Comparativo: com fôlego jovem, Ford Mustang encara veterano Jaguar F-Type
Um vai de V8 aspirado, o outro de quatro cilindros turbo. Receitas diferentes para fisgar clientes de esportivos dispostos a gastar cerca de R$ 300.000
Esportivos tradicionais costumam travar batalhas épicas quando se encontram em comparativos.
O desempenho e a dirigibilidade, claro, têm peso maior, mas, como o mundo mudou, pontos como conforto, consumo e espaço para a família também são considerados na hora de pesar os prós e os contras na balança.
Aqui, o belo Jaguar F-Type encara o consagrado Ford Mustang. Ao contrário do que normalmente ocorre, desta vez a vitória veio fácil. Muito fácil.
Apesar de a Jaguar continuar vendendo as versões V6 e V8, seus preços altos demais (de R$ 494.679 a R$ 847.800) ficariam em absoluto desalinhamento em relação ao Mustang (R$ 299.900).
A questão foi resolvida com a convocação da versão R-Dynamic P300, que vem para ficar abaixo dos V6 aspirados, com seu quatro-cilindros 2.0 com turbo e 300 cv. Seu preço é de R$ 353.250.
Lado a lado, as diferenças entre os dois cupês ficam bastante evidentes. Com 4,79 m de comprimento, 1,92 m de largura e 1,38 m de altura, o Mustang tem porte claramente mais avantajado do que o F-Type, com, respectivamente, 4,48 m, 1,89 m e 1,31 m.
Mais comprido, o modelo da Ford é também o mais espaçoso: com entre-eixos 10 centímetros maior (2,72 m ante 2,62 m), sua cabine tem espaço dianteiro similar ao do rival, mas só ele tem (dois) bancos traseiros.
Isso mesmo, enquanto o F-Type é um cupê de dois lugares, o Mustang tem espaço para receber dois eventuais convidados.
Mas não se empolgue: ainda que os ocupantes da frente tenham estatura mediana, quem viaja na traseira vai bem apertado e com as pernas raspando no banco dianteiro – a menos que sejam crianças, claro.
Diferentemente do que a ausência dos assentos traseiros pode levar a imaginar, o F-Type tem um porta-malas pequeno, apenas 310 litros, o mesmo que um Toyota Yaris hatch.
O do Mustang, com 382 litros, equivale ao de um Jeep Compass Trailhawk.
Quanto à qualidade de rodagem, ambos surpreendem positivamente. Conduzidos no modo mais pacato (quando sistemas como motor e câmbio priorizam conforto e o baixo consumo), eles se mostram bem confortáveis.
Mas o Jaguar tem na baixa altura livre mínima do solo (apenas 10 cm ) sua maior limitação, exigindo cuidado redobrado em valetas, lombadas e rampas.
O Mustang, com 14,3 cm, está longe de ser um desbravador, mas sofre muito menos do que o seu rival nos obstáculos urbanos.
Como dito no início, os competidores fazem uso de receitas mecânicas bem diferentes. No F-Type, a Jaguar aplicou o 2.0 turbo da família Ingenium.
De concepção moderna, esse motor é aplicado em algumas versões dos sedãs XE e XF e nos SUVs Discovery Sport e Evoque, da Land Rover.
O Ingenium é a materialização de um plano ousado de racionalização de custos da Jaguar Land Rover, que é utilizar um único bloco quatro-cilindros com variados níveis de potência e sofisticação.
Bloco de alumínio, turbo integrado ao coletor de escape, duplo comando no cabeçote com variador de fase e injeção direta de combustível equipam este que é o quatro-cilindros mais potente já produzido pela marca.
O câmbio é do tipo automático convencional, com conversor de torque e oito marchas.
Do outro lado do ringue, ou melhor, da pista, o Mustang. O V8 da família Coyote em nada lembra os antigos veoitões que alçaram o cupê da Ford à condição de mito.
Moderno, tem duplo comando de válvulas variável em cada bancada e duplo sistema de injeção de gasolina, direto (na câmara de combustão) e indireto (no coletor de admissão).
No quesito potência, o Mustang está anos-luz à frente do rival: são 466 cv ante 300 cv. Achou impressionante o câmbio de oito marchas do F-Type?
Então, saiba que o V8 do Mustang é administrado por uma caixa de dez velocidades, desenvolvida em parceria com a arquirrival General Motors – sinal de que a preocupação com redução de custos de desenvolvimento e produção não é exclusividade da Jaguar.
Apesar do já citado reduzido vão livre, o F-Type roda com muito conforto na cidade. Mesmo assim, é exemplar no contorno de curvas.
