Carros elétricos também usam óleo lubrificante – cada vez mais específicos
Carros elétricos demandam lubrificantes específicos, ou iguais aos de veículos a combustão, mas com diferentes pacotes de aditivos
Carro elétrico leva óleo, sim. E muito. Ao contrário da percepção geral, os EVs (electric vehicles) demandam lubrificantes em várias partes. E não só óleo, graxa e líquido de arrefecimento também. Muitas vezes, os elétricos usam fluidos iguais aos dos modelos a combustão. Mas a indústria se dedica a desenvolver produtos específicos para esse novo tipo de veículo, trabalho visto como desafiador pelos especialistas.
A condutividade elétrica que muitos fluidos atuais têm em suas características químicas representam uma preocupação para as engenharias. Essa condutividade nos fluidos hidráulicos geralmente tem maior poder eletrostático, o que pode acarretar em desgaste do sistema elétrico, incluindo risco de acidentes.
“A indústria desenvolve novas formulações que possam garantir proteção ao desgaste, ao mesmo tempo que busca aditivos com baixa condutividade elétrica, sem comprometer o controle térmico do conjunto, já que o calor afeta a eficiência das baterias”, diz Leandro Laurentino, especialista de produtos da Iconic, dona das marcas Ipiranga e Texaco Lubrificantes.
Falando das baterias, o foco de atenção está no sistema de resfriamento. Hoje, o fluido que cuida disso é o etilenoglicol. Pareceu familiar? Sim, é basicamente o mesmo produto que usamos como aditivo no líquido de arrefecimento dos motores a combustão. Acontece, porém, que essa substância é uma solução aquosa 50/50, com aditivos anticorrosivos orgânicos. Sua base é água. E água e corrente elétrica, obviamente, não combinam. Por isso, tal substância fica adequadamente armazenada em câmaras vedadas.
Frentes de pesquisa
A missão dos pesquisadores, portanto, é encontrar substâncias eficientes na manutenção da temperatura ideal do sistema de propulsão elétrica, mas com outra base química. Segundo Eduardo Polati, diretor técnico da Powerburst Tecnologia e Consultoria, até existem produtos sintéticos, de base biológica ou de flúor, mas com a contraindicação dos altos custos. Dessa forma, várias frentes de pesquisas estão em desenvolvimento por outras soluções economicamente mais interessantes.
“O futuro reserva novidades e existem empresas trabalhando nisso, em alternativas para fazer o resfriamento dos outros componentes, inversor e propulsor, e do freio regenerativo, já que pode funcionar como motor propulsor”, explica o engenheiro.
Na procura por soluções, os aditivos podem fazer a diferença. Muitas empresas olham para a base de seus fluidos de arrefecimento e procuram aditivos que diminuam essa condutividade, mas que possam fazer a troca de calor eficiente do conjunto. Como a glicerina de alta pureza já usada.
Transmissão
Outro desafio está nos lubrificantes das transmissões. “Existem tecnologias em que o fluido de transmissão também é utilizado na imersão do motor elétrico. Nesse sentido, a compatibilidade com novos materiais, como o cobre, é importante. E também a parte de condutividade térmica e elétrica, porque muitas vezes ele vai ser utilizado como um fluido direto de refrigeração do próprio motor elétrico”, diz Roberta Teixeira, diretora de sustentabilidade e tecnologia da Iconic.
Carros elétricos também mantêm seus óleos para as caixas automáticas. Nestes casos, a base dos fluidos é praticamente a mesma de uma caixa de um veículo a combustão. O que muda, aqui também, é o pacote de aditivos. Isso porque os carros elétricos, em geral, têm uma transmissão com conjunto único de engrenagens. Nos motores de corrente alternada, é preciso adequar a rotação do eixo do motor com o eixo da roda.
“Geralmente são transmissões com uma única relação e engrenagens basicamente de dentes helicoidais, cicloidais ou por pinhão e coroa. É preciso um óleo lubrificante que normalmente usa aditivação de extrema pressão à base de fósforo e enxofre”, explica Eduardo Polati.
Ruídos em evidência
Outro ponto em que os veículos elétricos pedem a atenção para lubrificantes específicos tem a ver com o silêncio do funcionamento do conjunto motriz. Como motores elétricos não emitem ruídos, os ouvidos dos ocupantes do veículo passam a identificar barulhos vindos de outras partes mecânicas.
Os propulsores têm rolamentos e mancais que necessitam ser lubrificados. Aqui, o desafio é duplo. As graxas precisam garantir uma lubrificação que minimize ruídos de funcionamento, e que ao mesmo tempo não sejam condutoras de eletricidade.
Por esta razão, os veículos elétricos se valem de graxas especiais. São produtos geralmente à base de poliureia e compostos de óleos básicos isolantes.
“Mesmo hoje, os motores a combustão são mais silenciosos, porém mascaram o barulho dos rolamentos. Por isso, são usadas graxas muito mais nobres, com requerimentos específicos para contatos elétricos”, destaca Roberta Teixeira.