O etanol é o combustível mais importante no Brasil. Atualmente, a produção nacional chega a 35 bilhões de litros por ano e o combustível se encaixa perfeitamente ao nosso contexto, principalmente pela forte produção agrícola. Porém, ainda existem alguns fatores que atrapalham na sua disseminação e fazem com que ele seja preterido em relação a gasolina, principalmente.
Esse foi um dos temas debatidos no Fórum Direções Quatro Rodas 2024. O painel teve a presença de Luciano Rodrigues, diretor de inteligência setorial da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Roger Guilherme, gerente do Way to Zero da Volkswagen e João Irineu, vice-presidente da Stellantis na América do Sul.
Para Luciano Rodrigues, o primeiro motivo que faz com que o etanol não tenha tanta força no Brasil quanto a indústria espera é puramente econômico. Segundo o diretor da Unica, o consumidor ainda reclama do preço do combustível, que rende menos que a gasolina.
A questão do preço do etanol é histórica, já que ele sempre viveu momentos de altos e baixos no Brasil. Na pandemia, por exemplo, ele perdeu muita força para a gasolina. Agora a fase é mais estável, o que contribui para o preço mais competitivo.
Entretanto, o que vai determina, de fato, o preço do combustível nas bombas são as políticas públicas, que favorecem os estados produtores. Nos estados onde o combustível vegetal não é produzido, o valor não é atrativo para o consumidor na hora de abastecer.
“Para um estado como o Rio Grande do Sul estimular o consumo de etanol não é vantajoso, já que o maior beneficiado seria apenas o estado produtor, como São Paulo e Paraná”, explica Luciano Rodrigues sobre o modelo atual de tributação.
Isso gera uma centralização. Atualmente, 85% do consumo de etanol está concentrado em apenas seis estados brasileiro (São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás), em sua maioria concentrados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que produzem mais da metade do etanol nacional.
A solução atual seria uma reforma tributária, que ajudaria o etanol ser mais rentável até mesmo para os estados que precisam comprá-lo dos maiores produtores. “Assim, a diferença nos custos ficaria apenas na parte da logística”, afirma o diretor da Unica.
Etanol de milho já é realidade no Brasil
O modelo de produção é o segundo fator que contribuirá para essa descentralização. Quando falamos de etanol, logo pensamos na cana de açúcar. Mas no Brasil, o etanol do milho vem se tornando uma alternativa que ajuda a distribuir melhor a produção.
O etanol de milho já corresponde a 20% do total produzido no Brasil e expande a produção para outras regiões, como o nordeste. Na última semana, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) emitiu licença prévia para o Projeto Nordeste Bioenergia para a implementação de uma nova planta de etanol no município de Baixa Grande do Ribeiro, no Piauí, com capacidade de produção estimada para 222.337,50 m³ de etanol por ano. O objetivo do estado nordestino é estar entre o principais produtores do Brasil já nos próximos anos.
O etanol produzido a partir do milho não tem diferença em relação ao feito da cana, quimicamente falando. O que muda é a produção. Diferente da cana de açúcar, o milho pode ser armazenado, logo, você não precisa ter uma plantação ao lado da fábrica e pode até comprá-lo de outros estados.
Esse milho é obtido a partir de um solo que ficaria inutilizado, pois é plantado logo após a colheita da soja, o que para o setor do agronegócio é muito interessante.
Para além das questões econômicas, Roger Guilherme, da Volkswagen, ainda cita um terceiro pilar que atrapalha a disseminação do etanol: a desinformação.
“Em uma pesquisa com o consumidor, um terço mencionou o preço como problema e grande parte ainda acredita que etanol causa danos ao motor”, comentou Roger. João Irineu, vice-presidente da Stellantis na América do Sul, reforçou a falta de comunicação com o público: “muitos ainda acreditam que o etanol atrapalha a partida a frio”.
Os problemas dos carros a etanol de 30 anos atrás já não existem mais. E os executivos reforçam o compromisso da indústria automotiva em desenvolver novas tecnologias que contribuam para amenizar as desvantagens do etanol em relação à gasolina. E cobraram da Unica que, no futuro, o etanol vendido na bomba seja anidro, ou seja, que não tenha água.
Para além disso, o etanol se mostra como a principal solução para reduzir as emissões de carbono no futuro. O híbrido flex é a atual sensação do mercado, como opção verde mais viável, já que ajuda na descarbonização e é uma opção mais barata em relação aos elétricos.
A Stellantis promete um modelo híbrido flex para o final do ano. A Volkswagen diz que existe um projeto, que ainda não pode ser comentado. O principal entrave, porém, não é o combustível, mas sim a cadeia de produção de componentes para a produção desses híbridos flex, que ainda engatinha no Brasil