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Como o fracasso do Fusca 4-portas deu origem ao VW Golf (e ao nosso Gol)

Desafio da Volkswagen para substituir o Fusca durou cinco anos, resultou no lançamento do Golf e respingou até mesmo no nosso Gol

Henrique RodriguezPor Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 jul 2022, 18h09 - Publicado em 3 abr 2020, 18h21
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  • From the Beetle to the Golf
    Fusca de quatro portas foi uma das propostas para a VW ter um carro barato e confortável (Divulgação/Volkswagen)

    O Volkswagen Fusca foi o carro mais vendido do Brasil desde o início de sua produção local, em 1959, até 1982.

    Se aqui o pequeno Sedan não sofria grandes ameças dos concorrentes, lá fora os pequenos compactos japoneses começavam a preocupar a fabricante alemã.

    Eles também eram pequenos, eficientes, confiáveis, baratos e mais espaçosos para passageiros e bagagens. Além, claro, do design pensado após a Segunda Guerra Mundial.

    A água bateu na bunda e as marcas do grupo se mobilizaram para pensar no futuro de seu carro mais vendido.

    Engenheiros de Auto Union, NSU, Porsche e da própria Volkswagen, e estúdios de design, como Pininfarina e Bertone, receberam o desafio. E aí vieram os protótipos.

    Protótipo Fusca 4 portas 1969
    Para-brisa curvo apareceria mais tarde, mas o para-choque envolvente nunca foi usado no Fusca (Divulgação/Volkswagen)
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    Herbert Schäfer seria chefe de design da Volkswagen entre 1972 e 1993, mas em 1970 seu grande trabalho foi aquele que poderia ter sido o Fusca de quatro portas.

    O protótipo preservava elementos clássicos do Fusca convencional, como os para-lamas marcantes e os faróis redondos com as setas destacadas. O motor seguiria instalado na traseira, enquanto a tampa com saídas de ar e placa não mudaria tanto.

    O entre-eixos foi aumentado para acomodar as portas traseiras e fica clara também a tentativa de aumentar a área envidraçada com o teto elevado.

    Protótipo Fusca 4 portas 1969
    As tomadas de ar foram deslocadas da coluna para as laterais do vidro traseiro (Divulgação/Volkswagen)

    Não precisamos dizer que o Fusca de quatro portas nunca saiu da fase de protótipo – que, por sinal, desapareceu.

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    Mas muito da proposta de Schäfer foi aproveitado no VW 1302, mais conhecido como Super Beetle, lançado em 1971. Isso não deixou de ser uma resposta aos asiáticos.

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    O Fusca (Beetle) 1302 recebia a suspensão McPherson dianteira, o que permitia colocar o estepe deitado (Divulgação/Volkswagen)

    A suspensão dianteira com braços arrastados foi trocada por um conjunto McPherson, o que aumentava o porta-malas em 86%, garantia maior espaço interno aos ocupantes e melhorava o comportamento dinâmico do velho Sedan.

    Em 1973, surgiria o 1303 com para-brisas maior e curvado, capô elevado e com base reta, e painel de plástico, que não fazia parte da carroceria.

    Essas mudanças vieram com a necessidade de adaptar o Volkswagen às normas de segurança dos Estados Unidos. 

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    O VW 1303, de 1973, incorporava as mudanças antecipadas pelo protótipo de 1969 (Divulgação/Volkswagen)

    Essas atualizações representam toda a evolução que o Fusca teve ao longo de sua vida e nenhuma delas foi incorporada ao modelo fabricado no Brasil.

    Isso não quer dizer, porém, que a Volkswagen desistiu de ter um novo carro compacto. Apenas se esforçaram para afastar o projeto do Fusca ao máximo.

    Muitos caminhos levaram ao Golf

    Volkswagen EA 266, Baujahr 1969
    Projeto EA 266 foi criação de Ferdiannd Piëch e avançou bastante (Divulgação/Volkswagen)

    Um projeto paralelo dentro da empresa era o curioso EA 266, idealizado pela Porsche – então liderada por Ferdinand Piëch – em 1969. O design estava alinhado aos compactos da época, mas era um carro excêntrico do ponto de vista técnico.

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    Motor e câmbio ainda estavam instalados na traseira. Só que o motor (1.6 de quatro cilindros e refrigerado a água com 100 cv) era transversal e ficava deitado à frente do eixo traseiro.

    Era uma ótima solução para o espaço interno e de carga (o porta-malas dianteiro tinha 300 litros e o traseiro, 340), e o comportamento dinâmico era digno de um esportivo – além de alcançar 187 km/h de máxima.

    EA 266 Fusca
    Com o motor deitado na traseira, o pequeno hatch teria 640 litros de porta-malas para fazer inveja a qualquer sedã (Reprodução/Internet)

    Mas era um pesadelo. Além de problemas com ruído e refrigeração, o motor ficava em posição vulnerável.

    A facilidade de reparo também deixou a desejar: mesmo para pequenos trabalhos de manutenção, todo o motor e a transmissão deveriam ser removidos.

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    Mas a Volkswagen imaginava que a disposição inusitada do motor seria um destaque do carro. Nem os problemas técnicos, as dificuldades de acerto e os custos de desenvolvimento pareciam impedir o EA 266.

