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Ford Mustang Mach-E é elétrico mais rápido que V8 e não agradará a todos

Ford Mustang Mach-E é mais rápido que qualquer outro Mustang no Brasil. Mas adaptação à era dos EVs tem detalhes que podem não agradar sempre

Por Eduardo Passos
Atualizado em 27 dez 2023, 11h06 - Publicado em 5 dez 2023, 17h32
É um Ford Mustang, mas não como você está acostumado. O preço de R$ 486.000, entretanto, é parecido
 (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Os grandes feitos da engenharia servem, também, para refletir como pensava uma geração. E os primeiros capítulos dos carros elétricos serão boa referência, no futuro, para que entendamos como funcionava a indústria nos anos 20 (do século XXI, claro)

Em setembro, QUATRO RODAS foi à sede da Ford, nos EUA, conhecer como a montadora vem tentando se reinventar. Aproveitando a viagem, também tivemos o primeiro contato com o Mustang Mach-E, o Mustang elétrico que agora chegou ao Brasil e já passou por nossos testes.

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Traseira de SUV é ponto de maior polêmica do esportivo (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Em um almoço no interior de Michigan, o assunto com altos executivos da empresa foi de carros elétricos ao retorno do Homem à Lua, que ocorrerá em breve. É o programa Artemis, que será bem diferente do consagrado Apollo, assim como o Mach-E é bem diferente do muscle car que conhecemos.

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(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Os engravatados da Ford sabiam muito sobre a empreitada que foi a corrida espacial, com o pouso lunar ocorrendo às pressas para que os EUA vencessem a União Soviética. Parece até que leram o curioso documento “O Que Fez o Programa Apollo um Sucesso?”, que é basicamente um manual da Nasa para projetos arriscados e que serve bem à corrida pelos carros a baterias.

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Mescla de proporções de diferentes carrocerias: um legítimo crossover (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Uma das lições mais interessantes nesse documento vem de Joe Shea, gerente da agência espacial, que defendia: avanços não podem ser brandos demais, mas a ousadia excessiva também faz mal. E o Mach-E segue essa lógica. A Ford foi atrevida, e apostou no legado para moldar e atrair olhares ao seu primeiro carro elétrico. Ao mesmo tempo, reinventar um Mustang sem motor V8 e cheiro de gasolina era uma demanda difícil que tiraria os engenheiros da zona de conforto.

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Painel é onde aspectos esportivos ficam de lado (Fernando Pires/Quatro Rodas)

É um resultado interessante, pois o Mach-E se parece com um Mustang ao mesmo tempo que é bem diferente. A dualidade visível já na carroceria, onde faróis com três listras, o capô com”nariz de tubarão” e as lanternas icônicas são referências óbvias às gerações clássicas.

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(Fernando Pires/Quatro Rodas)
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A traseira de SUV desse que, na verdade é um crossover, por outro lado, é uma forma de mostrar certa ruptura com passado – uma “profanação” que atraiu muitas críticas dos puristas.

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(Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Alavanca de câmbio de lugar a seletor giratório de marcha (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Em termos de performance, porém, os brasileiros podem ficar tranquilos. Temos à venda uma única versão, a GT Performance, que calha de ser a melhor: há um motor em cada eixo, com tração integral e, ao todo, 487 cv e 87,7 kgfm. O Mach-E vai de 0 a 100 km/h em 4,2 s, superando tranquilamente os 4,9 s do Mach 1 e seu 5.0 com tração traseira.

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Curiosamente, nossa prova mostrou que o elétrico tem autonomia superior à da variante térmica na cidade (473 km, contra 399 km); na estrada, o Mach-E roda 427 km com uma carga (contra 672 km do Mach 1), e com tomadas de corrente contínua a 150 kW leva-se cerca de 30 minutos para recarregá-lo de 20% a 80%.

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(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Mais do que ser rápido em linha reta, o elétrico traz freios a disco da Brembo cujo pedal é intencionalmente sensível. Os amortecedores são adaptáveis, e os ajustes vão de macios a desconfortáveis de tão duros conforme o modo de condução escolhido na central multimídia de 15,5″. Os 596 kg de baterias próximos ao solo contribuem para um centro de gravidade que diminui a rolagem, e a distribuição de peso igual entre frente e traseira, tal como a posição de dirigir, fazem com que muito dos muscle cars reapareça nos sentidos do condutor.

