Chegou ao fim o programa de incentivo à venda para carros populares novos lançado pelo governo federal, lançado há exatamente um mês. Considerando o valor inicial de R$ 500 milhões e os R$ 300 milhões da prorrogação, R$ 800 milhões foram distribuídos em descontos de até R$ 8.000 para carros novos de até R$ 120.000.
De acordo com a consultoria JATO, em junho foram emplacados 93.519 carros novos vendidos com esse desconto, ou 52,3 % de todos os 178.854 carros e comerciais leves emplacados no mês. De maio para junho, houve um aumento de 11,4% nas vendas de automóveis e comerciais leves no Brasil. De acordo com a Anfavea, porém, a estimativa é que apenas 54.000 carros tenham sido emplacados com desconto em junho.
Na prática, ao todo algo entre R$ 150.000 e 166.500 carros novos terão sido vendidos com desconto no Brasil. De acordo com Marcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, por conta dos dias que separam as vendas efetivadas dos emplacamentos, ainda faltou emplacar as cerca de 73.000 unidades vendidas nos últimos dias de junho, que serão contempladas nos números de emplacamento de julho.
O que é inegável é que o programa de descontos movimentou as concessionárias que nas últimas semanas de maio haviam ficado às moscas, com o consumidor (e as fabricantes) esperando a efetivação da promessa de descontos nos carros mais baratos do Brasil.
No período, houve número recorde de emplacamentos diários. No final de junho, o Brasil chegou a emplacar 27.000 novos carros em um único dia, o terceiro maior número histórico e um recorde nos últimos 10 anos.
Os emplacamentos de carros novos de até R$ 120.000 para pessoa física cresceu 51%. Se em maio respondiam por R$ 31,6% das vendas de carros novos, passaram a responder por 55% das vendas.
Um fato inegável é que os descontos aplicados oficialmente em carros de até R$ 120.000 puxaram para baixo os preços de carros que estavam ao redor dessa faixa de preço. Ao mesmo tempo que muito fabricante chegou a dobrar o desconto do governo para manter seus carros competitivos, também houve a tentativa das fabricantes para adequar seus carros mais caros à nova faixa de preço dos concorrentes diretos.
Bons exemplos são os Fiat Fastback 1.0 turbo e o Jeep Renegade 1.3 Turbo, novas versões de entrada sem nome e desprovidos de alguns equipamentos menos fundamentais justamente para serem posicionados abaixo dos R$ 120.000 – ambos custam R$ 119.990.
Durante o período de descontos, os carros mais baratos do Brasil, Renault Kwid e Fiat Mobi, tiveram seus preços de tabela reduzidos de R$ 68.990 para R$ 58.990.
Redução de estoques
O programa de incentivos do governo, porém, não foi forjado exatamente para bombar a produção de automóveis no Brasil. Pelo menos não para todos os fabricantes. Para a maioria, como a Volkswagen, os descontos foram providenciais para dar vazão aos carros prontos que já estavam ocupando os pátios das fábricas e os estoques das concessionárias.
O caso da Volkswagen é mais notável porque, ao mesmo tempo que colocou o hatch Polo e o SUV T-Cross entre os carros mais vendidos de junho no Brasil, a empresa anunciou paralisações em todas as suas fábricas no Brasil. Seus pátios continuam abarrotados de carros. Além disso, em todas as fábricas o terceiro turno está suspenso por até 5 meses.
De acordo com a Anfavea, houve uma queda de 17% na produção de automóveis no Brasil em junho. O primeiro semestre acumulou uma alta na produção de apenas 3%.
Já houve, porém, uma redução no número de carros em estoque. De 40 dias, foi reduzido a 35 dias de vendas entre fábricas e concessionárias. Mas é um número que tende a ser menor, por conta no aumento nos emplacamentos nas últimas semanas. O mês de junho fechou com 223.600 carros parados em estoques, de acordo com a Anfavea.
Um ponto a ser observado nas próximas semanas é como essa briga insana entre as fabricantes para venderem o máximo de carros novos com desconto vai impactar nas vendas dos próximos meses. A expectativa, porém, é por novas paralisações nas fábricas até que exista um equilíbrio entre produção e vendas.