    Já havia projeto de conversível, cupê, uma van e até um esportivo baseados nessa arquitetura, e 50 protótipos prontos.

    EA 266
    A dinâmica do EA 266 motivou a VW a pensar em diversas propostas esportivas para sua arquitetura (Reprodução/Internet)

    Mas 1971 chegou. O lucro da Volkswagen despencara 94% e, junto com ele, caía Kurt Lotz, então presidente da marca.

    Rudolf Leiding assumiu o posto e em duas semanas concluiu que o custo de desenvolvimento do EA 266 estava alto o suficiente para comprometer a competibilidade do carro.

    O projeto foi cancelado. 48 carros, 100 motores e 50 transmissões foram destruídos por tanques de guerra. Os dois carros sobreviventes estão vivos no museu da Volkswagen em Wolfsburg.

    Volkswagen EA 276
    O EA 276 chegou bem perto de cumprir as exigências da VW (Reprodução/Internet)

    Outro projeto simultâneo que não vingou foi o EA 276. O design mais quadrado se aproximava do que seria visto nos Volkswagen lançados nos anos 1970.

    Além disso, tinha suspensão McPherson e motor, câmbio e tração dianteiros, como mandaria a cartilha dos bons carros compactos das décadas seguintes.

    Volkswagen EA 276
    A traseira lembra vagamente a Brasilia, que tentaria substituir sem sucesso o Fusca brasileiro a partir de 1973 (Reprodução/Internet)

    Tinha um porém: escolheram o motor boxer refrigerado a ar para colocar sob o capô. Se por um lado sua eficiência e confiabilidade já haviam sido comprovados, não entregava o desempenho que a VW procurava.

    E mesmo estando próximo do caminho que a marca seguiria, não teve mais do que uma unidade produzida em 1969.

    Volkswagen EA 276
    O motor a ar dianteiro apareceria 11 anos mais tarde no Gol (Reprodução/Internet)

    Um adendo. O projeto EA 276 acabaria inspirando o Gol lançado no Brasil em 1980 com suspensão McPherson e motor boxer refrigerado a ar.

    E comprovou que a decisão tomada na Alemanha em 1969 não foi tão errada assim: só se tornou um sucesso quando ganhou motor refrigerado a água.

    Enfim, o Golf

    Volkswagen EA 377 GOLF
    Projeto EA 377 de Giorgetto Giugiaro (Divulgação/Volkswagen)

    Conta-se Lotz esteve no Salão de Turim de 1969 com o importador da VW na Itália.

    Após percorrer todo o evento, percebeu que dos seus seis carros favoritos, quatro haviam sido desenhados por Giorgetto Giugiaro e seu estúdio, o Italdesign.

    Volkswagen EA 377 GOLF
    Linhas do Golf já estavam praticamente definidas (Divulgação/Volkswagen)

    Em janeiro de 1970, Giugiaro receberia a proposta de trabalhar em alguns projetos, os que dariam origem aos Passat e Scirocco, ambos lançados em 1973, e para também colaborar com uma proposta de substituto para o Fusca – que viria a ser o projeto EA 337.

    Volkswagen EA 377 GOLF
    A traseira receberia, mais tarde, lanternas e tampa que saltavam para fora (Reprodução/Internet)

    Mesmo com a saída de Lotz, os projetos de Giugiaro evoluíram.

    Mas Rudolf Leiding foi mais assertivo no que esperava do novo compacto: motor de quatro cilindros em linha dianteiro, tração dianteira e design de carroceria atemporal.

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    Um protótipo já com faróis redondos, mas portas corrediças (Reprodução/Internet)

    E o EA 337 fazia tudo certo: além de suspensão McPherson na dianteira, o projeto receberia o novos motores da família EA 827 (sim, a família do motor AP) instalados na transversal – a evolução técnica que tanto queriam – para otimizar o espaço interno e diminuir seu comprimento total. 

    From the Beetle to the Golf
    O primeiro protótipo de Giugiaro ao lado do Golf (Divulgação/Volkswagen)

    O primeiro protótipo tinha para-brisas mais inclinado, faróis quadrados (repare na semelhança com o primeiro Gol) e as lanternas traseiras e tampa do porta-malas eram alinhados com a traseira.

    Depois evoluiria para um protótipo com faróis redondos e portas… corrediças!

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    Volkswagen Golf em sua primeira geração, lançada em 1974 (Divulgação/Volkswagen)

    Mas as formas do compacto que seria lançado na Europa em maio de 1974 estavam bem definidas desde a primeira proposta da Italdesign.

    Não é preciso dizer que o Volkswagen Golf se tornou um sucesso no mundo inteiro: foi o carro mais vendido da Europa por anos, hoje está em sua oitava geração e já vendeu muito mais que o Fusca.

    volkswagen_golf_3-door (1)
    (Divulgação/Volkswagen)

    Já a Italdesign Giugiaro foi comprada pela Volkswagen em 2010.

    E o Gol deu certo com (quase) tudo que a Volkswagen achou que daria errado no Golf.

    From the Beetle to the Golf
    (Divulgação/Volkswagen)
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