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Freios Brembo mostraram eficiência no teste de frenagem (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Interior destoante

Até então, o trabalho da Ford encontrara um meio termo ideal, que deixaria Shea orgulhoso. Pois o Mach-E tem seu charme, e é visível o trabalho da Ford Performance para que os atributos esportivos apareçam adaptados para um EV — a dinâmica aqui é superior à de um Porsche Taycan, por exemplo. Mas o interior desequilibra a conta.

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(Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Puxadores que substituem maçanetas têm inspiração na aeronáutica (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Os materiais têm boa qualidade e a escolha de revestimento, com camurça e imitação de aço escovado, lembram um pouco a cabine de um carro de corrida. Mas a tela vertical, ainda que muito interessante para um veículo futurista, rouba atenção e destoa da proposta. O mesmo vale para o quadro de instrumentos, digital e flutuante, que confunde os sentidos: o carro tem estética e comportamento análogos a um Mustang, mas o motorista se sente em um Tesla ou Nio.

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(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Menos mal que o espaço na segunda fileira é farto, enquanto no “velho” Mustang é praticamente inexistente. O porta-malas também agrada com seus 822 l e abre a possibilidade do comprador fazer um “2-em-1”, tendo um veículo que atende à família no dia a dia e diverte muito nos track days ocasionais.

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O teto solar é o maior já instalado em um carro da Ford, mas também por isso é fixo e sem cortina. Uma película invisível diminui o efeito estufa, mas não o suficiente para dias de verão que vêm ai, e nesse caso o ar-condicionado roubará uma parcela significativa da autonomia do carro.

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Porta-malas traseiro tem 822 litros líquidos e 402 litros na medição VDA (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Ao contrário dos Estados Unidos, o BlueCruise (piloto automático equivalente ao da Tesla) não está disponível no Brasil. Mas o hardware está presente, e contribui para o bom funcionamento de recursos de automação veicular, como o controle de cruzeiro adaptativo e assistente de permanência em faixa bem calibrados. Tudo isso somado ao ajuste elétricos dos bancos, sistema de som Hi-Fi e carroceria bem ajustada fazem com que longas viagens no Mach-E não sejam problema; pelo contrário.

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(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Talvez sejam esses aspectos que tragam sentido ao Mustang elétrico. Afinal de contas, ele anda bem e faz jus à esportividade do Cavalo; a experiência, entretanto, não é completa. Menos mal que, por R$ 486.000, o comprador brasileiro tem outras utilidades para um tipo de carro que, comumente, servia só para empolgar ao volante, sem aptidão para outras funções que veículos de rua costumam fazer.

Segure a onda: nada de usar o Mustang Mach-E para competições
(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Teste Quatro Rodas – Ford Mustang Mach-E GT Performance

ACELERAÇÃO
0 a 100 km/h – 4,2 s
0 a 1.000 m – 24,9 s – 188,0 km/h
Velocidade máxima – 192 km/h

RETOMADAS
40 a 80 km/h – 1,6 s
60 a 100 km/h – 1,9 s
80 a 120 km/h – 2,4 s
FRENAGENS
60/80/120 km/h a 0 – 12,2/21,6/49,7 m
CONSUMO
Urbano – 5,2 km/kWh
Rodoviário – 4,7 km/kWh
RUÍDO INTERNO
Neutro/RPM máx. -/- dBA
80/120 km/h – 56,4/62,2 dBA
AFERIÇÃO
Velocidade real a 100 km/h – 97 km/h
Rotação do motor – n/d
Volante – 2,5 voltas
SEU BOLSO
Preço – R$ 486.000
Garantia – 8 anos ou 160.000 km para a bateria, 3 anos para o carro (sem limite de quilometragem)

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(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Ficha técnica – Ford Mustang Mach-E GT Performance

Motor: elétricos (um em cada eixo), 487 cv, 87,7 kgfm
Bateria: íon-lítio; 91 kWh
Câmbio: automático, 1 marcha + ré, tração integral
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira) e multilink (traseira)
Freios: discos ventilados (traseira e dianteira)
Pneus: 245/45 R20
Dimensões: comprimento, 474,2 cm; largura, 188,2 cm; altura, 161,3 cm; entre-eixos, 298,5 cm; peso, 2.157 kg; porta-malas, 822 litros (líquidos)/402 litros (VDA)

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