DS 5 x Mini Clubman: o duelo dos inclassificáveis
Com algumas semelhanças e muitas diferenças, eles são ousados, chamativos e apostam na identidade própria para fugir do óbvio
Em meio à infinidade de sedãs, hatches e SUVs de características cada vez mais parecidas que povoam o mercado brasileiro, existem dois carros que fogem de qualquer classificação: DS 5 e Mini Clubman.
O primeiro parece deixar confuso até mesmo seu fabricante, a PSA, que não ousa definir seu segmento. O segundo pode ser considerado um Mini tamanho família – algo que já soa estranho dentro de uma marca caracterizada pelo nome que, desde os anos 60, remete a algo pequeno.
A estranheza dos dois encontra um rumo paralelo quando percebemos que ambos parecem um meio termo entre hatches gigantes e peruas compactas. Dimensões como entre-eixos e largura são semelhantes, assim como o peso. E o preço – pelo menos nas versões aqui exibidas – são bem próximos.
O público alvo também tem lá suas afinidades: consumidores que querem fugir do lugar comum, em busca de carros com visual chamativo e inconfundível, deixando de lado critérios estritamente racionais para apostar na emoção do diferente.
Preço
De um lado, o DS 5 em sua configuração topo de linha So Chic. Do outro, o MINI Clubman em sua versão S Top. A comparação é simples: reunimos as versões equivalentes dos modelos para tentar decifrar quem são seus respectivos compradores e por quais emoções eles são levados.
Mesmo com preços parecidos, cada um dedica seu investimento em pontos distintos. Na versão de entrada Be Chic, o francês parte de R$ 137.990. Como a avaliada, ele não sai por menos de R$ 170.980. Vale destacar que a unidade das imagens pertence à série de comemoração aos 60 anos de DS, não vendida no Brasil. O conteúdo de equipamentos, no entanto, é exatamente o mesmo comercializado por aqui.
Já o inglês começa em R$ 152.950 com a versão de entrada Exclusive. Na configuração avaliada, a Top, o preço salta para R$ 179.950 – cerca de nove mil reais mais caro que o DS5 em configuração equivalente.
Equipamentos
Aqui a disputa é acirrada. De série, o DS 5 é equipado com ar digital de duas zonas, retrovisor interno fotocrômico e externos com rebatimento elétrico, direção hidráulica, volante multifuncional, faróis bi-xenônio direcionais com acendimento automático, sensores de estacionamento dianteiro e traseiros, freio de estacionamento elétrico, câmera de ré, teto panorâmico dividido em três, head-up display, piloto automático, limitador de velocidade e chave presencial com partida do motor por botão.
A central multimídia é nova e passou a abrigar mais funções. De fácil manuseio e interface limpa, o sistema tem GPS, conexão Bluetooth, espelhamento de smartphones, além de entradas auxiliar e USB. A configuração mais completa, como a testada por nós, vem ainda com sistema de áudio Denon com 10 alto-falantes, via central, amplificador e subwoofer.
No quesito segurança são seis airbags, freios ABS com EBD, controle de estabilidade com antipatinagem, cintos de segurança com três pontos para todos e pontos de ancoragem ISOFIX.
O Clubman na versão mais luxuosa traz faróis com leds, sistema de áudio Harman Kardon, bancos em couro, teto solar panorâmico com abertura elétrica, ar digital dual zone, sensores de estacionamento traseiros, faróis e lanternas de neblina, freio de estacionamento elétrico, três modos de direção (Green, Mid e Sport), volante multifuncional, chave presencial com partida do motor por botão e abertura do porta-malas por gestos (basta passar os pés sob o para-choque).
Sensores dianteiros e câmera de ré, porém, surpreendem por serem opcionais pelos quais o comprador precisa desembolsar R$ 4.000 extras.
Estilo e acabamento
Os franceses sabem como fazer um carro chamativo com visual rico em detalhes. Com o DS 5, a tarefa mais difícil no dia a dia é passar despercebido. Agora totalmente independente da Citroën, o modelo adotou uma nova grade com contorno cromado que se liga aos faróis compostos por leds e xenônio — estes grandes e responsáveis pela assinatura visual do DS 5.
Uma barra cromada nada discreta sai do farol em direção à coluna dianteira. Para muitos, um exagero, mas faria falta se não estivesse ali. A tonalidade de azul é nova, bonita e chama bastante a atenção, como quase tudo no carro.
