidos, o que não aconteceu no caso do Cruze”, diz Fukuda.

Na análise, são feitas três medições em cada cilindro e o número obtido foi rigorosamente o mesmo: 160 psi.

A partir desse momento, deu-se início ao desmonte propriamente dito. Retirado o cabeçote, uma grata (e rara) surpresa: tanto a cabeça dos pistões como as câmaras de combustão mostravam baixíssimo índice de carbonização.

A seguir, com a desmontagem do cabeçote, as válvulas de admissão e escape repetiram o desempenho do andar inferior: apresentavam baixíssimo índice de acúmulo de carvão, o que afastava por completo o risco de “vazamento” de compressão por falha de vedação da sede.

“O surpreendente estado de preservação dos retentores de válvulas mostra que resistiram muito bem ao nosso combustível”, diz Fukuda.

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A medição da folga de entrepontas dos anéis (são três em cada pistão) também ajuda a justificar a boa saúde do quatro-cilindros 1.8 flex.

Os ensaios revelaram números entre 0,30 e 0,35 mm no primeiro anel (nominal entre 0,20 e 0,40), 0,55 e 0,60 mm no segundo anel (nominal entre 0,40 e 0,60) e 0,60 a 0,80 mm no terceiro anel (0,25 a 0,75).

Cilindros e virabrequim também foram submetidos a uma criteriosa bateria de exames. Novamente, tudo na mais perfeita ordem: diâmetro, conicidade e ovalização dos cilindros estavam dentro dos limites tolerados pela fábrica.

mapa do cruze
Roteiro do Cruze durante o longa (Reprodução/Quatro Rodas)

Aprovação também para o virabrequim, com moentes, munhões e bronzinas de bielas e mancais dentro das especificações mínimas.

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“As medições são importantes para atestar a saúde ou a condenação dos sistemas de um carro de Longa Duração, mas o exame visual também é fundamental. Nenhum componente interno do motor tinha qualquer sinal de problemas de lubrificação ou mau funcionamento”, afirma Fukuda.

A análise de uma amostra do fluido retirado do câmbio automático de seis marchas com conversor de torque e o perfeito funcionamento da transmissão não indicaram a necessidade de desmontagem do sistema.

“Não havia sinal de partículas metálicas, inclusive no filtro de óleo do câmbio. Mesmo após os 60 000 km, as trocas continuavam suaves e sem indícios de vazamento”, diz o técnico.

O sistema de freios do Cruze encarou os 60 000 km com competência. A única ressalva fica por conta do espelho defletor dianteiro esquerdo. Em ruas de paralelepípedos, vibrou e gerou ruídos desde os primeiros quilômetros até o fim. Nas revisões, as concessionárias até que resolviam a questão, mas o ruído retornava não muito tempo depois.

Porém a rede também merece elogios. Ao substituir as pastilhas de freio na revisão dos 40000 km, a autorizada Itororó poupou os discos.

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“As pastilhas não durariam até a revisão seguinte. Se tivessem sido mantidas, o material de atrito acabaria e os discos ficariam comprometidos.” Discos e pastilhas terminaram o teste dentro da faixa de espessura e empenamento tolerada pela GM.

Robustez é, definitivamente, uma das maiores virtudes do Cruze. Amortecedores, molas, buchas de suspensão e mancais da barra estabilizadora, assim como o motor, chegaram aos 60.000 km vendendo saúde.

A caixa de direção repetiu a boa avaliação final: “Terminais e barras axiais estavam sem folga, assim como os conectores da fiação do motor de assistência elétrica”, diz Fukuda.

Antes do último teste em pista, checamos as condições dos pneus. Prestes a atingir a marca TWI (indicador de nível de desgaste localizado nos canais centrais da banda de rodagem), a ida à pista foi autorizada.

Mas é preciso ressaltar: o par dianteiro estava em melhores condições que o traseiro. Aqui, cabe lembrar um deslize cometido pela rede em todas as revisões.

O rodízio de pneus recomendado no manual indica que os traseiros devem mudar de lado ao ganharem o eixo dianteiro, mas as autorizadas sempre realizaram o rodízio convencional, apenas alterando os da frente com os de trás, sem inversão de lado.

