Os carros chineses ainda são motivo de receio para muitos compradores. Por causa desta dose de desconfiança, o valor de revenda desses automóveis são mais baixos do que o de similares. Segundo o índice de depreciação dos veículos, divulgado pela agência Auto Informe, com base na tabela Molicar de preços, os chineses são os que mais se desvalorizam em suas categorias.
Na tabela abaixo é possível observar a desvalorização média entre julho de 2011 e julho de 2012 dos modelos nacionais e de modelos chineses da mesma categoria. Para efeito de comparação, foram selecionados alguns dos carros mais vendidos das montadoras Chery, JAC e Lifan. Veja a seguir:
As diferenças são maiores em alguns casos, como o do Chery QQ, que teve uma depreciação de 8,7 pontos percentuais acima do Celta. E em outros casos são mais sutis, como entre o JAC J6 e o Zafira. Como os populares costumam ter demanda alta e constante, sua depreciação é a menor do mercado, o que acentua a diferença em relação aos chineses. E no caso dos carros mais caros, como há menor procura na revenda, a desvalorização é mais alta mesmo entre os nacionais, e por isso não se distancia tanto da depreciação dos chineses.
O fato de os chineses serem os mais depreciados de suas categorias, contudo, tem uma explicação comum: o preconceito com os produtos chineses e o fato de o carro ser importado. “Os produtos chineses têm uma imagem de algo descartável no Brasil. Eles são associados, por exemplo, aos produtos da 25 de Março [rua de comércio popular de São Paulo]. Por isso, perdem até mesmo de outros importados”, explica o diretor da Auto Informe, Joel Leite.
E pelo fato de serem carros importados, quando eles precisam passar por um reparo ou uma reposição, as peças são trazidas de fora e podem demorar a chegar no Brasil. É justamente por isso que algumas montadoras preferem já vender o carro completo.
Além disso, como as chinesas ainda são relativamente novas no país – marcas como Chery e JAC, chegaram há menos de quatro anos – é mais difícil encontrar oficinas especializadas nas marcas e concessionárias do que em relação aos nacionais. Na hora de comprar um usado, as concessionárias costumam buscar em outras lojas os mesmos modelos para avaliar se estão fazendo um bom negócio. Sem uma boa base de comparação, algumas acabam desmotivadas a concretizar a compra.
Outros importados também costumam sofrer maior desvalorização por estes motivos, mas o “preconceito” deprecia mais os chineses do que os coreanos e japoneses. Leite acredita, porém, que assim como os outros asiáticos, os chineses também devem cair no gosto dos brasileiros com o tempo. “No começo dos anos 1990, os japoneses eram vistos como os piores carros. Depois chegaram os coreanos e tiveram muito preconceito. Quem tinha carro da Kia precisava explicar por que comprou o carro e hoje o coreano é um carro de grife”, compara.
Se a intenção é trocar o carro em pouco tempo, os chineses não são uma boa opção para o comprador, que pode se desapontar com o baixo valor de revenda. No entanto, se a intenção é ficar com o carro por alguns anos, a compra pode valer a pena do ponto de vista financeiro.
Em primeiro lugar, eles são muito mais fartos em itens de série do que os nacionais. “O chinês é um carro que vem completo de fábrica ao preço de um carro popular pelado. O consumidor se sente valorizado: tudo que as grandes montadoras não deram estes anos, eles estão ganhando com o chinês”, avalia Leite.
O Chery QQ, motor 1.0, cinco portas, tem como itens de série ar-condicionado, direção hidráulica, travas elétricas, vidros e retrovisores elétricos, CD player, airbag e ABS. Atualmente, é um dos carros novos mais baratos do mercado, vendido nas concessionárias por um valor médio de 23.822 reais, segundo a tabela Fipe (valor médio dos carros vendidos com opcionais ou sem). O Celta, motor 1.0, cinco portas, por exemplo, tem valor inicial sugerido pela montadora de 24.468 reais (sem opcionais) e não possui os itens de série acima citados.
Apesar dos problemas na reposição das peças, os carros chineses podem ter custo de peças menores, já que os preços são proporcionais aos valores do carro completo. Até o momento, o melhor indicativo sobre isso é uma pesquisa do Cesvi, órgão dedicado à segurança viária e veicular, que avaliou o custo de reparabilidade de dois veículos chineses, o J3 e o J3 Turin. Os dois carros ficaram com 13 pontos em uma escala que vai de 10 a 60, sendo 10 a melhor nota. Com este resultado, os carros da JAC ficaram entre os cinco melhores no ranking de reparabilidade do mercado nacional, que avalia custos e o tempo que o carro fica na oficina.
Outra vantagem dos chineses é o prazo de garantia, mais extenso do que no caso dos nacionais. Os veículos da JAC, por exemplo, vêm com seis anos, enquanto boa parte dos veículos comercializados no mercado brasileiro tem garantia de três anos.
Contras: Segurança e motor movido a gasolina
Saindo do aspecto financeiro, outros pontos podem não compensar a compra do chinês. Um dos principais motivos de preocupação em relação a estes carros é a segurança.
Ainda não foram realizados muitos testes, mas o Chery QQ, por exemplo, foi submetido a um crashtest no padrão EuroNCap em 2006 e obteve resultados ruins. A Chery, porém, defende que reformas estruturais foram feitas desde então. Por outro lado, a pesquisa da Cesvi realizada com o J3 e do J3 Turin, conclui que o índice de segurança de ambos os carros foi considerado satisfatório.
Outro fator contrário aos chineses é que a maioria deles não tem motor flex. E apesar de os preços do álcool ficarem elevados na entressafra da cana-de-açúcar, fora deste período, os preços costumam ser mais vantajosos que os da gasolina na maior parte dos estados brasileiros.