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Grandes Brasileiros: CBT Javali

Simples e eficiente, ele mostrava força e valentia, mas atolou nas difiiculdades financeiras

Por Felipe Bitu
Atualizado em 23 nov 2016, 17h39 - Publicado em 22 jun 2014, 14h05
CBT Javali
O Javali usava motor turbo dos tratores da CBT ()

Quando a versão civil do Jeep desembarcou no Brasil no fim da década de 40, fazendeiros, empreiteiros e aventureiros viram nele o veículo ideal para transpor os precários caminhos de um país que ainda estava em desenvolvimento. Com o avanço das estradas, a demanda por veículos 4×4 caiu a ponto de inviabilizar sua produção nacional, encerrada em 1983.

Assim, em meados dos anos 80, entre os 4×4 só havia o Engesa 4 e o Toyota Bandeirante. A produção de ambos era incapaz de atender à demanda e as longas filas de espera resultavam na cobrança de ágio. Ciente da oportunidade, a Companhia Brasileira de Tratores (CBT) deu início ao projeto do Veículo de Aplicação Rural, encabeçado pelo engenheiro Ove Schirm e idealizado pelo fundador Mário Pereira Lopes, produtor de tratores desde 1959. Rebatizado Javali, o 4×4 nacional foi uma das novidades do Salão do Automóvel de 1988. Rústicas ao extremo, as primeiras unidades do Javali foram entregues em 1990 e vinham pintadas só de cinza. Não havia compromisso com a estética, de tal for- ma que a única concessão foi a adoção da pintura amarela, meses mais tarde. Mas o que faltava em design sobrava em força e valentia: o inédito turbo-compressor garantia fôlego de sobra ao motor DM-301 de três cilindros, vindo dos tratores da marca. Na prática, o conjunto se mostrava mais forte, leve e econômico que o quatro-cilindros aspirado que chegou a equipar as primeiras unidades.

CBT Javali
Suspensão de feixe de molas nas quatro rodas ()

O desempenho era adequado a sua proposta: a máxima era de 106 km/h e para chegar aos 100 km/h levava longos 53,5 segundos. Apesar de lento, o alto torque de 25,5 mkgf a 1600 rpm fazia a diferença no fora de estrada, tornando-o apto a carregar ou rebocar até 500 kg de carga nas piores condições. Mas o Javali não servia para o lazer: o excesso de vibrações e ruído era agravado pelos freios sem assistência e pela folga constante na frágil caixa de direção. A situação só foi corrigida em 1992, quando o servofreio e a direção hidráulica entraram para a lista de opcionais.

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CBT Javali
Alavancas do câmbio de 4 marchas, do 4×4 e da reduzida ()

Boa parte dos seus 1 755 kg estava no chassi, claramente superdimensionado: servia de base para um habitáculo amplo, capaz de acomodar com dignidade motoristas mais altos. Outros pontos positivos eram o santantônio e a capota de lona reforçada, notável por sua resistência às chuvas fortes.

A meta da CBT era ambiciosa: produzir 700 unidades mensais de um 4×4 acessível e adequado ao trabalho pesado. Para alcançar esse objetivo em tempos de inflação galopante, a fábrica de São Carlos (SP) apostou na autossuficiência: tinha controle total sobre os meios de produção, chegando ao extremo de fundir e usinar seus motores. A dependência dos fornecedores se resumia a poucos itens, como câmbio (Clark), eixos (Dana), velocímetro (Chevrolet C10), lanternas e pinças de freio (VW Kombi). O volante era o mesmo dos tratores e até o turbo tinha fabricação própria.

CBT Javali
Apesar do interior espartano, o painel é completo ()
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Por ironia do destino, foi essa independência que matou a empresa: com o capital imobilizado, a CBT perdeu competitividade na abertura do mercado aos importados, até fechar as portas em 1995. Ao todo, cerca de 4 000 Javali foram produzidos e parte considerável desse montante continua em circulação. Um deles é o Javali das fotos, que pertence ao médico paulistano Rodrigo Gea, fabricado em 1988. “O projeto tinha mais acertos do que erros”, diz Rodrigo, com o orgulho de quem guarda a memória de um dos poucos automóveis genuinamente nacionais.

Teste QUATRO RODAS – Julho de 1990
Aceleração de 0 a 100 km/h: 53,25 s
Velocidade máxima: 106,0 km/h
Frenagem de 80 km/h a 0: 41,24 m
Consumo (médio): 11,2 km
Ficha Técnica
Motor: 3 cilindros em linha, 2 válvulas por cilindro, comando de válvulas simples no bloco, alimentação por bomba injetora rotativa e turbocompressor, diesel
Cilindrada: 2.940 cm³
Potência: 84 cv a 3.000 rpm
Torque: 25,5 mkgf a 1.600 rpm
Câmbio: manual de 4 marchas, tração 4×4 temporária com roda livre, reduzida
Dimensões: comprimento, 349,5 cm; largura, 164 cm; altura, 185,5 cm; entre-eixos, 211,5 cm
Peso: 1.755 kg
Pneus: 6.70-16, diagonais
Preço (julho 1990): Cr$ 923.680
Preço (atualizado IPC-A IBGE): R$ 71.848
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