Produção da Ford F-150 Lightning estaria ligada à poluição na Amazônia
Destruição de corpos d'água e contaminação de população local estariam entre os danos causados pela exploração de alumínio que alimenta a montadora dos EUA
A produção da nova picape elétrica da Ford, a F-150 Lightning, estaria diretamente ligada à poluição e contaminação não apenas de recursos naturais, mas de moradores de diferentes regiões do Pará. A alegação é de uma reportagem especial produzida pela Bloomberg, que explora os problemas da cadeia produtiva do principal Ford elétrico à venda.
Segundo a apuração, boa parte dos mais de 300 kg de alumínio usados em cada unidade da Lightning vem de uma mina na região de Porto Trombetas, próxima a Santarém (PA). A bauxita lá coletada é beneficiada em Barcarena (PA), nas cercanias de Belém. E é aí que está a maior parte do problema.
Atualmente, uma ação coletiva em nome de 11.000 moradores da região busca reparar danos cometidos pela refinaria Hydro Alunorte, a maior do mundo fora da China. A ação acusa a empresa de poluir rios e nascentes, além de exceder níveis legais de emissões.
Segundo o Instituto Evandro Chagas, por exemplo, moradores das cercanias da Hydro Alunorte teriam nível de chumbo no sangue dez vezes acima do tolerável. Também há documentos governamentais que apontam “contaminação crônica” em corpos d’água por alumínio.
Ironicamente, a dona da operação é a empresa Norsk Hydro ASA, da Noruega — mesmo país que, nos últimos anos, criticou a preservação da florestas tropicais brasileiras.
A Bloomberg ainda cita problemas na região de Porto Trombetas, como a contaminação de um lago com resíduos tóxicos despejados lá sem nenhum tratamento. Ribeirinhos ainda relataram que igarapés antes de “água cristalina” agora se tornaram barrentos, com água laranja.
A apuração constatou que o alumínio extraído do Pará vai direto ao Canadá, onde é iniciado um processo de beneficiamento que, por fim, culmina na montagem da Ford F-150 Lightning no complexo do rio Rouge, em Michigan, EUA.
Os Estados Unidos importam cerca de 75% do seu alumínio do Canadá, que, por sua vez, importa 90% do óxido de alumínio que precisa do Brasil. “É assim que óxido de alumínio com origem na Amazônia vira o metal usado por montadoras norte-americanas, assim como fabricantes de latas, aviões e materiais de construção”, conclui o texto.
Em nota à Bloomberg, a Ford afirmou que irá investigar as questões levantadas pela reportagem. A marca se diz “comprometida com uma cadeia de suprimentos que vai além dos padrões mínimos regulatórios e que respeita os direitos humanos, incluindo o direto a ar e água limpa”.