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Mitsubishi 3000GT, a Ferrari japonesa que encantou o time de QUATRO RODAS

Em 1991, testamos o Mitsubishi 3000GT VR-4. Ele bateu recordes em nossos testes, e na época, foi comparado (e muitas vezes melhor) com Porsche e Ferrari

Por Fábio Black
7 Maio 2020, 07h00
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O esportivo japonês que conquistou toda a crítica automotiva mundial em seu lançamento e foi apelidado de Ferrari Japonesa (Divulgação/Divulgação)

Na edição de setembro de 1991, Luiz Bartolomais Júnior e Sérgio Quintanilha, jornalistas de QUATRO RODAS, tiveram uma difícil missão: testar o Mitsubishi 3000GT-VR4, projeto novo da marca japonesa em parceria com a Chrysler.

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O carro, considerado um Ferrari de origem nipônica, recheado de tecnologias e inovações não decepcionou… Muito pelo contrário, bateu vários recordes da revista na época.

Leia o texto abaixo e sinta a emoção dos dois jornalistas descrevendo este superesportivo de preço razoável (comparado com Porsche e Ferrari, claro), que fez e faz muito sucesso até hoje. Boa leitura!

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Tração nas quatro rodas impulsionadas por um motor V6 Bi-Turbo e câmbio de cinco marchas manual, suspensão ativas, e rodas traseiras esterçantes, faziam do 3000GT VR-4, o esportivo do século XXI (Divulgação/Divulgação)

MITSUBISHI 3000GT

Há muito o que dizer sobre o Mitsubishi 3000GT VR-4, mas uma palavra resume tudo: irresistível. Este japonês parece ter sido concebido sob influência mágica.

Nele, os requintes tecnológicos trabalham com tanta harmonia que acabam com a tanta harmonia que acabam compondo um conjunto revolucionário no conceito dos superesportivos.

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Teorias à parte, é na pista que ele exibe toda a sua raça. Acelera de 0 a 100 km/h em apenas 6s73 – um recorde na história de QUATRO RODAS –, mas não penaliza o motorista com aquele barulho próprio dos esportivos.

Atinge 215,9 km/h – outro recorde! – sem exigir malabarismos ao volante.

E, além disso, esbanja 300 cavalos de potência num motor V6 transversal, tão compacto que não macula suas formas aerodinâmicas. Difícil não se apaixonar pelo Mitsubishi 3000GT.

Impossível descrevê-lo sem um certo deslumbramento. Afinal, se não estamos falando do melhor carro do mundo, sem dúvida se trata do mais inteligente, principalmente na versão VR-4, com turbo e tração integral.

Ironicamente, este supercarro traz a assinatura dos japoneses. Logo eles, que ainda carregam a fama de copiar muito bem e criar… quase nada. Tecnologia avançada, a rigor, todos os carros modernos têm.

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Mas neste 3000GT ela foi empregada com o máximo do bom senso.Por isso, sem a tradição (e os vícios) de uma Ferrari F40 ou um Porsche 911 Turbo, o Mitsubishi 3000GT alcança desempenhos fantásticos sem sacrificar o motorista com barulho, bancos duros ou espaço interno reduzido.

E tudo isso por um preço mais acessível que os dos seus concorrentes.

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Interior com acabamento luxuoso, repleto de acessórios eletrônicos eram um diferencial do 3000GT (Divulgação/Divulgação)

Em julho, por 110 000 dólares (cerca de 44 milhões de cruzeiros). Para comparar: uma F40 custaria 1,4 milhão de dólares, enquanto um 911 Turbo sairia por 330 000 dólares.

Curioso é que a atração fatal do 3000GT não está na enorme quantidade de equipamentos de última geração a serviço de uma mecânica fantástica.

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O charme desse carro seduz imediatamente as pessoas suscetíveis a amores por automóveis. Mas, se motiva paixões à primeira vista, também é gratificante descobri-lo aos poucos – e, cada acelerada, em cada mudança de marcha, em cada frenagem, em cada tomada de curva.

Raro deve ser o motorista indiferente aos encantos desse puro–sangue. Consagrado em 1990 com “o carro importado do ano” nos Estados Unidos, o 3000GT é um projeto novo realizado em conjunto pela Mitsubishi e pela Chrysler.

Nesta, foi batizado de Dodge Stealth. Digamos que os americanos tenham pegado uma providencial carona na eficiência japonesa – e, pelo jeito, com excelentes resultados.

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Spoiler dianteiro e aerofólio traseiro com regulagem automatica, suspensão regulável eletronicamente com modo esporte e conforto, e até o escapamento, tinha regulagem de ruído…. em 1991 (Divulgação/Divulgação)

Segundo um conceito aprovado nos Estados Unidos, o Mitsubishi 3000GT faz o ato de dirigir ser mais seguro e divertido porque aumenta os limites de desempenho de um motorista médio.

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Exagero? Ora, quer dizer do 3000GT VR-4 – e, por consequência, do Stealth R/T – se até as rodas traseiras esterçam?

Eis um belo exemplo da inteligência do projeto: acima de 50 km/h, as rodas de trás se movem a 1,5 grau – pouco, sem dúvida, mas suficiente para aumentar consideravelmente a estabilidade do automóvel.

Esse sistema não tem nada a ver com o do VW Futura, que estaciona sozinho. No 3000GR VR-4, um cilindro transversal recebe graus variados de pressão hidráulica.

Posicionado junto aos braços da suspensão dianteira e ligado à caixa de direção, o cilindro atua eletronicamente, baseado na rapidez e no ângulo com que o volante é virado pelo motorista. Se o sistema quebrar, uma válvula faz a dirigibilidade voltar apenas às rodas dianteiras.

