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Lada 1200 tinha lista de espera de anos para ser comprado zero km

De ascendência italiana, o pequeno russo superou os limites da economia planificada e conquistou seu espaço na história do automóvel

Por Felipe Bitu Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 30 mar 2025, 21h49 - Publicado em 29 mar 2025, 15h00
clássicos | ZHIGULI / VAZ-2101 / LADA CLASSIC
O Zhiguli alavancou o desenvolvimento técnico da União Soviética e gerou empregos no mundo todo (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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O fim da Segunda Guerra marcou a bipolarização do mundo no século 20. Se para os americanos o automóvel era símbolo das liberdades individuais do capitalismo, para os russos ele deveria ser só uma prática ferramenta a serviço da prosperidade coletiva: este era o ideal do VAZ-2101.

Para ter um modelo que atendesse as necessidades de uma família russa, o governo bolchevique iniciou a negociação com três fabricantes europeus: Fiat, Renault e VW. A escolhida foi a Fiat, favorecida pelos russos em razão da influência exercida por Palmiro Togliatti. Italiano com cidadania soviética desde 1930, Togliatti liderou o Partido Comunista Italiano da década de 1920 até seu falecimento, em 1964. Às margens do Rio Volga, a vila de Stavropol foi rebatizada como Tolyatti: ali seria produzido o mais famoso dos automóveis russos.

clássicos | ZHIGULI / VAZ-2101 / LADA CLASSIC
A suspensão era reforçada e mais alta que a do Fiat 124 (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Em 1966, surge a estatal VAZ (Volzhsky Avtomobilny Zavod, Fábrica de Automóveis do Volga), resultado do acordo firmado entre a Fiat e o Ministério do Comércio Exterior. Até mesmo Henry Ford II fez questão de conhecer a moderna fábrica, que seguia o exemplo de River Rouge (Ford) e Wolfsburg (Volkswagen): quase todos os componentes seriam produzidos nela.

O modelo escolhido foi o Fiat 124, apresentado no mesmo ano. Projeto de Oscar Montabone, media 4,09 metros e o entre-eixos de 2,43 m garantia espaço para cinco ocupantes. Molas helicoidais asseguravam conforto e os freios eram a disco nas quatro rodas. Suas virtudes lhe renderam o prêmio de Carro do Ano na Europa, em 1967.

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Submetido a rigorosos testes, o Fiat 124 necessitou de várias modificações para suportar as condições ruins da precária malha viária russa. O monobloco apresentou rachaduras, a suspensão mostrou-se frágil e a altura livre do solo era insuficiente. Os freios a disco traseiros perdiam eficiência com o acúmulo de lama e neve.

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Ergonomia italiana: volante grande, alavanca do câmbio inclinada e pedais próximos… prontos para o punta tacco (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O modelo russo foi rebatizado VAZ- 2101 ou Zhiguli (colina na margem direita do Rio Volga). A produção começou em 19 de abril de 1970 com chapas mais grossas, reforços estruturais, suspensão mais alta e freios traseiros a tambor. O motor russo de quatro cilindros e 1,2 litro era mais potente (59 cv) que o italiano, graças ao comando de válvulas no cabeçote (e não no bloco).

Ia de 0 a 100 km/h em cerca de 20 segundos, com máxima de 140 km/h: a embreagem e o câmbio de quatro marchas também foram superdimensionados para as condições soviéticas. E assim o VAZ-2101 tornou-se objeto de desejo dos russos: o prazer de adquirir um Zhiguli zero-km significava longos anos em uma fila de espera.

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A manutenção do Zhiguli costumava ser feita pelos proprietários. O indicador
de temperatura externa era essencial no rigososo inverno soviético (Fernando Pires/Quatro Rodas)
Quatro ROdas
(Fernando Pires/Quatro Rodas)
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(Fernando Pires/Quatro Rodas)
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(Fernando Pires/Quatro Rodas)
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A partir de 1971, o modelo de exportação recebia outro nome: Lada 1200. Em 1972, surgem a perua VAZ-2102 e o VAZ-2103 com motor de 1,5 litro e quatro faróis. A fábrica atingiu sua capacidade máxima de produção em 1974, ano em que o VAZ-21011 acrescenta o motor de 1,3 litro e 67 cv, e apliques no painel imitando madeira.

O novo motor de 1,6 litro e 78 cv foi a novidade do VAZ-2106 para 1976: o Zhiguli agora acelerava de 0 a 100 km/h em 16 segundos e alcançava a máxima de 150 km/h. Era o automóvel mais desejado na Europa Oriental: modelos de maior prestígio eram quase sempre reservados a autoridades.

O encerramento da produção do Fiat 124, em 1974, permitiu à VAZ exportar os Lada para países ocidentais, situação que agradou o Politburo. Bem construídos, agradavam pela relação custo/benefício, pois geralmente estavam entre os mais baratos oferecidos em qualquer mercado: defasados, porém práticos e robustos.

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Projeto extremamente racional: a distância de 2,42 metros entre os eixos assegurava espaço para cinco adultos (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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(Fernando Pires/Quatro Rodas)

As exportações financiaram a atualização da fábrica de Tolyatti, aumentando ainda mais sua capacidade. Em 1979, surge o VAZ-2105 com faróis retangulares, seguido pela versão de luxo 2107 em 1982 e pela perua 2104 em 1984. O 2105 chegou ao Brasil em 1990 como Lada Laika: custava menos que um Fiat Mille e em nossa pista de testes foi de 0 a 100 km/h em 15,44 segundos, com máxima de 142,5 km/h.

A União Soviética sucumbiu em 1991, mas o Lada não: recebeu injeção eletrônica e catalisador. O Zhiguli continuou em produção até 2010, totalizando 17,75 milhões de unidades, superando o lendário Ford T. Curio-samente, as últimas unidades foram produzidas no Egito até 2015: ali chegava ao fim a carreira do automóvel que colocou a Rússia sobre rodas.

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Tanque de combustível ficava no porta-malas, no lado oposto ao do estepe.
Motor com comando de válvulas no cabeçote foi exclusividade dos russos (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Ficha Técnica

Zhiguli – VAZ-21011 1982
Motor: longitudinal, 4 cilindros em linha, 1.294 cm3, alimentado por carburador
Potência: 69 cv a 5.600 rpm
Torque: 9,5 kgfm a 3.400 rpm
Câmbio: manual de 4 marchas, tração traseira
Carroceria: fechada, 4 portas, 5 lugares
Dimensões: comprimento, 407 cm; largura, 161 cm; altura, 144 cm; entre-eixos, 242 cm; peso, 955 kg; pneus, 155 R13

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