Clássicos: Willys Itamaraty, o carro de presidentes e magnatas
Idealizado para satisfazer os mais altos padrões sociais, o Itamaraty Executivo levou até a rainha da Inglaterra
Variante requintada do Aero Willys 2600, o Willys Itamaraty surgiu em 1966 para cativar um público disposto a pagar por um acabamento interno mais luxuoso e inúmeros itens de conforto.
Foi tão bem recebido no nosso mercado que serviu de base para a primeira limusine nacional: o Willys Itamaraty Executivo.
A estratégia foi promovida pelo presidente da Willys, o engenheiro William Max Pearce. Foi ele que apresentou o Aero Willys 2600 no Salão de Paris de 1962.
Sua iniciativa deu projeção internacional ao departamento de estilo da marca, chefiado por Roberto Araújo e supervisionado pelo catalão José Maria Ramis Melquizo.
Egresso do Liceu de Artes e Ofícios e da Escola de Belas Artes de São Paulo, Ramis foi o responsável pelo desenho do Itamaraty Executivo.
Idealizada para o conforto de dignitários e personalidades da alta sociedade, a limusine manteria o prestígio da Willys frente aos novos sedãs que seriam apresentados por Ford, GM e Chrysler no final da década.
Fazendo jus ao nome, o Executivo não escondia o objetivo de atender a Presidência da República.
A ambição fez a imprensa especular sobre o emprego de vidros balísticos e carroceria blindada, mas a expectativa do público só seria satisfeita no 5º Salão do Automóvel, ocasião em que o primeiro Executivo modelo 1967 foi entregue ao marechal Castello Branco.
Pela primeira (e única) vez um nacional figurava no seleto rol das limusines, segmento que reunia modelos como Cadillac Fleetwood 75, Mercedes 600 Pullman, Daimler Majestic, Rolls-Royce Phantom V e Chrysler Imperial.
Artesanal, ele era produzido em conjunto com a Karmann-Ghia, responsável pelos 72 cm a mais entre os eixos.
E não se tratava de um simples alongamento da carroceria, pois, como em toda limusine, as portas traseiras eram afastadas das caixas de roda.
Para evitar vibrações, o cardã tornou-se bipartido. O Executivo Standard era menos luxuoso, mas oferecia cinco lugares atrás: três no banco traseiro e dois em pequenos bancos retráteis.
Trazia rádio, toca-fitas de cartucho, apoio móvel para os pés, detalhes de acabamento em jacarandá-da-baía, ar-condicionado e uma pequena placa destinada a ostentar o nome do dono.
O Executivo Especial perdia um lugar no banco traseiro, tomado por um console central com gravador de voz Sony, barbeador Remington Roll-a-Matic, toca-fitas de cartucho, um compartimento para guardar as fitas, comando das luzes internas e acendedor de cigarros. Custava o equivalente a dois Willys Itamaraty.
Comum a ambos era o vidro elétrico separando motorista de passageiros. O espaço traseiro era quase sempre de couro na cor havana, enquanto o habitáculo do motorista recebia couro preto.
A tarefa do condutor era limitada pelo espaço exíguo e pela ausência de câmbio automático, mas a direção de relação alta (24:1) é leve.
A produção contabilizou 27 unidades, sendo que duas são protótipos: a encomenda oficial feita à Karmann-Ghia foi de 25 unidades. Como não havia um padrão, muitas delas têm personalidade própria.
Alguns têm histórias curiosas, como o Especial número 4 do governo de São Paulo, que foi metralhado num atentado em 1968.
Poucos particulares chegaram a desfrutá-lo, pois a maioria foi adquirida por empresas, governos estaduais, tribunais e ministérios.
Ele serviu nada menos que sete presidentes da República e transportou autoridades como o príncipe Akihito e a princesa Michiko, do Japão; a ex-primeira-ministra indiana Indira Ghandi; e a rainha Elisabeth II, da Inglaterra.
Sua notória carreira foi bem documentada por José Antonio Vignoli, dono deste exemplar em perfeito estado. Apaixonado pela Willys, ele é autor de um livro que não só registrou a história da marca como reconheceu a influência de cada profissional no desenvolvimento do Itamaraty Executivo, um dos carros mais exclusivos de nossa indústria.
Ficha técnica – Willys Itamaraty Executivo
- Motor: longitudinal, 6 cilindros em linha, 3.014 cm³, comando de válvulas simples no bloco, carburador duplo; 132 cv a 4.400 rpm; 22,2 mkgf a 2.000 rpm
- Câmbio: manual de 4 marchas, tração traseira
- Dimensões: comprimento, 552 cm; largura, 184 cm; altura, 157 cm; entre-eixos, 345 cm; peso, 1.684 kg
- Pneus: diagonais, 7.75 15
- Preço (fev. de 1967): Cr$ 27.003.000
- Preço atualizado: R$ 314.900