Certos carros são como divisores de águas na história de suas marcas. Na trajetória da BMW, pode-se dizer que a chamada Nova Classe (em alemão, Neue Klasse) simbolizou a entrada da marca em sua fase de prestígio atual.
Desde 1928, quando foi formada como divisão automotiva de um fabricante de aviões, até os anos 50, a linha da Bayerische Motoren Werke (Fábrica de Motores Bávara) apresentava um vácuo entre produtos simplórios e outros de grande sofisticação.
No início dos anos 60 ainda prevalecia essa disparidade, mas a BMW já sabia que precisava de um carro intermediário para ganhar o volume de vendas que os carros-bolha Isetta (primo da nossa Romi) e 600 não atingiram. Apresentada no Salão de Frankfurt de 1961, a Nova Classe materializou-se no sedã BMW 1500, um projeto 100% novo e que culminaria no celebrado BMW 2002.
Era o carro que faltava para a marca passar da então época de apreensão para a atual fase de consagração. O motor 1.5 de 80 cv do 1500 era o primeiro quatro-cilindros da BMW desde os anos 30. Já em 1963 viria a versão 1800 (90 cv), que daria origem às versões de alto desempenho, que podiam chegar a 180 cv. Em 1964, o modelo 1600 – com motor 1.6 de 83 cv – aposentaria o 1500.
O sedã BMW 2000 só nasceu em 1966, trazendo, como indicava o nome, um motor de 2.000 cm3 de 100 cv e agora com faróis retangulares. No mesmo ano nasceu o cupê 1600-2 (a cilindrada e o número das portas, para distingui-lo do sedã 1600), com entre-eixos reduzido de 2,55 para 2,50 metros, mas os mesmos 83 cv.
Menor e mais leve, seu objetivo era resgatar a imagem esportiva da BMW, perdida nos anos 30. A frente não trazia os novos faróis retangulares do sedã, mantendo lentes simples e circulares. A dirigibilidade, aliada ao visual mais informal, atingira a meta em cheio. O comportamento foi comparado elogiosamente ao dos esportivos Alfa Romeo.
Dos Estados Unidos, veio o pedido do importador Max Hoffman (aquele mesmo que pediu à Mercedes-Benz para criar a versão de rua do Asa de Gaivota), sugerindo à BMW um carro com a mesma proposta esportiva do 1600-2, porém mais potente.
Assim nasceu o BMW 2002, cujo nome espremeu num único número a cilindrada e o total de portas. Uma versão tão bem acolhida que costuma identificar a Nova Classe como um todo. Esta seria enriquecida pelas versões Touring (hatch) e Targa, como o modelo 1973 das fotos.
E foi justamente o BMW 2002 de 100 cv que protagonizou a escalada de potência que passou pelos 120 cv do 2002 Ti e chegou aos 170 cv do cultuado 2002 Turbo de 1973, um dos primeiros modelos europeus turbinados. Foi o ponto mais alto de uma carreira que – exceto pela econômica versão 1502, que durou mais dois anos – se encerraria em 1975 com o BMW Série 3.
Ficha Técnica – BMW 2002 Turbo
- Motor: 4 cilindros em linha, 2 litros
- Potência: 170 cv a 5.800 rpm
- Câmbio: manual de 5 velocidades
- Dimensões: comprimento, 422 cm; largura, 162 cm; altura, 141 cm; entre-eixos, 250 cm
- Desempenho: 208 km/h e 0 a 96 km/h em 6,9 segundos