Os track days (dias de pista) popularizaram-se entre os aficionados por carro. É a oportunidade de acelerar o próprio automóvel em um autódromo sem limite de velocidade. É isto mesmo: você está livre para acelerar e chegar até o limite do motor. Isso explica o sucesso dessa modalidade de evento, que se trata de uma competição do piloto com o tempo. “Nos track days, não há ultrapassagens. É um evento tão amigável quanto uma partida de futebol com os amigos”, diz José Santiago, um dos sócios da Crazy For Auto, empresa que organiza esse tipo de evento.
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Segundo Santiago, de três anos para cá houve um aumento de 60% no movimento. “Promovemos pelo menos um track day por mês e todos ficam lotados”, diz. Um dos fatores para o crescimento da demanda é o preço mais acessível. “Atualmente, o participante paga a partir de R$ 250, mas até pouco tempo era difícil encontrar um evento por menos de R$ 1.000 a inscrição”, conta Santiago, que cobra em média R$ 450 por carro com direito a cinco horas de pista liberada.
QUATRO RODAS foi conferir de perto dois eventos realizados no interior paulista. No track day promovido pela Crazy For Auto no Velo Città, autódromo localizado em Mogi Guaçu (SP), encontramos a diversidade de modelos na pista: tinha de VW Gol a Nissan GT-R. Fora dela, também é possível observar essa disparidade: há piloto de fim de semana que vai com próprio carro (a maioria dos participantes) e piloto profissional que conta com uma equipe de mecânicos, três modelos esportivos e vários tipos de pneus para se adaptar às diferentes condições do tempo.
Do consultório para as pistas
O ortopedista André Ferrari é o típico piloto de fim de semana. “Há quatro anos decidi participar de um track day com o meu carro de uso, um BMW M3 1995, e me encantei pela adrenalina das pistas”, conta. Há um ano o médico sofreu um acidente com o M3, que condenou toda a carroceria. “A colisão me deu a oportunidade de ter um carro exclusivo para track day.” Ele comprou um BMW 325IS 1994 com baixa de documento no Detran (impedido de andar nas ruas, mas liberado para eventos em pista), do qual aproveitou apenas a carroceria. “Adaptei toda a parte mecânica do meu M3 na nova carroceria e o transformei em um veículo de competição com gaiola interna, bancos tipo concha e pneus slick”, afirma Ferrari. Ele investiu cerca de R$ 80.000 no novo carro e hoje frequenta oito eventos por ano. “Se a brincadeira for levada a sério, não fica barata. Gasto cerca de R$ 5.000 por track day, incluindo inscrição, acerto do carro, pneus e transporte.”
O também médico Nelson Santana, conhecido como “Doctor Speed”, utiliza os track days como forma de treinar para os campeonatos da OldStock, categoria só de Opalas cupê de 1975 a 1979 preparados, que estreou em 2015. “Não tem lugar melhor que um track day para me familiarizar com o carro e treinar um pouco”, afirma Santana. “Já participei do campeonato de Porsche GT3, mas o custo era muito alto e, como sempre gostei de antigos, decidi encarar o desafio com o Opala”, diz o médico, que deverá investir R$ 80.000 neste ano com a competição.
Só para a elite
Fomos acompanhar também o evento da Driver Cup, no autódromo Capuava, localizado na municípo de Indaiatuba, interior de São Paulo, exclusivo para esportivos importados. Ali, a dinâmica é diferente. A inscrição é mais salgada (R$ 1.900) e há um limite de veículos na pista: são 40 por evento. “Muitos dos clientes já frequentaram outros track days e reclamam da quantidade de carros na pista e da mistura de modelos, o que atrapalha o desempenho individual”, diz Decio Rodrigues, um dos organizadores da Driver Cup.
É o caso do proprietário de um Porsche 911 e um Audi A3, que preferiu não se identificar. “Só corro no evento da Driver por ser mais reservado e exclusivo”, diz. Ele leva dois carros por vez. “O Porsche eu trago apenas para dar meia dúzia de voltas”, comentou sobre seu 911 Turbo 2012, que permanece 100% original e sem planos para modificações. Para chegar ao limite, ele usa um Audi A3, de 2011, comprado da Copa DTCC Audi, que não tem permissão para rodar nas ruas. Com faróis adesivos, pneus slick e interior superleve, o A3 desenvolve 350 cv.
Já Marcello Bini, gerente de uma empresa de restauração de carros antigos, escolheu um Mustang Shelby GT500 2011 para encarar a pista. Além das preparações visuais, como faróis amarelos e um enorme aerofólio, o Shelby recebeu suspensão, freios e pneus de competição.
O track day é a oportunidade perfeita para você curtir tudo o que o seu carro pode oferecer em desempenho e potência com segurança. E, de quebra, ainda tem uma grande chance de ver Ferrari, Lamborghini ou Porsche acelerarem de 0 a 100 km/h em pouquíssimos segundos.
COMO PARTICIPAR?
O primeiro passo é procurar uma empresa que organiza os track days. Confira algumas tradicionais:
Driver Cup (drivercup.com.br)
Preço: R$ 1.900 (inclui acompanhante, bufê e abastecimento).
Crazy For Auto (crazyforauto.com.br)
Preço: a partir de R$ 450.
Preparação do carro: Não há uma vistoria para participar dos eventos, mas para sua segurança é necessário que o veículo esteja em boas condições de manutenção. É aconselhável fazer checagem dos freios, pneus e suspenção. Disputas são proibidas, mas acidentes podem ocorrer – e eles não serão cobertos pelas seguradoras. Outra dica: o número de inscritos é muito importante, pois você pode encontrar uma pista muito congestionada que vai prejudicar o seu desempenho.
Preparação do piloto: Caso o participante nunca tenha acelerado em um autódromo, é interessante fazer um curso de pilotagem básico de um dia. A experiência ficará mais divertida e segura. Providencie capacete e luvas, itens básicos para a participação nos eventos.