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Seis cilindros em V, duplo comando de válvulas, injeção eletrônica multiponto, sobrealimentados com dois turbos e intercoolers geram 300cv a 6 000 rpm e 42,2 mkgf de torque a 2 500 rpm (Divulgação/Divulgação)
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A suspensão é outro ponto forte dessa fera japonesa. Regulável por um botão no painel, ela fica Soft (macia) ou Sport (dura), de acordo com as exigências do motorista.

A suspensão macia absorve as irregularidades do solo sem transmiti-las para a carroceria, valorizando o conforto. Quando ela está dura, quem ganha é a estabilidade. A suspensão muda imediatamente de dura para macia se o automóvel passar por dois buracos consecutivos.

Porém, se os sensores indicarem curva, alta velocidade ou frenagem (situações que exigem mais segurança), a suspensão se mantém dura e o carro permanece estável. Em nome da geometria ideal, os engenheiros posicionaram os amortecedores verticalmente, criando uma saliência no capô.

Entre a nota 10 em aerodinâmica e a nota 10 em segurança, venceu a segunda opção. Na cor preta, o Mitsubishi 3000GT lembra o Batmóvel – rápido, bonito e cheio de truques tecnológicos. E nem precisa ser super-herói para pilota-lo com eficiência.

O spoiler dianteiro e o aerofólio traseiro são acionados automaticamente de acordo com a velocidade. Acima dos 50km/h, o spoiler baixa 8 cm e o aerofólio se inclina até 15 graus.

Assim, a pressão aerodinâmica aumenta e o carro ganha estabilidade. A regulagem aerodinâmica também pode ser feita no painel – aliás, muito bonito e de fácil leitura.

Através da metade superior do volante da direção (equipado com air bag), o motorista vê com destaque o conta-giros até 9 000 rpm (com faixa vermelha a partir dos 7.000) e o velocímetro, que marca até 180 milhas, ou 290 km/h. No centro do painel está o medidor de combustível.

À direita ficam os indicadores da temperatura da agua, da pressão do óleo e do turbo. No console estão localizados o rádio/toca-fitas e o compact disc player (todos controlados na parte de baixo do volante, para que o motorista não tire a mão da direção), além dos comandos do ar-condicionado, que merecem um capítulo à parte.

Numa tela colorida, igual à de um videogame, aparece o desenho do habitáculo do carro, do motorista sentado ao volante e do fluxo de ar, a temperatura e a velocidade do ventilador.

O conforto se completa com bancos de couro ajustáveis nas mais variadas posições, materiais de acabamento de primeiríssima qualidade e nível de ruído inferior a 65 decibéis, digno de uma nota 9.

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O farol escamoteável herança dos anos 1980, durou até 1994, quando um facelift, mudou levemente o veículo e colocou faróis com lentes envolventes (Divulgação/Divulgação)

Sentar no 3000GT para dirigi-lo é quase como vesti-lo. Tudo está no seu lugar certo e as respostas (sempre rápidas) vêm suavemente.

A embreagem não dá tranco, o câmbio obedece aos comandos, a visibilidade é excelente, a sensação de segurança é total. E não há como reclamar da potência.

Se o motor é o coração de todo carro, este não precisa se preocupar com sua expectativa de vida. Um observador distraído encontrará um motor em linha, pois somente a fileira dianteira dos cilindros fica visível sob o capô. No entanto, trata-se de um V6 de 3 litros com duplo comando no cabeçote.

Cada metade desse V6, posicionado a 60 graus, tem seu próprio turbo com intercooler. pela primeira vez esse sistema é instalado num carro de produção normal. O turbo geralmente “amarra” o motor turbo em baixas rotações, mas no 3000GT VR-4 o torque máximo (42,2 mkgf) é liberado a apenas 2 500 giros.

Tal resultado vem da perfeita combinação entre a pouca inércia dos turbos pequenos e três elementos: pistões de alumínio com paredes finas, cabeçotes de fluxo cruzado e câmaras de combustão com vela no centro. As duas válvulas de entrada e as duas de exaustão são acionadas por balancins de alumínio com rolamentos de agulha.

Nos carros menos pretensiosos, isso é feito por meio de mancais de atrito metálico. A perda de eficiência surge com o tempo. No 3000GT VR-4, cada turbo transmite sua carga de ar comprimido para os cilindros através de intercoolers. Essa combinação costuma fazer muito barulho. Não neste Mitsubishi.

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“Na cor preta, o Mitsubishi 3000GT lembra o Batmóvel”, dizia a reportagem de Quatro Rodas em Setembro de 1991 (Divulgação/Divulgação)

O escapamento normal do 3000GT realmente emite um ronco forte, típico dos esportivos. Mas o carro ainda traz uma válvula que diminui o ruído em baixas rotações. Basta apertar um botão no painel.

Acima dos 3 000 giros, esse recurso desaparece – e então surge a deliciosa sensação de dirigir uma verdadeira obra-prima.

Felizes aqueles que têm a chance de acelerar essa máquina, pois os japoneses não esqueceram uma lição básica quando o assunto é automóvel: ele existe para transportar pessoas, e as pessoas apreciam conforto no habitáculo e segurança mecânica.

A menos que se trate de um piloto de competições, ninguém gosta de sofrer com solavancos, câmbio duro e barulho comuns em automóveis esportivos.

O Mitsubishi 3000GT, ao contrário, conquista seus motoristas porque é veloz e silencioso, potente e bonito, arrojado e confortável… Ou, simplificando: irresistível.

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Capa edição de maio – 733

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