Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), além de variáveis como falhas humanas e mecânicas, problemas de infraestrutura estão entre as principais causas de insegurança viária e a solução para esse problema depende de muito trabalho e investimento.
Nos cálculos da CNT, seriam necessários R$ 94,9 bilhões para recuperação, sendo R$ 72,2 bilhões para ações emergenciais, divididos entre restauração e reconstrução. Para manutenção, ficariam os R$ 22,7 bilhões restantes. A chegada dos novos governos traz esperança nesse sentido, porque tanto na administração federal quanto nas estaduais, há planos de retomadas das obras. As prioridades anunciadas são educação e saúde. Mas segurança viária também é importante.
Dados mais recentes da CNT indicam que, apenas em 2021, 64.452 acidentes foram registrados nas rodovias federais. Um crescimento de 1,5% em relação a 2020. Destes, 52.762 resultaram em vítimas, com 5.391 vidas perdidas. Dos mais de 64.000 acidentes, 60,2% (ou 31.796) foram por colisão, enquanto o segundo lugar ficou para saída de pista (com 15,6%) e o terceiro para capotamento ou tombamento (em 12% dos casos).
Esse levantamento não detalha o que motivou os acidentes, mas outros dados da CNT permitem relacionar números de ocorrências (acidentes com ou sem vítimas) ao estado das vias. Isso porque, de acordo com a entidade, apenas 8,5% das rodovias brasileiras estão em ótimo estado geral, enquanto 40,7% têm estado “regular”.
A maior parte das vias, 50,8%, apresenta asfalto desgastado, 35% têm trincas ou remendos e 0,6% estão destruídas – mesmo que 94,3% sejam consideradas adequadas para rolamento. Além de representar o pior em 16 anos de pesquisa, o resultado mostra o lento avanço no número de trechos pavimentados, que subiu apenas 5,3% de 2011 a 2022.
A CNT pesquisa as condições das estradas observando características como geometria das pistas (falhas de projeto ou adequação de capacidade) e o estado geral de conservação, bem como a sinalização (inexistente ou incorreta) e a pavimentação.
“Placas em posição errada, faixas inexistentes, curvas acentuadas com problemas de superelevação, falta de placas de advertência antes das curvas e de dispositivos auxiliares de contenção, ausência de placas de limite de velocidade e falta de acostamento são alguns dos fatores que podem contribuir significativamente para que acidentes ocorram”, explica Bruno Batista, diretor executivo da CNT.
De acordo com a entidade, as estradas brasileiras têm, em sua maioria, placas legíveis (92,7%), mas nenhuma proteção em áreas perigosas (46,1%). A maioria é de pista simples com mão dupla (85,1%), tem perfil ondulado (55%) e não tem faixas adicionais (70,4%). Os acostamentos inexistem em 74,4% delas.
Quando classificadas por regiões, as rodovias com piores condições ficam no Norte e Nordeste do Brasil – as melhores, em contrapartida, estão no Sul e Sudeste. Não por acaso, segundo a CNT, o Nordeste tem a maior quantidade de acidentes proporcionalmente a sua população e malha viária. Em 2021, foram 11.012 acidentes com vítimas, que levaram a 1.675 óbitos. O Norte teve 2.901 acidentes, número também alto, considerando sua população de aproximadamente 18 milhões de pessoas e a menor quantidade de rodovias do país (13.901 km), sendo a maioria delas sob gestão pública e com classificação “regular” e “ruim”. Nenhuma tem classificação “ótimo”. No Sudeste, por outro lado, os 16.483 acidentes com vítimas é pouco diante dos mais de 90 milhões de habitantes e dos 27.386 km de extensão de rodovias.
A confederação promoveu um ranking que checou as condições de 510 rodovias, em 104.632 km, sendo 69.405 km de estradas federais, 35.227 km estaduais, 82.576 públicas e 22.056 concedidas. As dez melhores do país se concentram nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, quase todas concedidas. O Nordeste aparece com o 10º lugar, com a BR-101, entre as cidades de Mataraca (PB) e Caaporã (PB), que tem gestão pública. O título de melhor rodovia do Brasil fica para a Cândido Portinari (SP-334), entre os municípios de Cristais Paulistas e Ribeirão Preto (SP). Na outra ponta, Norte e Nordeste dominam com as piores rodovias, como já adiantava a divisão por regiões, e todas têm gestão pública. A Rodovia Torquato Tapajós ou Deputado Vital de Mendonça (AM-010), entre os municípios de Manaus e Itacoatiara, no Amazonas, tem classificação “péssima”.
As 10 melhores do Brasil*
Posição | Rodovia | Estado | Região | Gestão | Classificação |
1o | SP-334 | SP | Sudeste | Concedida | Ótimo |
2o | SP-332 | SP | Sudeste | Concedida | Ótimo |
3o | BR-050 | MG | Sudeste | Concedida | Ótimo |
4o | BR-050 | GO | Centro-Oeste | Concedida | Ótimo |
5o | SP-300 | SP | Sudeste | Concedida | Ótimo |
6o | BR-365 | MG | Sudeste | Concedida | Ótimo |
7o | BR-290 | RS | Sul | Concedida | Ótimo |
8o | SP-147 | SP | Sudeste | Concedida | Ótimo |
9o | SP-348 | SP | Sudeste | Concedida | Ótimo |
10o | BR-101 | PB | Nordeste | Pública | Ótimo |
As 10 piores estradas do Brasil*
Posição | Rodovia | Estado | Região | Gestão | Classificação |
510o | AM-010 | AM | Norte | Pública | Péssimo |
509o | BA-142 | BA | Nordeste | Pública | Péssimo |
508o | PE-096 | PE | Nordeste | Pública | Péssimo |
507o | PE-545 | PE | Nordeste | Pública | Péssimo |
506o | MA-034 | MA | Nordeste | Pública | Péssimo |
505o | PI-141 | PI | Nordeste | Pública | Péssimo |
504o | AC-010 | AC | Norte | Pública | Péssimo |
503o | GO-142 | GO | Centro-Oeste | Pública | Péssimo |
502o | PB-400 | PB | Nordeste | Pública | Péssimo |
501o | PB-386 | PB | Nordeste | Pública | Péssimo |
* a Confederação Nacional do transporte (CNT) pesquisou e Ranqueou 510 rodovias do país