O Brasil se tornou o maior importador de carros chineses eletrificados do mundo, com o desembarque de 40.163 unidades, apenas em abril, de acordo com a Associação Chinesa de Carros de Passageiros (CPCA).
Esse volume foi 13 vezes maior, na comparação com o mesmo mês em 2023, e esse crescimento está provocando até falta de contêineres, porque os navios dedicados a automóveis (RoRo), sozinhos, não estão dando conta dos fretes. Tudo isso é reflexo da pressa das marcas chinesas que atuam no Brasil. Enquanto muitas se preparam para chegar.
Hoje, Chery, BYD, GWM e JAC são as marcas de automóveis chineses que atuam no Brasil. Mas mas o número de marcas chinesas no Brasil vai mais que dobrar antes que o ano acabe com a estreia já confirmada de Neta Motors, Omoda, Jaecoo, Zeekr e Riddara. E poderá triplicar até meados de 2025, pois há muitas outras com bastante pressa para estrear no Brasil, como você verá a seguir.
A pressa se dá, também, pela iminência da cobrança total do imposto de importação para carros elétricos e híbridos, que estava zerado desde 2015. Na virada deste ano, passou a 12% para híbridos e 10% para elétricos. No início de julho passou a ser de 25% para híbridos leves, 20% híbridos plug-in e 18% elétricos. E haverá novos aumentos em julho de 2025 e 2026 até chegar a 35% de imposto para todos os eletrificados importados.
Os preços subirão, por isso as fabricantes correm para trazer mais unidades pagando alíquotas menores enquanto há tempo. A BYD, por exemplo, enviou seu próprio navio RoRo para o Brasil com mais de 5.000 carros em maio. Entre eles estavam os novos BYD King e Song Pro.
A GWM correu para trazer uma nova versão intermediária do Haval H6 PHEV, com bateria de 19 kWh e apenas tração dianteira, por R$ 239.000 – é R$ 40.000 mais barato que a versão de 34 kWh e tração integral.
Ambas as marcas já se preparam para começar a montar carros no Brasil, a partir de 2025, como a Chery faz desde 2014. Nos próximos anos, elas apostarão em submarcas de luxo. A GWM lançará as Wey e Tank, enquanto a BYD quer trazer a Denza, a Yangwang e a FangChengBao.
As empresas que estão a caminho do Brasil não terão tempo para manobras. A Omoda & Jaecoo começa a vender carros aqui em agosto. A estreia será com o SUV médio Omoda 5, em versões híbrida leve e elétrica, e com o SUV também médio Jaecoo 7, um híbrido plug-in, que chega até outubro. São carros que terão preços entre R$ 160.000 e R$ 230.000. Os planos da O&J, que pertence à Chery Internacional, inclui fábrica no Brasil e carros híbridos flex.
A Neta, outra marca estreante, que pertence ao grupo chinês Hozon, vai pelo mesmo caminho: tem lançamento previsto para agosto e almeja fábrica no Brasil. A Neta apostará tanto no cupê esportivo Neta GT quanto em SUVs: um compacto elétrico Aya e outro médio Neta L.
Depois, será a vez da Zeekr, que iniciará a importação de seus carros de luxo elétricos em setembro com o cupê de quatro portas 001 – mostrado na edição 775, em novembro de 2023, logo que foi lançado na Europa – e o SUV médio Zeekr X, que custarão entre R$ 300.000 e R$ 500.000.
A Geely, dona da Zeekr e Volvo, não teme a rivalidade na família e ainda incluirá a Polestar na briga. A antiga preparadora da Volvo hoje faz elétricos esportivos e sua estreia no Brasil foi anunciada para 2025.
Base aliada
Quem também quer aproveitar o baixo custo de produção e a tecnologia dos elétricos chineses é a Stellantis. O conglomerado comprou 20% da startup Leapmotor, criou uma joint venture que será responsável pela fabricação de elétricos para a Stellantis e garantiu os direitos de venda e exportação fora da China.
A estreia no Brasil será no começo de 2025 com o compacto T03 (tão simplório quanto um Kwid elétrico) e o sofisticado SUV médio C10 (sim, o mesmo nome da velha picape Chevrolet) com plataforma e eletrônica de última geração baseada em processadores Snapdragon e chips Nvidia.
Até o mercado de picapes terá novos representantes chineses. A híbrida BYD Shark será lançada entre agosto e setembro, mas antes chega a Foton Tunland em duas versões híbridas leves. A Foton, que atua com caminhões no Brasil há mais de dez anos, dispensou o antigo importador para assumir suas operações no Brasil e vai entrar no segmento de picapes médias em 2025.
A JAC, que está no Brasil desde 2011 e passou um período vendendo apenas elétricos, lançará uma picape a diesel: a Hunter é uma atualização da elétrica iEV-300P, de 2020. E existe a possibilidade de ter um hatch elétrico para rivalizar com o BYD Dolphin, chamado Yiwei 3. Mas isso ainda está sendo discutido com o representante no Brasil, o grupo SHC.
Ainda no segmento de picapes, outra que está a caminho é a Riddara RD6, uma elétrica monobloco vendida como Radar RD6 na China. Essa é mais uma das marcas do grupo Geely, mas só tem esse produto por enquanto. A RD6 estreia em setembro em versões de 272 cv e tração traseira a partir de R$ 249.990.
E há também empresas como a SAIC, que faz carros, mas por aqui e, ao menos por enquanto, terá uma fábrica em Minas Gerais para fornecer motores pesados da marca XCMG. Para o futuro, a SAIC estuda o relançamento da MG (antiga marca inglesa comprada pelos chineses) com carros elétricos e híbridos. A MG chinesa já teve carros vendidos no Brasil, trazidos por importadores independentes, em 2011.
Outra que estuda o Brasil há alguns anos, mas com discrição, é a GAC, que atua com marca homônima e com as subsidiárias Aion (focada em elétricos e que vem crescendo rapidamente na China) e Trumpchi.
A intenção seria vender carros a combustão e híbridos no Brasil e representantes da empresa chegaram a se reunir há alguns meses com o governador do Amapá, Clécio Vilhena, com o objetivo de negociar uma fábrica no estado – que não tem montadoras. A empresa já está presente no Chile e no México com muitas opções de SUVs híbridos e a combustão, mas ainda sem carros elétricos.
Ritmo diferente
Vale observar que, com exceção da Riddara, as novas marcas têm operação bancada pela matriz chinesa e vislumbram, pelo menos, uma linha de montagem no Brasil. É um arranjo diferente do que se vê com a JAC, importada pela SHC, e a Chery, que tem operação dividida com a Caoa. E ambas estão em um outro momento com seus produtos.
Enquanto a JAC volta aos veículos a combustão após ter se concentrado nos elétricos, a Chery tirou o pé dos elétricos: o Arrizo 5 EV saiu de linha e o iCar conserva apenas uma relevância discreta dentro da linha. O foco é mesmo nos híbridos: a Caoa prepara a nacionalização do Tiggo 8 Pro PHEV e ainda o inédito Tiggo 7 Pro PHEV, também montado no Brasil.