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Primeiro Dodge Viper tinha V10 de 400 cv que até queimava os passageiros

Dois lugares, baixo peso e um motor descomunal: a fórmula do sucesso para criar um dos esportivos mais relevantes da história

Por Felipe Bitu
10 mar 2024, 18h33
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  • Comandada desde 1978 pelo executivo Lee Iacocca, a Chrysler escapou da falência na década seguinte graças aos pacatos automóveis Plymouth Reliant e Dodge Aries, bem como às minivans Plymouth Voyager e Dodge Caravan. O fluxo de caixa permitiu o desenvolvimento de um dos esportivos mais importantes da história: o Dodge Viper.

    Concebido em 1988 pelo vice-presidente Bob Lutz, o Viper buscou inspiração em esportivos dos anos 1960 como Jaguar E-Type e Shelby Cobra. O chassi tubular de aço acomodaria um motor de alta cilindrada, acoplado a um câmbio manual e absolutamente nenhum recurso eletrônico como freios ABS. A temida e desejada tração traseira finalmente estaria de volta.

    dodge viper
    Os escapamentos laterais provocavam queimaduras nas pernas dos ocupantes distraídos com a performance brutal do v10 (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    A tarefa ficou a cargo de Tom Gale e Roy Sjoberg, respectivamente chefe de design e engenheiro-chefe. O Viper foi desenvolvido em tempo recorde por uma equipe de 85 engenheiros e ficou pronto a tempo de ser apresentado no Salão de Detroit de 1989. Era um esportivo em sua essência: não havia teto, janelas, maçanetas nas travas elétricas ou mesmo ar-condicionado.

    Adquirida pela Chrysler em 1987, a Lamborghini recebeu a missão de readequar o pesado motor Magnum V10 de 8 litros dos utilitários Ram para o Viper. Produzidos em alumínio, bloco e cabeçotes foram responsáveis por uma redução de peso aproximada de 45 kg. O ângulo de 90 graus entre as bancadas apontava sua modularidade com os V8 Magnum da Chrysler.

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    A carroceria aberta prejudicava a aerodinâmica, limitando a máxima a 265 km/h (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    O projeto contou com o apoio informal de Carroll Shelby, que se apresentou ao volante do Viper Pace Car nas 500 Milhas de Indianápolis de 1991, antes mesmo da aprovação final de Lee Iacocca. A influência do texano se fez presente até no nome: assim como o Cobra, o Viper foi batizado com o nome de uma serpente agressiva.

    Com 400 cv a 4.600 rpm, ele desbancou o Chevrolet Corvette do posto de automóvel norte-americano mais potente e foi o primeiro modelo de produção em série com motor de 10 cilindros. O torque máximo de 62,2 kgfm a 3.600 rpm e o câmbio Borg–Warner T56 de seis marchas garantiam 0 a 96 km/h em 4,5 segundos e a máxima de 265 km/h.

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    Produzido em alumínio, o V10 se originou dos V8 Chrysler: manteve comando de válvulas no bloco e ângulo de 90 graus entre as duas bancadas (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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    O ar-condicionado passou a ser oferecido em 1994. Em 1996, surge a segunda geração e o cupê GTS, capaz de alcançar os 290 km/h. Desenvolvido para as pistas, o Viper GTS-R estreou nas 24 Horas de Daytona de 1996 e venceu 16 das 18 corridas que disputou no Campeonato Mundial de Gran Turismo da FIA: deu origem à série GT2 com 466 cv, limitada a 100 unidades.

    Em 1999, foi a vez do Viper ACR (American Club Racer), versão de pista equipada com o V10 do GT2, rodas BBS e suspensão recalibrada com amortecedores Koni. O modelo 2001 marcou a introdução dos freios ABS, pouco antes da chegada da terceira geração, em 2003: o Viper SRT-10 substituiu as versões RT/10 e GTS e seu V10 tinha agora 8,3 litros e 500 cv.

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    Esportivo raiz: pedal de embreagem e câmbio manual. Rádio toca-fitas era a única concessão ao conforto (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    O cupê GTS retornaria ao mercado apenas em 2006. A quarta geração foi apresentada em 2008 com um V10 de 8,4 litros, 600 cv e 77,4 kgfm, suficientes para levá-lo de 0 a 96 km/h em 4 segundos. Estava em paridade com os melhores: Chevrolet Corvette, Ford GT, Ferrari F430, Porsche 911 Turbo e Lamborghini Gallardo.

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    O modelo 2008 trouxe o cupê SRT-10 ACR, versão de pista homologada para as ruas. O defletor dianteiro e aerofólio traseiro ajustáveis de fibra de carbono capazes de gerar mais de 450 kg de downforce a 240 km/h. As suspensões com amortecedores KW e os pneus Michelin Pilot Sport Cup resultavam em aceleração lateral de 1,12 g.

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    Assentos ficavam pouco à frente do eixo traseiro (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Seriamente afetada pela crise econômica de 2008, a Chrysler encerrou a produção do Viper em 2010. A quinta e última geração só retornaria no modelo 2013 e manteve-se fiel aos ideais de Bob Lutz e Tom Gale: os controles de tração e estabilidade só foram incorporados por imposição governamental. O último Viper foi produzido em 16 de agosto de 2017, totalizando cerca de 31.500 unidades em 25 anos.

    O exemplar das fotos é uma das 285 unidades produzidas no ano de estreia, que chegou ao Brasil e nos foi cedida pela loja paulistana L’art De L’automobile: é o precursor de uma extinta linhagem de carros que se destacou pela maravilhosa combinação de motor V10 de aspiração natural, câmbio manual e tração traseira.

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    Instrumentação com termômetro, manômetro de pressão do óleo, medidor de combustível e voltímetro (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Ficha Técnica – Dodge Viper RT/10 1992

    Motor: long., V10, 7.990 cm3, injeção eletrônica; 400 cv a 4.600 rpm, 62,2 kgfm a 3.600 rpm
    Câmbio: manual, 6 m., tração traseira
    Carroceria: aberta, 2 portas, 2 lugares
    Pneus: 275/40R17 (diant.),  335/35R17 (tras.)
    Dimensões: comprimento, 445 cm; largura, 192 cm; altura, 112 cm; entre-eixos, 244 cm; peso, 1.576 kg

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