Tamanho não é documento e o Chevrolet Chevette é a prova de que é possível ser um grande clássico sem ser necessariamente grande. O modelo foi o primeiro compacto da marca americana no Brasil e caiu nas graças do povo por ser um modelo com a cara do nosso país.
Seu projeto foi batizado de 909 e foi viabilizado graças a enorme fama do Chevrolet Opala, primeiro modelo de passeio da GM, que antes produzia apenas utilitários. Contando pela primeira vez com a participação de engenheiros brasileiros, que colaboraram junto com os alemães da Opel e os japoneses da Isuzu, o Chevette foi concebido para rivalizar com o Volkswagen Fusca e era a versão nacional da linha T-Car, sucesso da GM nos quatro cantos do mundo.
Para estar adequado os protótipos tiveram uma bateria intensa de testes. Eles foram levados até a inóspita BR-364, na divisa dos estados de Goiás e Minas Gerais, e por lá tiveram que enfrentar muita terra, buracos e irregularidades.
A GM investiu pesado na produção do seu primeiro compacto. A fábrica de São José dos Campos, no interior de São Paulo, recebeu um investimento vultoso nas áreas de estamparia, solda e fundição de motores.
O motor era o novíssimo 1.4 da Opel de 68 cv, transmitidos por um câmbio manual de quatro marchas, e apresentava um cabeçote com fluxo cruzado, ou seja, com os coletores de admissão e escapamento em lados opostos. Outro detalhe é que esse foi o primeiro motor da marca alemã a ter uma correia dentada de borracha para acionar o comando de válvulas no cabeçote
Em 1973, enfim, o projeto 909 foi lançado e o Brasil conhecia o Chevette. Seu lançamento gerou desconforto para rival Volkswagen, que se apressou para lançar o seu compacto, a Brasília. Ambos foram capa da edição 154 de QUATRO RODAS, em maio daquele mesmo ano. Mas bastava uma comparação rápida para notar o abismo tecnológico que havia entre os dois.
A segurança foi um ponto fundamental no desenvolvimento do Chevette. A carroceria monobloco tinha pontos de deformação programada, o sistema de direção tinha coluna retrátil e o tanque de combustível ficava isolado atrás do banco traseiro. Mas não era apenas isso.
O Chevette também tinha boa dirigibilidade, graças a sua caixa de direção rápida e precisa e seu entre-eixos curto (2,39 m), ideal para o perímetro urbano. Ele também era rápido e com uma aceleração, chegando aos 140 km/h e indo de 0 a 100 km/h em 19 segundos.
Suas qualidades surpreenderam até o bicampeão de Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, que elogiou seu equilíbrio nas curvas. Seu comportamento era tão bom, que oficinas por todo Brasil desenvolveram os seus próprios Chepalas, um Chevette com o motor do Opala.
As qualidades eram muitas, mas também haviam defeitos. O acerto da suspensão era firme demais para pisos muito irregulares e o túnel da transmissão deslocava os pedais e a direção para a esquerda. O espaço traseiro era adequado apenas para crianças e o isolamento acústico era precário.
Assim como o Opala teve a SS, o Chevette também ganhou uma versão esportiva. Batizada de GP, ela trazia maior taxa de compressão e um pouco mais de potência.
Já em 1976, veio a País Tropical, considerada a mais rara já lançada. Ela vinha de fábrica com um rádio toca fitas e como brinde, uma fita cassete com a música homônima de Jorge Ben Jor.
Em 1978 o modelo ganhou sua primeira reestilização, que trazia as mesmas linhas básicas do Chevette americano de 1976. Depois veio a versão quatro portas e a hatch, em 1980. A primeira geração do modelo foi encerrada em 1982, pouco depois da chegada da perua Marajó e da versão esportiva S/R com motor de 1,6 litro e 80 cv.
A segunda geração entrou no mercado em 1983 e, desta vez, era baseada no Chevrolet Monza. Logo ela cativou o público, se tornando líder em vendas no mercado nacional e finalmente superando o Fusca.
O projeto mais moderno trazia opções com ar-condicionado, câmbio de cinco marchas e até uma versão automática. Ele também entrou na febre das picapes compactas, dando origem a Chevy 500.
A segunda geração trazia um novo motor 1.6 que gerava 73 cv. Consequentemente, o desempenho do Chevette também melhorou, alcançando até 149 km/h e fazendo o 0 a 100 km/h em 16,6 s. Em 1988 surge o motor 1.6/S, com novo coletor de admissão, pistões e bielas mais leves e carburador de corpo duplo que resultavam em 81 cv.
Porém, com a chegada dos anos 90, o Chevette acabou se tornando ultrapassado e viu os rivais ficarem mais tecnológicos. Suas duas últimas versões foram a Junior, que trazia um motor 1.0 de 50 cv e a derradeira “L”, um popular com motor 1,6 litro que encerrou uma história de 20 anos e 1,6 milhão de unidades vendidas.