A alta do dólar tem sido um dos principais reflexos do surto do novo coronavírus no Brasil. A moeda, que era vendida a R$ 4,05 no dia 3 de janeiro deste ano, passou a ser negociada a R$ 5,85 na última quinta-feira (7).
E uma das consequências diretas desta escalada desenfreada pode ser vista nos preços dos carros zero-quilômetro a venda no Brasil. Grande parte deles está mais cara, mesmo com .
Volkswagen, GM, Toyota e FCA já fizeram reajustes, que em alguns casos passam da casa de 10% (especialmente no caso de modelos importados, como Toyota RAV4 e Ram 2500).
Há uma explicação: mesmo os veículos com fabricação nacional têm grande parte de seus componentes importados – um carro de entrada, por exemplo, chega a ter 40% de suas peças trazidas de fora do país.
Segundo dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), em 2019 a indústria automotiva brasileira importou o equivalente a US$ 13,2 bilhões.
Para se ter uma noção do impacto que a variação cambial implica, este valor em maio do ano passado, quando US$ 1 valia aproximadamente R$ 3,97, correspondia a mais ou menos R$ 52,4 bilhões.
Com o câmbio atual, a mesma importância passa a valer R$ 77,22 bilhões, uma enorme diferença de R$ 24,8 bilhões.
Na prática, como mencionado acima, o consumidor já pode ver os aumentos nas etiquetas dos carros.
A GM, por exemplo, reajustou toda a linha Chevrolet em 4%. O Onix, carro mais vendido do Brasil, passou de R$ 53.650, para R$ 56.890 em sua versão de entrada LT, com motor 1.0 aspirado e câmbio manual.
Já o recém lançado Tracker, SUV mais vendido no mês de abril, recebeu aumento de R$ 3.290 e saltou de R$ 82.000, para R$ 85.290 em sua versão mais básica, com motor 1.0 turbo.
A Volkswagen não fica atrás. A marca alemã promoveu dois reajustes em sequência em praticamente toda sua linha.
O maior aumento foi registrado na picape Amarok SE, que foi reajustada em R$ 16.130 e subiu de R$ 158.580 para R$ 174.710. Toda a família do hatch Polo e do sedã Virtus também sofreram reajustes de até R$ 3.030.
O SUV Tiguan foi outro modelo que teve aumento considerável e passou, pela primeira vez, da marca dos R$ 200.000 com a versão topo de linha R-Line, que agora custa R$ 203.490.
A japonesa Toyota também não deixou de repassar a alta do dólar aos consumidores. O sedã Camry, por exemplo, teve aumento de R$ 31.000 e passou a custar R$ 276.990.
A linha Corolla recebeu acréscimos mais tímidos, mas também foi reajustada. A versão topo de linha com motorização híbrida, por exemplo, saltou de R$ 137.390 para R$ 142.490, um aumento de R$ 5.100.
Chama atenção também a sequência de aumentos recebidos pelo SUV RAV4. O carro, que tem motorização híbrida e é importado do Japão, foi lançado no Brasil há exatamente um ano com o preço de R$ 165.990, em sua versão de entrada S, e R$ 179.990 na SX, mais completa.
Hoje o Toyota RAV4 S é vendido por R$ 217.990 e o SX por R$ 239.990, reajustes de R$ 52.000 e R$ 70.000, respectivamente, em um período de um ano.
Por fim, outro aumento que chamou atenção durante a quarentena foi o da picape de grande porte RAM 2500. O modelo subiu R$ 32.000 e agora é comercializado com etiqueta de R$ 321.990.
Procurada, a FCA (marca controladora da RAM) alegou que o aumento se deve também à chegada da nova linha 2020 da picape.
Em entrevista coletiva realizada virtualmente nesta sexta-feira (8), o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, atribuiu a alta do dólar também à crise política vivida no Brasil.
“Temos uma pressão enorme nos custos. Há uma combinação exclusiva de queda no volume (de vendas) e um custo adicional muito alto por conta, boa parte, de uma crise política desnecessária que se soma a crise da saúde” explica.
Ainda de acordo com Moraes, compete a cada montadora a decisão do quanto será repassado ao cliente.
“Cada montadora terá que decidir o quanto de fôlego tem para suportar este aumento de custo. Mas não é um pequeno aumento. Estamos falando de quase R$ 2 adicionais em relação ao câmbio de dezembro.” completa o executivo.
Ainda de acordo com o presidente, num cenário de perda de renda por parte da população, a tendência é que haja uma queda perene no volume de vendas, em especial de modelos importados.
Ou seja: no Brasil, nem mesmo uma lei aparentemente simples de mercado, como a da oferta e procura, pode ser interpretada de maneira tão simples assim.
Segundo dados divulgados pela própria Anfavea, foram emplacados 55.700 novos carros no país em abril. Uma diminuição de 76% em relação ao mesmo mês de 2019.
Já a produção de novos carros despencou ainda mais – 99% – em abril, devido ao fechamento da maioria das fábricas do país.
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