A Toyota fabrica os carros mais vendidos do mundo e foi pioneira nos veículos híbridos, mas é uma das montadoras mais cautelosas na transição para os carros elétricos. A BYD, por outro lado, vem assustando o mundo pela estratégia ofensiva. Nada disso, porém, está atrapalhando a parceria improvável entre chineses e japoneses.
Aproveitando o Salão de Pequim, a Toyota anunciou mais dois membros da família bZ, exclusivamente composta por carros elétricos. São os bZ3C e bZ3X, que se juntam ao bZ3 e ao bZ4X.
Mas é uma história tão complicada quanto os nomes: o primeiro carro elétrico moderno da Toyota, o bZ4x, chegou às lojas em 2022, com tecnologia bem avançada, sem nunca ter feito sucesso e em parceria com a Subaru. A partir do sedã bZ3, porém, quem se juntou à Toyota foi a BYD, e é dessa dupla que surgem os outros “filhos”.
O Toyota bZ3C é um SUV cupê que, em relação ao conceito original, ficou mais simples com uso de retrovisores externos tradicionais, por exemplo, no lugar de câmeras. Mas ele mantém o lidar (essencial para automação veicular avançada), maçanetas embutidas e interior em revestimento vermelho, com pegada esportiva.
Já o Toyota bZ3X é um SUV grande, com três fileiras de assentos, carroceria mais quadrada e teto flutuante. O interior é claro e pouco chamativo, com montagem minimalista de console e painel. A dianteira de ambos os carros traz o estilo visto até em modelos globais, como o novo Prius, mas a traseira do bZ3X é mais um elemento que pode lembrar o SW4 para os brasileiros.
Muita coisa falta ser revelada, mas a Toyota confirmou que os novos bZ chegarão ao mercado chinês ainda neste ano, com fabricação sempre na nova potência global. Detalhes mecânicos ainda estão pendentes, mas é natural o uso das disputadas baterias Blade (mais eficientes) que a BYD produz. Logo, é possível alcance superior aos 500 km com uma carga. Há espaço para um ou dois motores elétricos, com tração dianteira ou integral e potência de 245/490 cv, com base no bZ3.
Por que BYD e Toyota são parceiras?
Ao mesmo tempo que brigam pelo mundo, BYD e Toyota assinaram um acordo em 2020, dando origem a uma terceira empresa focada nos carros elétricos. Para os chineses, era importante aprender sobre qualidade e confiabilidade. Os japoneses precisavam de mais eficiência e volume.
O intercâmbio parece estar sendo bom: em viagem à China, o chefe de elétricos da Toyota ficou chocado com os métodos chineses, com ousadia tecnológica que espantou os visitantes. “Eu fui tomado por um sentimento de aflição e pensei: ‘estamos ferrados’. Ao mesmo tempo, comecei a pensar que queria passar o resto da minha carreira na China”, disse Takero Kato ao Toyota Times.
Do lado da BYD, enquanto a sua invasão global ocorre, também é necessário lutar em casa, onde o mercado está cada vez mais saturado e chegar a ser banal que marcas como a Xiaomi anunciem carros com tecnologias quase surreais. Mas a confiabilidade é um problema que afeta os produtos chineses em diversas áreas, enquanto os japoneses são vistos como referência no assunto.
Segundo o vice-presidente da BYD, Lian Yu-bo, a ideia é aprender mais das “tecnologias de controle e qualidade da Toyota”, ajudando a parceira a vender mais e, ao mesmo tempo, aprendendo a ser melhor.
Quando (e se) a sociedade improvável acabará sendo fogo amigo para alguma das montadoras, porém, só o tempo dirá.