A cada retorno de revisão, durante o check-up dos serviços prestados, Fabio Fukuda reposicionava as rodas de acordo com o indicado pela fábrica. Essa correção constante certamente contribuiu para que os pneus do Cruze chegassem aos 60 000 km.

DEBAIXO DO TAPETE

O sistema elétrico, segundo nosso consultor, tem conectores de boa qualidade e colocados em pontos-chave.

“As travas dos engates dos terminais são confiáveis, não desprendem de maneira aleatória. Plugues em portas, porta-malas e cofre do motor diminuem consideravelmente o risco de danos aos chicotes elétricos, uma vez que facilitam o acesso a esses locais e a retirada de componentes e partes da carroceria no caso de manutenção”, diz Fukuda.

Encerrando a extensa lista de aprovações, nosso consultor destaca o acabamento: “Os plásticos internos são bem fixados e não havia qualquer sinal de poeira ou água por baixo do carpete, o que comprova a eficiência das guarnições de borracha”.

Companheiro de viagem dos 32 motoristas que se revezaram ao seu volante, cruzando cinco estados brasileiros, o Chevrolet Cruze encerra sua carreira em plena forma.

Não é à toa que tenha precisado de pouco mais de um ano para se firmar na posição de terceiro sedã médio mais vendido do Brasil, atrás apenas dos samurais Toyota Corolla e Honda Civic. Os japoneses que se cuidem: tem candidato correndo por fora.

Aprovadas

Essa parada 
vai longe


Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

A manutenção correta aos 40 000 km, quando foram substituídas
as pastilhas dianteiras, poupou os discos. Estes encerraram o teste com espessura suficiente para encarar mais um ciclo
de pastilhas.

Saúde de ferro

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

Há tempos, um motor não chegava aos
60 000 km tão saudável. Cabeçote aberto, as válvulas de admissão e escape apresentaram baixo índice de acúmulo de carvão, sobretudo as de escape, que sofrem uma espécie de efeito autolimpante gerado pelo fluxo dos gases originados da queima do combustível.

Firmeza

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

Sem folgas nos braços axiais nem nos terminais, a caixa de direção também mostrou-se íntegra
no desmonte. o motor elétrico funcionou bem por todo o teste.

Passando a borracha

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

Buchas, pivôs, mancais e terminais chegaram aos 60 000 km em ótimo estado. As suspensões do globalizado Cruze se mostraram bem adaptadas ao asfalto brasileiro. os quatro amortecedores estavam sem indícios de vazamento ou travamento dos componentes internos e nenhuma das molas apresentava sinal de batida de elos.

Acerto cambial

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

A transmissão automática de seis velocidades teve o óleo e o filtro analisados. Ambos estavam isentos de resíduos. o sistema de diagnose eletrônica também varreu a central atrás de registros de erros de funcionamento do câmbio e, de novo, nada foi encontrado. Assim, não havia indicação para que se desmontasse o câmbio.

Caixa forte

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

As guarnições de borracha mantiveram a água e o pó do lado de fora do Cruze. na inspeção visual da carroceria não foram detectados pontos de ferrugem ou trincas.

Centelha longa vida

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

O manual preconiza
a troca das velas após 100 000 km. Isso é muito acima da média (entre 40 000 e 50 000 km). mesmo assim, as do Cruze estavam em ótimo estado, reflexo direto do bom isolamento da câmara
de combustão.

Cabeça limpa

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

Assim como os retentores cumpriram bem o papel de manter o óleo longe das válvulas, os anéis de compressão dos pistões impediram que ele invadisse a câmara. resultado: pistões com cabeça absolutamente limpa.

Atenção

Dupla do barulho

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

Em duas ocasiões, as bieletas plásticas da suspensão foram responsáveis por ruídos na dianteira do Cruze. reapertadas, voltavam a cumprir seu papel de maneira silenciosa.

Rodízio enquadrado

Chevrolet Cruze
(Pedro Rubens/Quatro Rodas)

Os pneus traseiros chegaram aos 60 000 km no limite. É uma boa quilometragem, mas cabe ressaltar que corrigimos o rodízio
de pneus realizado nas cinco revisões, pois nenhuma concessionária respeitou o esquema de troca de posição recomendado pela Chevrolet.