O interior reproduz os traços ousados do exterior. A disposição dos comandos foi inspirada nos aviões, assim como o quadro de instrumentos. No teto estão os comandos para ajustes do head-up display (que projeta informações em uma pequena lâmina transparente em frente ao motorista) e do controle das persianas dos tetos solares, que são três.
Materiais emborrachados são vistos por toda parte, junto com apliques de alumínio. Os bancos são o orgulho da DS: inspirados nas pulseiras dos relógios Cartier, são revestidos em couro semi-anilina e custam até quatro vezes mais que bancos convencionais.
Enquanto isso, o Clubman aposta na clássica identidade da marca, com linhas menos rebuscadas mas que – principalmente no Brasil – estão longe de serem discretas. Os característicos faróis redondos são iluminados por leds e xenônio, enquanto a grande abertura frontal dá caráter esportivo a ele.
O diferencial está na traseira: o porta-malas pode ser acessado por duas portas com abertura lateral, boa solução para locais apertados. As lanternas horizontais (as primeiras da história da marca) têm visual incomum e ficam inteiramente alocadas nas portas traseiras. Nesse caso, a vocação tende para a esportividade. As rodas são de 17 polegadas.
A cabine do MINI é típica: há elementos redondos por toda parte. O quadro de instrumentos é representado por três mostradores diferentes, enquanto um círculo no console central abriga a central multimídia. Há diversos pontos de iluminação espalhados pela cabine e o círculo central é rodeado de leds, que mudam de cor de acordo com o modo de direção e da função selecionada no painel.
A leitura de marcação de combustível é confusa e imprecisa, feita por um mostrador independente. Os materiais são bons, mas têm aparência mais despojada em relação ao DS.
Vida a bordo
O DS 5 honra suas formas de um carro familiar. Mesmo sem a amplitude de um sedã médio (como o próprio “primo” C4 Lounge, mais espaçoso para os ocupantes), ele leva até cinco pessoas com conforto e ainda oferece um porta-malas de 468 litros, 18 a mais que o sedã. Nos bancos dianteiros, os ajustes são elétricos e há aquecimento. Só o motorista, porém, tem ajustes de lombar, memórias de posição e massagem.
Enquanto isso, os traços de perua do Clubman se limitam ao visual. O espaço é limitado para todos os ocupantes. Diferentemente do DS, é praticamente impossível alocar três pessoas no banco traseiro. Apenas duas vão com certo conforto graças ao vão na traseira dos bancos dianteiros — mas nem pense em sobras de espaço. O porta-malas também é pequeno: são 360 litros, maior que o Cooper hatch, mas 100 litros menor que o do Citroën.
Motorização
A diferença de preços (e de proposta) se materializa aqui. O DS 5 carrega a mesma motorização do restante da linha DS: um 1.6 turbo a gasolina de 165 cv de potência a 6.000 rpm e 24,5 mkgf de torque a 1.400 rpm. Mas se esse motor faz bonito no DS3, no DS5 – com 1.480 kg, trezentos a mais que o irmão menor – o resultado é apenas mediano, com aceleração de 0 a 100 km/h em 10,6 segundos. O câmbio é o também conhecido automático de seis velocidades com opções Sport e de tráfego em neve. Com esse conjunto, o consumo ficou em 8,9 km/l (urbano) e 12,5 km/l (rodoviário).
Em contrapartida, o Clubman é equipado com um 2.0 turbo de 192 cv a 5.000 rpm e 28,5 mkgf de torque a 1.250 rpm — também apenas a gasolina. O novo câmbio é automático de oito marchas e permite trocas manuais por aletas atrás do volante, itens indisponíveis no DS 5, com trocas manuais apenas na alavanca. O menor peso e o motor mais potente em relação ao DS dão números bem mais interessantes ao Mini: ele vai de 0 a 100 km/h em 7,4 segundos e apresenta o consumo (urbano/rodoviário) de 11,1/14,9 km/l.
Ao volante
É na condução que cada um dos modelos confirma suas respectivas vocações ditadas por seus estilos e conjuntos mecânicos. O DS 5, definitivamente, foi feito para desfilar. O modelo tem comportamento semelhante ao de um sedã médio familiar, com rodar macio e confortável. A suspensão tem bons ajustes e longo curso para enfrentar grandes centros urbanos sem sofrer com trancos.
A direção, porém, transmite uma sensação pesada, e o peso elevado (aliado à motorização inferior) tira fôlego nas ultrapassagens. Um motor mais potente seria bem-vindo para um carro de mais de R$ 150.000. O funcionamento do câmbio, porém, é exemplar: as trocas são suaves e eficientes.