Quanto à posição de guiar, o Jaguar é mais purista: na posição mais baixa, o banco do motorista praticamente encosta no assoalho. Some a essa característica um capô tão longo quanto o do Mustang e sinta-se encaixado num legítimo esportivo.
Com acabamento menos refinado que o do rival, sobretudo no que diz respeito à seleção dos materiais, o Mustang ainda assim oferece uma cabine agradável.
O sistema de som repete a personalidade dos carros: mais puro e sofisticado no F-Type e com potência bruta no Mustang.
As fichas com os resultados dos testes feitos em nosso campo de provas, em Limeira (SP), encerram o comparativo com síntese do que se viu em quase todos os itens analisados. Ou seja, superioridade total do Mustang.
A aceleração de 0 a 100 km/h, por exemplo, foi cumprida em apenas 4,5 segundos, ante os 6 segundos cravados do rival.
Nas retomadas de velocidade (40 a 80 km/h / 60 a 100 km/h / 80 a 120 km/h), outra vitória do Ford: respectivamente, 2,4 s / 2,4 s / 2,8 s ante 2,9 s / 3,3 s / 3,8 s.
Nos ensaios para aferição do consumo de combustível, deu empate, com vantagem do F-Type no ciclo urbano (8,4 contra 7,1 km/l) e do Mustang no rodoviário (12,2 ante 11,7 km/l).
O F-Type ainda chegou a impressionar com um desempenho avassalador nas provas de frenagem (60 km/h a 0 / 80 km/h a 0 / 120 km/h a 0), registrando 13,4m / 23,3 m / 50,2 m.
Na mesma prova, o Mustang, cujos números estão na média dos esportivos, não passou de 16,1 m / 27,3 m / 61,2 m.
Mas já era tarde demais para o F-Type virar o jogo. Mais barato, maior, versátil para o dia a dia e dono de um ótimo desempenho, o Mustang venceu fácil o comparativo contra o F-Type.
VEREDICTO
Mais barato e competente como poucos na hora de aliar desempenho e versatilidade de uso, o Mustang venceu fácil este comparativo contra o F-Type.
MUSTANG
TESTE
Aceleração
0 a 100 km/h: 4,5 s
0 a 1.000 m: 22,6 s – 240,9 km/h
Velocidade máxima: 250 km/h
RETOMADA
D 40 a 80 km/h: 2,4 s
D 60 a 100 km/h: 2,4 s
D 80 a 120 km/h: 2,8 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 16,1/27,3/61,2 m
Consumo
Urbano: 7,1 km/l
Rodoviário: 12,2 km/l
FICHA TÉCNICA
Preço: R$ 299.900
Motor: gasolina, dianteiro, longitudinal, V8, 5.038 cm3, 32V, 466 cv a 7.000 rpm, 56,7 mkgf a 4.600 rpm
Câmbio: automático, 10 marchas, tração traseira
Suspensão: McPherson (dianteira)/multilink (traseira)
Freios: disco ventilados (dianteira) / disco sólido (traseira)
Direção: elétrica, 2,6 voltas
Rodas e pneus: liga leve, 255/40 R19 (dianteira), 275/40 R19 (traseira)
Dimensões: comprimento, 478,8 cm; largura, 191,5 cm; altura, 137,9 cm; entre-eixos, 272 cm; peso, 1.783 kg; tanque, 60 litros; porta-malas, 382 litros
F-TYPE
TESTE
Aceleração
0 a 100 km/h: 6 s
0 a 1.000 m: 25,9 s – 206,5 km/h
Velocidade máxima: n/d
RETOMADA
D 40 a 80 km/h: 2,9 s
D 60 a 100 km/h: 3,3 s
D 80 a 120 km/h: 3,8 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 13,4/23,3/50,2 m
Consumo
Urbano: 8,4 km/l
Rodoviário: 11,7 km/l
FICHA TÉCNICA
Preço: R$ 353.250
Motor: gasolina, dianteiro, longitudinal, 4 cilindros, 1.997 cm3; 16V, turbo, 300 cv a 5.500 rpm, 40,8 mkgf a 1.500 rpm
Câmbio: automático, 8 marchas, tração traseira
Suspensão: braços oscilantes (dianteira e traseira)
Direção: elétrica, 2,5 voltas
Rodas e pneus: liga leve, 255/35 R20 (dianteira), 295/30 R20 (traseira)
Dimensões: comprimento, 448,2 cm; largura, 188,5 cm; altura, 131,1 cm; entre-eixos, 262,2 cm; peso, 1.525 kg; tanque, 70 litros; porta-malas, 310 litros