Veredicto Quatro Rodas

Nem os confiáveis Civic e Corolla, que passaram pelo Longa Duração em 2001, arrancaram tantos elogios pelo bom estado geral após o desmonte. Motor e suspensão, ao lado dos itens mais sacrificados pela má qualidade do combustível e do asfalto, foram pontos altos. A rede foi bem, mas pode melhorar: patinou para resolver problemas simples, como o do defletor do freio e o rodízio de pneus, errado em todas as revisões.

Ocorrências

  • 27 km – espelho do freio dianteiro vibrando
  • 85 km – ar-condicionado irregular
  • 4014 km – ar irregular novamente
  • 5796 km – espelho do freio dianteiro esquerdo vibrando novamente
  • 18 709 km – carro puxando para a esquerda
  • 23 394 km – colisão leve. rodas do lado esquerdo e para-lama direito atingidos
  • 32657 km – espelho do freio dianteiro esquerdo vibrando novamente
  • 45619 km – Lâmpada do farol de neblina direito queimada

FOLHA CORRIDA

Tabela de Preço

  • Em novembro de 2011 – R$ 71.900

Quilometragem

  • Urbano: 18.419 km (30,5%)
  • Rodoviário: 41.972 km (69,5%)
  • Tota: 60.391 km

Combustível

  • Utilizamos: 8.474,6 litros de etanol
  • Em reais: R$ 16.528,10
  • Consumo médio: 7,1 km/l

Manutenção (revisão/alinhamento)

  • 10 000 km –
 Nova – 181 reais
  • 20 000 km –
 Anhembi – 468 reais
  • 30 000 km –
 Codive – 352 reais
  • 40 000 km –
 Itororó – 592 reais
  • 50 000 km –
 Aba – 484 reais

Custo por 1 000 km: 325 reais

Extras

  • Par de pastilhas de freio dianteiras – R$ 247
  • Lâmpada de farol de neblina – R$ 190
  • Lâmpada da placa – R$ 5
  • Alinhamento, balanceamento e rodízio – R$ 580

Testes de pista (com etanol)

1.425 km 60.049 km Diferença
Aceleração de 0 a 1 00 km/h  11,9 s 11,6 s +2,52%
Aceleração de 0 a 1000 m  33,2 s 33,1 s +0,30%
Retomada de 40 a 80 km/h (em D) 5,3 s 5,3 s =
Retomada de 60 a 100 km/h (em D) 6,8 s 6,7 s +1,47%
Retomada de 80 a 120 km/h (em D) 9,5 s 8,8 s -7,37%
Frenagem 60 km/h a 0  18 m 16,4 m +8,89%
Frenagem 80 km/h a 0  30,1 m 28,5 m +5,32%
Frenagem 120 km/h a 0  66,1 m 65,8 m +0,45%
Consumo urbano  6,9 km/l 7 km/l +1,45%
Consumo rodoviário  9,8 km/l 9,5 km/l -3,06%
Ruído interno PM (dBA) 39,3 38,8 1,27%
Ruído interno RPM máx. (dBA) 67,2 70,2 4,46%
Ruído interno 80 km/h (dBA) 56,7 57,2 0,88%
Ruído interno 120 km/h (dBA) 66,7 63,9 4,20%

 

Ficha técnica – Chevrolet Cruze

  • Motor: dianteiro, transversal, 4 cil., 1 796 cm³, 16V, flex; Diâmetro x curso: 85 x 88,2 mm; Taxa de compressão: 10,5:1; Potência: 144 / 140 cv a 6 300 rpm; Torque: 18,9 / 17,8 mkgf a 3 800 rpm
  • Câmbio: automático sequencial, 6 marchas, tração dianteira
  • Dimensões: comprimento, 460 cm; largura, 179 cm; altura, 148 cm; entre-eixos, 268 cm
  • Peso: 1 404 kg
  • Peso/potência: 10,1 / 10,6 kg/cv
  • Peso/torque: 76,4 / 78,2 kg/mkgf
  • Volumes: porta-malas, 450 litros;
  • tanque, 60 litros
  • Suspensão: Dianteira: independente, McPherson. Traseira: eixo de torção
  • Freios: disco ventilado (dianteira), disco sólido (traseira)
  • Direção: elétrica
  • Pneus: 225/50 R17
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