Desconto de até 39% OFF na assinatura digital
Continua após publicidade

A pauta que fez Ayrton Senna e o Audi S4 aparecerem no Jornal Nacional

Propus que o piloto explicasse como rodou com seu Williams em Interlagos e deu certo: fomos parar no Jornal Nacional

Por Charles Marzanasco
Atualizado em 8 mar 2021, 17h28 - Publicado em 7 mar 2021, 08h00
A pauta que fez Ayrton Senna e o Audi S4 aparecerem no Jornal Nacional
Ayrton Senna apresentou os recém-chegados carros da Audi em Interlagos (Acervo/Quatro Rodas)

O lançamento da Audi no Brasil foi marcado para acontecer nos dias seguintes ao Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 de 1994, com a torcida por uma vitória do piloto Ayrton Senna, sócio na operação da marca alemã no país, que fazia sua primeira corrida pela equipe Williams-Renault.

A vitória não veio. Nosso tricampeão mundial não só perdeu na pista para o Benetton do alemão Michael Schumacher como nem subiu ao pódio naquele domingo, porque escapou e derrapou entre o Mergulho e a Junção em Interlagos, na tentativa de alcançar o adversário.

Mesmo sem a vitória, porém, logo depois do GP, no hangar da extinta Varig no Aeroporto de Congonhas, 2.500 pessoas compareceram à festa de lançamento da Audi, em que, no seu momento mais emocionante, o piloto – no palco – pediu para todos olharem para o telão que mostrava a chegada de um avião cargueiro trazendo o novo Audi 80 Cabriolet, um conversível.

E quem foi retirá-lo do avião e levá-lo para o Ayrton no palco foi nada mais nada menos que o humorista Jô Soares, que naquela época apresentava o Jô Soares Onze e Meia, o programa de entrevistas de maior audiência do país.

Trabalhando com o Senna há anos e iniciando meu serviço na Audi, consegui uma entrevista ao vivo no Jornal da Globo, em que o piloto falaria diretamente do aeroporto com a apresentadora, que era a jornalista Lillian Witte Fibe. Ciente de que ela não ia citar e nem dar muita chance para o Ayrton falar de Audi, alertei o piloto de que, como era ao vivo, ele podia anunciar a nova marca, que não haveria como a emissora cortar.

Continua após a publicidade

Fiquei próximo do Senna durante a entrada ao vivo, porém ele não fez o combinado. Ao final, reclamei: “Ayrton, você não falou nada de Audi?”. A resposta: “Caramba, ela só me perguntou sobre a corrida”, explicou meio chateado.

No dia seguinte, em Interlagos, faríamos a apresentação dos novos modelos para a imprensa especializada, mas a TV Globo não participaria, pois não cobria esse tipo de evento. Fui para o autódromo com aquele gostinho de derrota, o mesmo que ainda devia estar sentindo o Ayrton em relação ao GP Brasil, vencido pelo alemão.

Quando cheguei à sala de imprensa que montamos para a ocasião, antes da presença dos quase 100 jornalistas que foram convidados, liguei para o chefe de reportagem da editoria de esportes da TV Globo, o José Maria de Aquino, para checar se havia a chance de mandar uma equipe. Ouvi dele: “Charles, ontem já demos quase quatro minutos, ao vivo, no Jornal da Globo, hoje não tenho como mandar uma equipe para Interlagos, me desculpa”.

Triste mas compreendendo a resposta do Zé Maria, por quem tenho até hoje a maior admiração como um dos melhores jornalistas que conheci na vida, segui me preparando para o evento. Mas nem sei, até hoje, de onde partiu, tive o estalo de uma pauta e liguei novamente para o Aquino.

Continua após a publicidade

“Zé, não falei com o homem ainda, mas se o Ayrton levar o seu repórter no carro e mostrar pra ele como escapou com o Williams na pista, o que você acha?”, perguntei. “É Jornal Nacional de hoje”, respondeu. “Pode falar com ele.”

Não deu outra. O Ayrton aceitou de pronto fazer a matéria. A equipe da TV Globo só chegou na hora do almoço, quando os outros jornalistas já haviam terminado seus trabalhos e, como combinado, lá se foi o tricampeão mundial para a pista, até o Mergulho, mostrar para o repórter Mauro Naves, atualmente na Fox Sports, como foi que ele escapou com o Williams.

Audi S4 Ayrton Senna
(Acervo/Quatro Rodas)

O emblema da Audi no volante, com quatro argolas, apareceu por aproximadamente três minutos de matéria. E, nas imagens externas, o Ayrton ainda explicava que aquele modelo esportivo tinha tração quattro, que agarrava mais que o seu próprio F-1 no asfalto. Portanto, só estava forçando aqueles rodopios na pista para ilustrar a matéria de sua escapada com o Williams.

Continua após a publicidade

Conversando recentemente com o Mauro Naves, ele me disse que nem desconfiava que havia sido eu quem tinha sugerido a pauta. Naves recorda que estava com a equipe de reportagem na redação e que, de um momento para o outro, recebeu a incumbência de fazer a matéria com o Senna na pista. E até estranhou o fato de ter chegado lá quando todos os jornalistas e o próprio Senna estavam saboreando um churrasco nos boxes.

Mauro Naves me disse também que sempre relembra, em suas mídias sociais e em eventos de que participa, que foi o último repórter a andar em Interlagos com o Senna. E também fez a derradeira entrevista dele no Brasil, pois o Ayrton contou para ele que, dali de Interlagos praticamente já viajaria para a Europa, de onde só voltou após o seu terrível acidente em Ímola, na Itália, no dia 1º de maio de 1994.

Mauro Naves não esquece de ter recebido do próprio Ayrton um brinde com o qual a Senna Import presenteou os jornalistas no evento: um relógio com o logo das quatro argolas, que ele guarda até hoje como a maior recordação daquele dia. Confesso que não me lembrava do brinde e nem que o Ayrton tinha ido para a Europa naquele mesmo dia. Mas de uma coisa não esqueci daquele último momento do Senna no Brasil: se agradei o repórter da Globo sem ele saber, por outro lado decepcionei totalmente a produtora do Jornal do SBT, a Cláudia Liz (homônima da modelo).

Infelizmente, a Cláudia não está mais entre nós, mas naquele dia ela andou com o Senna na pista, onde ele apresentou a ela e aos demais jornalistas como eram os novos modelos S2 e S4 da Audi. Ao assistir o Jornal Nacional, à noite, ela me ligou desesperada perguntando se eu tinha visto a Globo. Eu disse que não e era a pura verdade.

Continua após a publicidade

Mas a conversa continuou e Cláudia disse que a emissora havia mostrado como o Senna tinha escapado no Mergulho. E aí precisei ser falso: “É mesmo? Vi que a equipe deles foi com o Ayrton direto para a pista”. Bravíssima, ela me dizia que o chefe queria demiti-la por ter deixado fazer aquela pauta.

Charles Marzanasco
Charles Marzanasco é Jornalista, trabalhou nove anos como repórter na QUATRO RODAS, dez anos como assessor do piloto Ayrton Senna e 25 anos na Audi (Arte/Quatro Rodas)

Por sorte, como eu não tinha acompanhado o Ayrton, por preferir ficar com os demais jornalistas convidados para o evento até o final do almoço, ela se convenceu de que eu não tive culpa. Só espero que minha mentira, daqui debaixo, não tenha pernas curtas caso a Cláudia, lá de cima, tenha a chance de ler essa minha história dos tempos de assessor da Audi Senna.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 6,00/mês

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Quatro Rodas impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 14,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.