Esqueça motores, suspensão ou longarinas: o que definirá a construção dos próximos carros da Jaguar Land Rover serão poucos e poderosos chips, responsáveis por toda a eletrônica e automação dos modelos. Em parceria recém-anunciada com a Nvidia, a JLR se prepara para inverter a lógica de desenvolvimento amparada por ambições consideráveis.
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Concentrando desde o sistema de ABS até o piloto automático adaptativo em poucos componentes, a fabricante inglesa espera um salto de eficiência que tornará possível um grau inédito de automação veicular. Como o processamento de dados para uma automação de nível 3 ainda é extremamente complicado, a proposta da Nvidia se tornou vantajosa. Tão vantajosa que a Jaguar esperará três anos para lançar seu próximo modelo.
A empresa americana de tecnologia acredita que seus chips veiculares trarão algo sem precedentes, oferecendo uma experiência de conforto “nunca vista”, ao automatizar o máximo de tarefas que hoje são feitas pelo motorista. “Temos tudo para transformar os veículos da Jaguar Land Rover em verdadeiros carros do futuro”, comentou o executivo da Nvidia para a América Latina Marcio Aguiar.
Carro gamer
Assim, daqui a três anos os novos veículos das duas marcas serão equipados com o DRIVE Orin (que já exploramos na seção Novas Tecnologias), do tipo system-on-chip (SoC). Em linhas gerais, o Orin une toda a parte de software e hardware em uma pequena pecinha, capaz de realizar 254 trilhões de cálculos por segundo.
Isso é absolutamente necessário para a automação veicular, dado que as dezenas de radares, câmeras e outros sensores embarcados geram cerca de 4 terabytes de dados por hora de viagem. Tal vastidão precisa ser analisada e interpretada em tempo real, a fim do computador que dirige o veículo tomar sua decisão que, outrora, seria feita pelo cérebro humano alimentado pelos sentidos.
Por oferecer supostas vantagens econômicas, o system-on-chip vem sendo escolhido por montadoras também pela praticidade: ao invés de, literalmente, milhares de chips comandando da central multimídia à pressão do turbo, os SoCs conseguem centralizar quase tudo, comandando o automóvel como uma grande sala de controle à la Nasa.
Reimaginação
Obviamente treinar um carro autônomo é tão difícil quanto criar tecnologia para operá-los, e o acordo entre JLR e Nvidia também inclui ferramentas para aprendizado de máquina. Os sistemas de direção automática também serão testados no metaverso que a Nvidia está lançando.
O investimento (sem custos revelados) também faz parte da estratégia Reimagine, que busca ditar os rumos da dupla de fabricantes de luxo. Em termos estéticos, por exemplo, a missão envolve discernir o que será brega ou chique no ano de 2025, tendo a sustentabilidade como obrigação.
Já no campo da engenharia, a Jaguar Land Rover disse, em conversa recente com QUATRO RODAS, que se vê cada vez mais como uma empresa digital, e conta com a tecnologia da Nvidia para chegar ao patamar desejado. “A Jaguar Land Rover se tornará a criadora dos veículos e serviços de luxo mais desejados do mundo para os clientes mais exigentes”, acrescentou o CEO Thierry Bolloré.
Com tanta parafernália envolvida, é natural que a criação dos novos modelos seja definida pela tecnologia. Segundo a empresa queridinha dos gamers, haverá não apenas recursos de automação veicular, mas inteligência artificial entendo e agradando os passageiros, como um mordomo online.
Para evitar o excesso de informações, os carros da JLR também adaptarão seus painéis, instrumentos e telas, que tendem a ser bem mais simples do que atualmente, delegando configurações para a máquina. Hoje referência na automação veicular, a Mercedes-Benz é prova viva de que questões legais e até sociais devem ser mais bem trabalhadas, a fim de evitar dilemas diversos envolvendo a automação.
Como os primeiros veículos de Jaguar e Land Rover só sairão com a tecnologia SoC a partir de 2025, porém, espera-se que, até lá, exista maior ordenamento jurídico acerca de motoristas não de carne e osso, mas de bits e semicondutores.