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Grandes Brasileiros: Ventura compensava mecânica arcaica com refinamento

Limitado pela mecânica arcaica, o Ventura abusava do acabamento primoroso para satisfazer um público exigente

Por Felipe Bitu
Atualizado em 6 set 2019, 15h24 - Publicado em 10 jan 2018, 19h37
O cupê mirava no público que ficou órfão dos importados
O cupê mirava no público que ficou órfão dos importados (Christian Castanho/Quatro Rodas)

A segunda metade dos anos 70 foi um período triste para quem gostava de carro no Brasil: em março de 1976, o governo proibiu a importação de automóveis e bens considerados de luxo.

O fechamento do mercado incentivou a oferta de modelos exclusivos como o L’Automobile Ventura.

Fundada em 1975 por Cícero Silveira e pelo argentino José Garcia Menendez, a L’Automobile Distribuidora de Veículos Ltda. estabeleceu-se no bairro paulistano de Indianópolis.

Seu primeiro produto foi uma réplica do Alfa Romeo 8C 2300 Monza 1931, construída sobre o conjunto mecânico do VW Brasília e que surpreendeu pelo elevado padrão de qualidade.

O Ventura também foi idealizado sobre a mesma base VW. Sua primeira aparição foi em 1978, no Salão do Automóvel de São Paulo. Era um cupê 2+2 cujas linhas são creditadas ao engenheiro Mario Bellato Jr. Os mais atentos logo perceberiam a mesma área envidraçada de um velho conhecido: o VW SP2.

Como quase todos os fora de série nacionais, o Ventura usava várias peças de outros modelos: os faróis eram do Dodge Polara e as lanternas traseiras do Alfa Romeo 2300, que também cedia as maçanetas embutidas. Tinha apenas 4,14 metros de comprimento, mas aparentava o mesmo porte de um Puma GTB S2.

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Os faróis eram do Dodge Polara
Os faróis eram do Dodge Polara (Christian Castanho/Quatro Rodas)
As lanternas traseiras eram do Alfa Romeo 2300
As lanternas traseiras eram do Alfa Romeo 2300 (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Em dezembro de 1979, a QUATRO RODAS avaliou o Ventura, que causou boa impressão pelo cuidado artesanal do acabamento e qualidade dos materiais empregados: painel, console e túnel eram forrados de couro.

Um dos destaques eram os bancos envolventes reclináveis, com alto-falantes incorporados aos encostos de cabeça e revestimento em veludo cotelê.

Os bancos eram reclináveis
Os bancos eram reclináveis (Christian Castanho/Quatro Rodas)
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Bancos tinham alto-falantes embutidos no apoio da cabeça
Bancos tinham alto-falantes embutidos no apoio da cabeça (Christian Castanho/Quatro Rodas)

A instrumentação era completa. O velocímetro exagerava indo a 200 km/h, mas o conta-giros até 5.000 rpm era mais coerente com o motor 1.6 a ar. Além do marcador de combustível, havia amperímetro e termômetro de óleo, todos de boa visibilidade.

O velocímetro exagerava indo a 200km/h
O velocímetro exagerava indo a 200km/h (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Os cintos de três pontos eram retráteis. O esmero tentava dissociá-lo da imagem pejorativa de “Volks de plástico” associada a modelos como Puma, Bianco e Miura. Mas a letargia do motor não colaborava.

Seus 67 cv pareciam ainda mais lentos em função da boa estabilidade proporcionada por rodas com 6 polegadas de largura e pneus radiais 185/70.

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Rodas com 6 polegadas de largura e pneus radiais 185/70
Rodas com 6 polegadas de largura e pneus radiais 185/70 (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Bom mesmo era curti-lo sem pressa, aproveitando o conforto garantido por itens raros à época: toca-fitas com antena elétrica, ar-condicionado, vidros elétricos e teto solar deslizante.

Além dos locais, o Ventura conseguiu satisfazer europeus e americanos, um feito para um fabricante brasileiro.

Para atender a demanda, a empresa mudou a linha de produção para São Bernardo do Campo (SP): cerca de 60 automóveis eram produzidos ao mês.

Começavam os estudos para utilização do motor VW refrigerado a água. A primeira reestilização ocorreu em 1983, quando o Ventura recebeu quatro faróis retangulares do VW Passat e lanternas do Ford Corcel II.

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Porta-mala também revestido com veludo cotelê
Porta-mala também revestido com veludo cotelê (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Após sofrer o efeito da recessão que assolou os anos 80, a L’Automobile fechou as portas em 1983.

Os projetos do Alfa Romeo 1931 e do Ventura foram comprados pela fluminense L’Auto Craft, que transferiu a produção para  Barra do Piraí. Denominado GTS, o Ventura refrigerado a água perdeu a harmonia do modelo original.

Até hoje ninguém sabe ao certo o número exato de Venturas produzidos. O exemplar das fotos é um modelo 1980 que integra o acervo de um colecionador especializado em nacionais fora de série.

“Tentamos levantar o maior número possível de registros, mas muita história já se perdeu. O Ventura está cada vez mais valorizado, dentro e fora do Brasil”, diz ele.

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Motor era 1.6 a ar
Motor era 1.6 a ar (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Entre bugues, réplicas e cupês a L’Auto Craft produziu alguns dos automóveis mais interessantes do país. A empresa encerrou suas atividades em 1997, sendo um dos últimos fabricantes independentes a resistir à invasão dos importados, antigos símbolos de status e exclusividade.

A carroceria era exclusiva de fibra de vidro
A carroceria era exclusiva de fibra de vidro (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Ficha técnica – L‘automobile Ventura 1980

  • Motor: longit., 4 cil. opostos, 1.584 cm3, dois carburadores de corpo simples, 67 cv a 4.600 rpm, 12 mkgf a 3.200 rpm
  • Câmbio: manual de 4 marchas, tração traseira
  • Dimensões: compr., 414 cm; largura, 163 cm; altura, 118cm; entre-eixos, 240 cm; peso: não aferido
  • Pneus: 185/70 R14

 

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