A Allard Motor Company foi fundada em 1946, pelo piloto inglês Sydney Allard. Seu sucesso foi consolidado em 1949 com o lançamento do roadster J2, cuja história tem início em 1948, ano em que o engenheiro Zora Arkus-Duntov ingressa na Allard após encerrar as atividades da Ardun Mechanical Corporation, nos EUA, dedicada à produção de cabeçotes de alumínio com válvulas e câmaras de combustão hemisféricas para motores Ford V8 de cabeça plana.
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Sydney e Duntov logo perceberam o potencial do J2 no mercado norte-americano, com grande interesse nos esportivos europeus.
O J2 representava uma grande evolução sobre o J1 de 1946, mantendo a carroceria estreita, habitáculo pouco à frente do eixo traseiro e o longo capô que abrigava o motor V8 Ford (3,6 litros) ou Mercury (4,2 litros), sempre acoplados ao câmbio Ford de três marchas. Não havia nenhuma preocupação com o estilo. Suas formas eram definidas pela funcionalidade.
Independente, a suspensão dianteira manteve o esquema básico de dois braços transversais desenvolvido por Leslie Ballamy, aprimorado com o emprego de molas helicoidais.
O grande trunfo do J2 estava na suspensão traseira De Dion, com diferencial fixo ao chassi para a drástica redução do peso não suspenso do eixo traseiro. A preocupação era tanta que os freios traseiros eram posicionados nas laterais do diferencial.
Os motores Ford e Mercury tinham a opção de receber os cabeçotes Ardun com válvulas no cabeçote oferecido pela própria Allard, mas a baixa confiabilidade dos componentes fez com que muitos J2 deixassem a fábrica equipados com o novíssimo V8 Cadillac de 5,4 litros e 160 cv. E foi justamente com o motor da General Motors que o Allard J2 entrou para a história do automobilismo mundial.
Em dupla com o piloto Tom Cole, Sydney Allard levou o J2 ao terceiro lugar nas 24 Horas de Le Mans de 1950, superando fortes concorrentes como Aston Martin, Bentley e Jaguar. Só não venceram a prova devido à má sorte: o câmbio Ford perdeu as duas primeiras marchas na manhã do domingo, não restando outra alternativa senão terminar a prova na terceira e última marcha. Era o que bastava para consolidar a lenda do J2.
Como esperado, o J2 fez um sucesso estrondoso nos EUA, para onde era exportado sem mecânica: além do motor Cadillac, muitos compradores optaram por equipar seus Allards com motores Oldsmobile Rocket ou Chrysler FirePower, sempre com válvulas no cabeçote que permitiam taxas de compressão mais altas. O piloto Carroll Shelby iniciou sua vitoriosa carreira ao volante de um Allard J2.
O J2 que ilustra esta reportagem foi trazido ao Brasil no início da década de 1950 pelo piloto paulista Pedro Romero Filho e teve resultados excepcionais no cenário automobilístico brasileiro. Foi o primeiro automóvel a completar uma volta no autódromo de Interlagos em menos de quatro minutos, superando Ferrari, Maserati e outros carros de ponta.
Sempre em boas mãos, foi adquirido pelo colecionador Flávio Marx no início da década de 1980. “O Allard J2 era um dos automóveis favoritos do acervo do meu pai”, conta o empresário Maurício Marx, proprietário da loja especializada em antigos Universo Marx. “É um automóvel tão íntegro e confiável que mesmo após uma extensa carreira nas pistas ainda era utilizado diariamente. Fui e voltei da escola várias vezes a bordo dele.”
Cerca de 90 unidades do J2 foram produzidas até 1951, ano em que foi sucedido pelo modelo J2X.
Seu legado de vitórias se estendeu por quase toda a década de 1950: o pequeno fabricante do distrito londrino de Clapham não conseguiu manter sua competitividade frente ao poderio econômico dos concorrentes e encerrou suas atividades em 1959. Sydney Allard morreu em 1966, vitimado por um câncer.
Ficha técnica
Motor: 8 cilindros em V de 5,4 litros
Potência: 160 cv a 3.800 rpm
Torque: 43,1 kgfm a 1.800 rpm
Câmbio: manual de 3 velocidades, tração traseira
Carroceria: aberta, 2 portas, 2 lugares
Dimensões: comprimento, 393 cm; largura, 172 cm; altura, 116 cm; entre-eixos, 254 cm; peso, 940 kg
Desempenho: aceleração de 0 a 96 km/h: 7,4 segundos; velocidade máxima de 196 km/h