A crise de 1929 foi a pior e mais longa recessão econômica do século 20, afetando o segmento de automóveis de luxo durante todos os anos 1930.
Lastreado pela fortuna de Henry Ford, o filho Edsel Ford não poupou recursos para desenvolver o Lincoln Modelo K, que surgiu em 1931 para enfrentar concorrentes da Duesenberg, Packard e Cadillac.
Maior e mais baixo que o Modelo L, produzido de 1920 a 1930, o Modelo K manteve o V8 de 6,3 litros, mas com rendimento 33% superior.
Taxa de compressão mais alta, curva de ignição revista e dois carburadores Stromberg fizeram a potência saltar de 90 para 120 cv, firmando o prestígio da Lincoln e melhorando sua participação no mercado.
O Modelo K era produzido como chassi rolante: o estilo dependia da encarroçadora contratada. A grande maioria foi entregue pela Judkins, especialista em cupês e sedãs.
Dietrich, Brunn e LeBaron cuidavam dos conversíveis, enquanto as limousines ficavam a cargo da Willoughby. Os mais raros foram produzidos pela Murphy e Waterhouse.
Edsel sabia que só qualidade não bastava: precisava de um motor maior e mais sofisticado. Marmon e Cadillac brilhavam no imaginário popular com um V16 e a Cadillac ainda oferecia um V12 mais barato que o do Modelo K.
Packard e Pierce-Arrow também desenvolveram seus V12 e a Lincoln não poderia ficar atrás.
Em 1932, o modelo K dividiu-se em duas versões: o KA com entre-eixos encurtado para 3,45 metros e V8 de 6,3 litros e o KB com o novo V12 de 7,3 litros e 150 cv.
Mais potente que o Cadillac V12, o KB ia até os 160 km/h. Parar seus 2.500 kg era tarefa para os freios Bendix Duo-Servo com acionamento mecânico e tambores aletados.
Em 1933, o KA trocou o V8 por um novo V12 desenvolvido pelo chefe de engenharia Frank Johnson, com cabeçotes de alumínio, 6,3 litros e 125 cv.
Havia melhorias em chassi, câmbio, suspensão e freios e pela primeira vez a Lincoln apresentava carrocerias próprias.
Mas, mesmo após vários aperfeiçoamentos, as vendas caíram com a crise. Para reduzir custos, os dois V12 foram trocados em 1934 por por um V12 de 6,8 litros baseado no V12 Johnson.
Menor e mais leve, o novo motor foi reposicionado mais à frente no chassi para melhorar o espaço interno da cabine.
Com mais de 2.000 unidades produzidas, esse foi o ano de maior sucesso, mas a Lincoln continuava deficitária.
Reestilizado em 1935, ele voltou a se chamar apenas K, ocasião em que Edsel decidiu focar a produção nas versões mais caras encarroçadas por LeBaron, Brunn, Judkins e Willoughby.
O motor passou a ter o trem de válvulas roletado, a suspensão foi recalibrada e o câmbio recebeu sincronizadores mais eficientes para melhorar a dirigibilidade.
A situação financeira da Lincoln só estabilizou em 1936 com a produção em larga escala do Lincoln-Zephyr V12, que tinha estrutura monobloco e estilo avançado por uma fração do preço do Modelo K.
A novidade obrigou Edsel a promover a reestilização mais radical do K em 1937, com faróis integrados nos para-lamas e porta-malas incorporado à carroceria.
É dessa época o Touring Willoughby de sete ocupantes acima, um dos dois feitos em 1938. Foi importado pelo governo do estado de São Paulo e transportou autoridades como Getúlio Vargas, Charles de Gaulle e a rainha Elizabeth II.
Também serviu ao papa João Paulo II na sua primeira visita ao Brasil, época em que integrou o acervo do colecionador Og Pozzoli.
Já o Lincoln K que serviu ao presidente Franklin Roosevelt na Segunda Guerra foi um sedã encarroçado pela Brunn em 1939, pouco antes do fim da produção.
As últimas unidades foram vendidas como ano/modelo 1940 e até hoje representam o grau máximo do comprometimento de Edsel Ford com a produção do melhor e mais sofisticado automóvel americano.
Ficha técnica
Lincoln Modelo K 1938 Touring by Willoughby
- Motor: V12 de 6,8 litros; 150 cv a 3.800 rpm; torque não divulgado
- Câmbio: manual de 3 marchas
- Carroceria: aberta, 4 portas, 7 lugares
- Dimensões: comprimento, 533 cm; largura, 190 cm; altura, 161 cm; entre-eixos, 368 cm; peso, 2.612 kg
- Desempenho: 0 a 100 km/h não declarada; velocidade máxima de 160 km/h