O caso do Clubman é muito diferente. Mesmo com peso semelhante ao do DS5 (1.465 kg), a peruinha mantém a pegada esportiva da linha Mini Cooper, com acelerações vigorosas acompanhadas de um belo e discreto ronco saído do escapamento duplo. Esqueça, porém, a suavidade ao rodar. A suspensão tem acerto mais firme em relação ao DS, com curso de amortecedores menor.
Com isso, o Mini chega a causar desconforto na cidade — mas agrada quem gosta de um carro grudado no chão. A direção é leve e o câmbio de oito marchas tem trocas rápidas e suaves.
Pós-venda
São seis revisões para o DS, até os 60.000 km, que somam R$ 5.440. A vantagem está no fato de o modelo ser vendido e atendido em toda a rede Citroën — são 127 concessionárias espalhadas pelo Brasil.
O Clubman fica atrás neste quesito. São apenas 27 concessionárias disponíveis para venda e manutenção dos modelos no país. O ponto positivo fica para o plano de revisões (ou a ausência delas) do Grupo BMW, ao qual a marca MINI pertence. Um sistema inteligente monitora todo o conjunto mecânico do veículo e alerta ao motorista, com a antecedência de duas semanas ou 2.000 km, a necessidade de substituição de algum componente, como fluidos e pastilhas de freio. O sistema detecta ainda o modo de uso do carro, diferenciando o tempo de vida útil dos componentes.
Apesar do sistema, que visa evitar gastos desnecessários, a marca dispõe de uma estimativa de gastos elevada para o Clubman até os 60.000 km: um total de R$ 11.003,74 dividido entre seis manutenções, uma troca de fluido e uma de pastilhas de freios.
Veredicto
Se você quer um carro para viajar com espaço, conforto e uma série de gadgets descobertos ao longo do convívio, vá de DS 5. Mas não tenha pressa nas viagens. Já se você preferir um modelo com pegada esportiva, espaço suficiente apenas para crianças e performance de sobra nos momentos em que estiver sozinho ao volante, vá de Clubman. Em comum, apenas a fuga do óbvio: em nenhum deles você passará despercebido.
DS 5 | MINI Clubman S | |
---|---|---|
ACELERAÇÃO | ||
0 a 100 km/h: | 10,6 s | 7,4 s |
0 a 1000 m: | 32,1 s | 28 s |
VELOCIDADE MÁXIMA | 211* | 228* |
RETOMADA | ||
De 40 a 80 km/h: | 4,5 s | 3,1 s |
De 60 a 100 km/h: | 5,7 s | 3,8 s |
De 80 a 120 km/h: | 7,2 s | 4,7 s |
FRENAGENS | ||
60/80/120 km/h – 0 m: | 16,2/28,1/64,5 m | 16,1/28/65,5 m |
CONSUMO | ||
Urbano: | 8,9 km/l | 11,1 km/l |
Rodoviário: | 12,5 km/l | 14,9 km/l |
* : Dado do fabricante |
DS 5 So Chic (Pack Club) | MINI Clubman S Top | |
---|---|---|
Preço: | R$ 170.980 | R$ 179.950 |
Motor: | gas., diant., transv., 4 cil., 16V, injeção direta, 77 x 85,6 mm, 1.598 cm³, 9,5:1, 165 cv a 6.000 rpm, 24,5 mkgf a 1.400 rpm | gas., diant., trans., 4 cil., 16V, injeção direta, 82×94,6, 1.998 cm³, 11:1, 192 cv a 5.000 rpm, 28,5 mkgf a 1.250 rpm |
Câmbio: | automático, seis marchas, tração dianteira | automático, oito marchas, tração dianteira |
Suspensão: | independente McPherson (diant.), eixo de torção (tras.) | independente McPherson (diant.), multilink (tras.) |
Freios: | discos vent. (diant.), discos sólidos (tras.) | discos vent. (diant.). discos sólidos (tras.) |
Rodas e pneus: | liga leve, 235/45 R18 | liga leve, 205/45 R17 |
Dimensões: | comprimento, 453 cm; altura, 153,9 cm; largura, 187 cm; entre-eixos, 273 cm; peso, 1.480 kg; porta-malas, 468 l; tanque de combustível, 60 l | comprimento, 425,3 cm; altura, 144,1 cm; largura, 180 cm; entre-eixos, 267 cm; peso, 1.465 kg; porta-malas, 360 l; tanque de combustível, 48 l |