Um levantamento da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) mostra que a potência dos carros vendidos por lá quase dobrou nos últimos 42 anos. Ao mesmo tempo, o consumo caiu pela metade.
O ponto de partida para a pesquisa é o ano de 1975, quando a indústria automotiva americana começava a se adaptar aos efeitos da Crise do Petróleo. O Brasil tentou contornar a situação com o Próalcool; nos EUA a alta nos preços do ouro negro deu origem a carros estranhos, como o Ford Mustang 2.3 aspirado com 90 cv.
Em meio à crise, a EPA estabeleceu que a indústria automotiva deveria atingir uma meta de consumo de 11,7 km/l (25 milhas/galão) até 1985 – àquela altura, o consumo médio estava na casa dos 6 km/l.
O jeito mais fácil e barato de alcançar a meta foi reduzir o deslocamento e a potência dos veículos. Se em 1975 a média era de motores 5.3 L com 147 cv, em 1983 o deslocamento médio caiu para 2.4 L, com algo ao redor dos 100 cv.
Como mostra o gráfico abaixo, elaborado pela Bloomberg, a potência dos automóveis só voltou a subir nos anos seguintes. Os 147 cv de 1975 só foram retomados em 1990, mas com algum avanço: a média de deslocamento dos motores havia baixado para cerca de 3.0 L.
Hoje, a média de potência dos carros vendidos nos EUA é de 287 cv. Para efeito de comparação, em 1976 o carro mais potente à venda nos Estados Unidos era o Aston Martin DBS, com 289 cv, pouco mais que um Toyota Camry atual.
Os carros americanos também estão mais rápidos. A maioria dos enormes V8 de 42 anos atrás só tinha belos roncos: a média de aceleração de 0 a 60 mph (96 km/h) em 1975 era de 14,1 segundos. Em 2016, foi de 7 s.
Após 1985 houve altos e baixos nas médias de consumo até 2008, quando a bebedeira voltou a cair. Isso não aconteceu por boa vontade das fabricantes, mas pela EPA ter estabelecido uma nova meta de eficiência: alcançar média de 14,9 km/l até 2020.
Evoluindo ano a ano, a média de consumo chegou aos 12,5 km/l em 2016. Desta vez, porém, a tecnologia conseguiu conter a perda de potência.
O Chevrolet Camaro é um bom exemplo. Sua nova geração tem versão de entrada com motor 2.0 com turbo e injeção direta de 274 cv. Além disso, seu motor V8 6.2 é mais moderno que o anterior: além dos 461 cv (antes, tinha 436 cv), tem sistema de desativação de quatro cilindros quando não são necessários. Além disso, trocou o câmbio automático de seis marchas por um de oito.
Outra coisa que ajuda nos números de eficiência é o peso. Em 1975 o Camaro básico pesava 1.815 kg. Já seu equivalente moderno tem 1.587 kg, mesmo com toda a tecnologia embarcada e as estruturas de segurança de um carro moderno.
O Camaro é apenas um exemplo de carro que foi vendido continuamente nestas quatro décadas. Mas esta evolução é percebida em todos os carros de todos os segmentos. E, sinceramente, em todos os mercados – até no Brasil. Mas sempre com uma “pequena” ajuda dos governos.