Chinesas disputam para ter o carregador mais rápido do mundo
Com sistemas superiores a 1.000 kW de potência, empresas anunciam equipamentos que tornam a recarga tão rápida quanto o abastecimento de combustível

Empresas chinesas dominam o mercado de baterias para carros elétricos. Sozinhas, as líderes CATL e BYD abocanham 55,1% do segmento, segundo a consultoria SNE Research, focada nesta área. Com a supremacia consolidada, a indústria chinesa volta os olhos para uma corrida mais avançada: quem consegue proporcionar o carregamento de bateria mais rápido?
Só na segunda-feira (31), duas marcas Huawei e Zeekr anunciaram tecnologias baseadas em recargas de megapotentes, que prometem recarregar veículos de passeio e até comerciais pesados em poucos minutos.
Carregador de 1.200 kW
A Zeekr, que começou a operar no Brasil em 2024, anunciou um carregador de 1.200 kW totalmente resfriado a líquido, com 10 plugues individuais de 1,2 MW cada. A novidade será lançada oficialmente no Salão de Xangai, que abre as portas no dia 23 de abril. O produto será lançado no mercado no segundo semestre deste ano.
Na teoria, uma bateria deste porte seria capaz de carregar um módulo de 60 kWh, presente em um Tesla Model 3, por exemplo, em aproximadamente três minutos.
Bateria para caminhões
A novidade foi anunciada no China Electric 100 Forum, um evento dedicado a novidades elétricas que ocorre na capital Pequim. No mesmo local, a Huawei revelou um carregador ainda mais potente, com capacidade de 1.500 kW, com pico de 2.400 A e capacidade de entregar 20 kWh por minuto.
O presidente da companhia, Hou Jinlong, destacou que o equipamento é voltado para caminhões elétricos pesados, segmento onde a eletrificação esbarra no tempo de recarga. “Para que caminhões sejam viáveis, o carregamento precisa ser concluído em até 30 minutos”, defendeu.
A Huawei apresentou ainda no evento um braço robótico de carregamento autônomo, testado no sedã de luxo Maextro S800. O sistema permite que o veículo estacione sozinho e seja conectado automaticamente, eliminando a necessidade de intervenção humana.

Velocidade de abastecimento
As novidades foram anunciadas pouco depois de a BYD apresentar o Megawatt Flash Charger. O equipamento é capaz de entregar 1.000 kW e adicionar 400 km de autonomia em 5 minutos. A tecnologia utiliza uma plataforma de 1.000 V (Super E-Plataform), que permite maior eficiência energética, e estreou nos modelos Han L e Tang L. Com mais alguns segundos, seria possível chegar aos 450 km para viajar do Rio de Janeiro a São Paulo, pelo menos em teoria, pois o cálculo é baseado no padrão de medição chinês – conhecido por ser otimista demais.
Além da potência, a BYD atacou um impasse de infraestrutura. Os carregadores virão com sistemas de armazenamento de energia, permitindo operar em locais onde a rede elétrica é limitada. A empresa planeja instalar 4.000 unidades até 2025 , com 500 já em operação em abril.
Como está a concorrência?
Marca | Potência |
Huawei | 1.500 kW |
Zeekr | 1.200 kW |
BYD | 1.000 kW |
Xpeng | 800 kW |
Tesla | 500 kW |
Contexto global
A ofensiva chinesa ocorre em um momento estratégico. Enquanto a Europa debate normas para carregadores universais e os Estados Unidos oferecem créditos fiscais para empresas que investem em redes de recarga, a China trabalha para ampliar a liderança na mobilidade elétrica em diversas frentes.
O governo chinês utiliza políticas industriais verticais para impulsionar a cadeia de suprimentos. Por meio de subsídios, isenções fiscais e financiamento estatal, o país expandiu sua rede para 3,288 milhões de carregadores em 2024, com crescimento de 49% em um ano. Além disso, a China prioriza parcerias público-privadas para integrar tecnologias emergentes.
Programas como o Load Balance (Recarga Equilibrada) da Huawei são incentivados para integrar carregadores de alta potência à rede elétrica, evitando sobrecargas. Já BYD e SGCC (empresa estatal de fornecimento de energia) recebem recursos adicionais para desenvolver os já citados sistemas de armazenamento de energia (ESS) e plataformas de 1.000 V.