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Dólar alto faz preço dos carros disparar mesmo com queda brusca nas vendas

No Brasil, nem mesmo uma lei simples como a da oferta e procura é tão simples assim. Vários modelos sofreram reajustes altos nas últimas semanas

Por Daniel Telles
11 Maio 2020, 07h00
Dólar alto faz preço dos carros disparar mesmo com queda brusca nas vendas
Carro mais vendido no Brasil, Chevrolet Onix passou por aumento (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A alta do dólar tem sido um dos principais reflexos do surto do novo coronavírus no Brasil. A moeda, que era vendida a R$ 4,05 no dia 3 de janeiro deste ano, passou a ser negociada a R$ 5,85 na última quinta-feira (7).

E uma das consequências diretas desta escalada desenfreada pode ser vista nos preços dos carros zero-quilômetro a venda no Brasil. Grande parte deles está mais cara, mesmo com .

Volkswagen, GM, Toyota e FCA já fizeram reajustes, que em alguns casos passam da casa de 10% (especialmente no caso de modelos importados, como Toyota RAV4 e Ram 2500).

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Há uma explicação: mesmo os veículos com fabricação nacional têm grande parte de seus componentes importados – um carro de entrada, por exemplo, chega a ter 40% de suas peças trazidas de fora do país.

Segundo dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), em 2019 a indústria automotiva brasileira importou o equivalente a US$ 13,2 bilhões.

Para se ter uma noção do impacto que a variação cambial implica, este valor em maio do ano passado, quando US$ 1 valia aproximadamente R$ 3,97, correspondia a mais ou menos R$ 52,4 bilhões.

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Com o câmbio atual, a mesma importância passa a valer R$ 77,22 bilhões, uma enorme diferença de R$ 24,8 bilhões.

Chevrolet Tracker Premier 1.2 2021 (4)
Chevrolet Tracker foi lançada pouco antes da decretação da quarentena (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Na prática, como mencionado acima, o consumidor já pode ver os aumentos nas etiquetas dos carros.

A GM, por exemplo, reajustou toda a linha Chevrolet em 4%. O Onix, carro mais vendido do Brasil, passou de R$ 53.650, para R$ 56.890 em sua versão de entrada LT, com motor 1.0 aspirado e câmbio manual.

Já o recém lançado Tracker, SUV mais vendido no mês de abril, recebeu aumento de R$ 3.290 e saltou de R$ 82.000, para R$ 85.290 em sua versão mais básica, com motor 1.0 turbo.

A Volkswagen não fica atrás. A marca alemã promoveu dois reajustes em sequência em praticamente toda sua linha.

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O maior aumento foi registrado na picape Amarok SE, que foi reajustada em R$ 16.130 e subiu de R$ 158.580 para R$ 174.710. Toda a família do hatch Polo e do sedã Virtus também sofreram reajustes de até R$ 3.030.

Tiguan Allspace R-Line 350TSI (30).jpg
VW Tiguan R-Line passou a marca dos R$ 200.000 (Acervo/Quatro Rodas)

O SUV Tiguan foi outro modelo que teve aumento considerável e passou, pela primeira vez, da marca dos R$ 200.000 com a versão topo de linha R-Line, que agora custa R$ 203.490.

A japonesa Toyota também não deixou de repassar a alta do dólar aos consumidores. O sedã Camry, por exemplo, teve aumento de R$ 31.000 e passou a custar R$ 276.990.

A linha Corolla recebeu acréscimos mais tímidos, mas também foi reajustada. A versão topo de linha com motorização híbrida, por exemplo, saltou de R$ 137.390 para R$ 142.490, um aumento de R$ 5.100.

Dólar alto faz preço dos carros disparar mesmo com queda brusca nas vendas
Preço do Toyota RAV4 subiu até R$ 70.000 desde o lançamento há um ano (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Chama atenção também a sequência de aumentos recebidos pelo SUV RAV4. O carro, que tem motorização híbrida e é importado do Japão, foi lançado no Brasil há exatamente um ano com o preço de R$ 165.990, em sua versão de entrada S, e R$ 179.990 na SX, mais completa.

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Hoje o Toyota RAV4 S é vendido por R$ 217.990 e o SX por R$ 239.990, reajustes de R$ 52.000 e R$ 70.000, respectivamente, em um período de um ano.

Por fim, outro aumento que chamou atenção durante a quarentena foi o da picape de grande porte RAM 2500. O modelo subiu R$ 32.000 e agora é comercializado com etiqueta de R$ 321.990.

Procurada, a FCA (marca controladora da RAM) alegou que o aumento se deve também à chegada da nova linha 2020 da picape.

Dólar alto faz preço dos carros disparar mesmo com queda brusca nas vendas
FCA informou que aumento da RAM se deve também à chegada da nova linha 2020 (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Em entrevista coletiva realizada virtualmente nesta sexta-feira (8), o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, atribuiu a alta do dólar também à crise política vivida no Brasil.

“Temos uma pressão enorme nos custos. Há uma combinação exclusiva de queda no volume (de vendas) e um custo adicional muito alto por conta, boa parte, de uma crise política desnecessária que se soma a crise da saúde” explica.

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Ainda de acordo com Moraes, compete a cada montadora a decisão do quanto será repassado ao cliente.

“Cada montadora terá que decidir o quanto de fôlego tem para suportar este aumento de custo. Mas não é um pequeno aumento. Estamos falando de quase R$ 2 adicionais em relação ao câmbio de dezembro.” completa o executivo.

Ainda de acordo com o presidente, num cenário de perda de renda por parte da população, a tendência é que haja uma queda perene no volume de vendas, em especial de modelos importados.

Ou seja: no Brasil, nem mesmo uma lei aparentemente simples de mercado, como a da oferta e procura, pode ser interpretada de maneira tão simples assim.

Segundo dados divulgados pela própria Anfavea, foram emplacados 55.700 novos carros no país em abril. Uma diminuição de 76% em relação ao mesmo mês de 2019.

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Já a produção de novos carros despencou ainda mais – 99% – em abril, devido ao fechamento da maioria das fábricas do país.

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Capa edição de maio – 733

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