Carros híbridos flex e motores mais eficientes são o caminho para o Brasil
Painel discute como a renovação da frota nacional com tecnologias acessíveis e aliadas ao etanol irão acelerar a descarbonização no país
Qual é o caminho para a descabonização no Brasil? Ainda aguardando as regras do chamado IPI Verde do Programa Mobilidade Verde, a indústria automotiva ainda olha para os carros híbridos aliados ao etanol como a solução mais rápida e prepara-se para que este seja o destino dos investimentos para os próximos anos no país.
Esta foi a discussão do painel “Os carros híbridos podem ser considerados uma solução de mobilidade sustentável para o Brasil?”, realizado no Fórum Direções Quatro Rodas 2024 na última terça-feira (20).
Ricardo Gondo, presidente da Renault Brasil; Roberto Braun, diretor de comunicação da Toyota do Brasil; e Henry Joseph Junior, diretor técnico da Anfavea, debateram sobre o futuro da indústria, como os híbridos flex terão um papel essencial para cumprir as novas normas de emissões e como as tecnologias irão conviver por muitos anos.
A Renault já tem carros elétricos, com o Kwid E-Tech, Kangoo E-Tech e o Megane E-Tech nas lojas, e trabalha para produzir um motor híbrido em breve, parte do investimento de R$ 2 bilhões para produzir um inédito SUV médio em São José dos Pinhais (PR). Esta variedade de tecnologias está alinhada com a visão de Gondo, de que “iremos convier com todas as tecnologias no Brasil por um período longo”.
O executivo não vê o fim dos motores a combustão no Brasil tão cedo, não só por conta do etanol, mas também pelo problema dos custos. “Quanto menor o veículo, maior o peso de uma nova tecnologia em seu custo, mesmo um híbrido leve”, comentou Gondo, lembrando que mesmo um carro de entrada hoje não é barato.
Ter um motor a combustão mais eficiente pode contribuir mais para a descarbonização do que se imagina. O presidente da Renault cita a idade da frota brasileira e a necessidade de renová-la, trocando os veículos nas ruas por modelos mais atuais e com motores menos poluentes, citando o Kwid como um exemplo, por ser mais eficiente do que modelos maiores eletrificados.
“Hoje temos a Horse, nossa empresa de desenvolvimento de motores a combustão em parceria com a Aramco e Geely, com a missão de criar tecnologias mais eficientes”, complementa.
Este é o mesmo caminho defendido pela Toyota. A fabricante japonesa foi a primeira a abraçar os híbridos e ainda os vê como a melhor solução no momento, ainda mais ao aliar a tecnologia com o etanol no Brasil.
“O carro híbrido flex combina com o Brasil, por combinar o uso do biocombustível e dispensar carregadores. O Brasil tem um território muito extenso e de dimensões continentais, é muito mais fácil encontrar etanol em um dos 43 mil postos de combustível espalhados pelo país”, argumenta Roberto Braun, lembrando da falta de infraestrutura de recarga para híbridos plug-in e elétricos.
Hoje, a Toyota ainda é a única fabricante a produzir carros híbridos no Brasil e, mesmo com a chegada dos modelos híbridos-leve de outras marcas a partir deste ano (como da Stellantis), ainda será a única a ter um veículo com a tecnologia híbrida completa (HEV).
Presente na dupla Corolla e Corolla Cross, esta tecnologia estará no inédito Yaris Cross, que chegará ao mercado no ano que vem; e em um segundo modelo mantido em segredo pela marca – informações do sindicato de Sorocaba (SP) adiantam que será uma picape intermediária do porte da Toro, Montana e Oroch.
Mesmo que a indústria esteja seguindo o caminho do híbrido flex, ainda há uma expectativa pela definição de diversas regras do governo, principalmente do IPI Verde. “O IPI Verde foi debatido em várias reuniões das quais participamos, mas não sabemos exatamente o que vai ser publicado. Estamos aguardando o decreto”, afirma Henry Joseph Junior.
O consultor técnico manteve-se em cima do muro, lembrando do trabalho feito pelos governos anteriores para os regimes automotivos do passado, como o Inovar-Auto e Rota 2030, o que deu uma direção para a indústria. Porém, também lembra de que ainda falta alinhamento do governo para tomar decisões conjuntas ao invés de fragmentadas.
“Um dia alguém pode trazer a ideia de um novo item obrigatório, o que leva a um investimento e um custo para adotar, para pouco tempo depois aparecer outra proposta. Todo o processo fica mais custoso do que ter um pacote de mudanças com um prazo definido”, explica.
Este é o motivo pelo qual ainda existe muita apreensão sobre o decreto do IPI Verde, por possíveis mudanças tanto no texto final quanto em decisões paralelas, como foi o caso do Imposto Seletivo da reforma tributária, que incluiu os carros (mesmo os elétricos) na cobrança junto com bebidas e cigarros. “O próprio Mover fala em tributação mais sustentável a partir de 2027. É nesse contexto que esperamos que o híbrido seja devidamente contemplado.”