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Hotéis de motos

Para evitar conflitos, muita gente precisa manter a moto fora do lar. Hospedar máquinas já se tornou até oportunidade de negócio

Por Mário Curcio
Atualizado em 9 nov 2016, 11h52 - Publicado em 8 jul 2011, 20h46
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  • Yrio Azevedo

    Curvas insinuantes, movimentos sincronizados. Qualquer voltinha com ela é uma delícia. O problema é que às vezes o relacionamento tem de ser clandestino – a família não a aceita. A moto pode ser abrigada na casa de um conhecido, em estacionamentos ou lojas, onde pode repousar longe das reclamações.

    Tiago Nascimento Roque se encaixa no perfil. Ele tem hoje Kawasaki Z750, bem mais voluptuosa que a anterior, uma Yamaha XT 225. “Caí duas vezes na cidade. Num dos tombos, quebrei os dois ossos do antebraço e o tornozelo. Fiquei um bom tempo de molho”, afirma o projetista de 28 anos. Agora, só às escondidas. “Meu pai nem reclama tanto, mas minha mãe é contrária às motos e minha madrinha, pior ainda. Se ela vê a moto, é capaz de tocar fogo”, diz ele, sorrindo.

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    Se uma pode ser muito, imagine três… Esse é o caso de Yrio Azevedo, de 37 anos, que teve motocicletas a vida toda. “Aos 30, já casado, comprei uma segunda moto e minha esposa não conseguiu entender por que eu precisava de duas. Quando adquiri a terceira, foi quase separação”, diz o industrial. “Não é medo de acidente, nem pelo gasto que representam. Minha esposa não se conforma com a necessidade de eu ter mais de uma. Deixei de contar cada vez que compro outra”, afirma.

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    Azevedo teve namoros com XL 125, NX 200, XLX 250 e 350. Ainda na fase trilheira, seu coração pendeu para a Yamaha. Ficou um tempo com uma XT 600. Mais tarde, comprou uma Yamaha V-Max, com a qual teve um longo relacionamento, de dez anos. Mas, como coração de motoqueiro é quase sempre pendular, Azevedo começou a se enrabichar com as italianas. Primeiro foi uma Ducati Monster S4RS, depois uma 1198S. Ele também aprendeu a apreciar a Bimota. Hoje tem dez motocicletas. Algumas ficam hospedadas na Perfect Motors, loja onde encontrou pela primeira vez suas “amantes”.

    O proprietário da loja, Carlos Henrique Ludman, compartilha as histórias com o amigo e cliente Azevedo porque já viveu situação parecida: “Algum tempo atrás, comprei uma moto de competição e também não falei nada em casa. Guardava aqui no trabalho”, diz. Ludman, porém, cometeu um erro inadmissível. Como quem se deixa fotografar ao lado da amante, ele colocou na internet uma imagem em que aparecia com a moto. “Minha mulher acabou descobrindo seis meses depois, por causa da foto no Facebook.”

    É, compreensão não é mesmo o forte de algumas esposas. Por causa disso, o proprietário de uma loja de motos antigas da cidade de São Paulo acabou se tornando cúmplice e acobertando o caso de um cliente: “Ele comprou uma clássica, mas não quer contar para a esposa de jeito nenhum. Por isso a deixa aqui, mas vem de vez em quando pegá-la para dar umas voltas”, afirma José Peloso Filho, o Zezé, da Recar.

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    A falta de opções tem feito com que muitos paulistanos utilizem estabelecimentos do tipo guarda-tudo, em que pessoas e empresas podem alugar boxes. Uma dessas companhias, a Guarde Aqui, tem boxes de diferentes tamanhos – e é possível usar um deles para colocar uma moto. Um espaço de 1,5 por 2 metros sai por 389 reais mensais. O de 1,5 por 3 metros vai a 509 reais pelo mesmo período.

    Para a maioria, não será uma solução prática, já que para prevenir acidentes é obrigatório esvaziar o tanque de combustível. O horário de fins de semana e feriados também não é favorável (sábados das 8h às 16h e domingos e feriados das 9h às 14h).

    Já o lojista mineiro Carlos Mourão viu nos corações partidos uma fonte de renda para seu estabelecimento, a Feijão Motos. “Uns deixavam as motos na oficina e viajavam. Outros largavam aqui, com a desculpa de uma reforma em casa… Daí veio a ideia da guarda de motos”, afirma o comerciante, que resolveu ampliar essa espécie de garçonnière coletiva: “Já estamos fazendo um novo galpão de 400 metros quadrados”, diz. Ah, os amores ocultos…

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    Mourão recorda que motos paradas exigem atenção: “Precisam ser ligadas com alguma frequência. Aqui, cada uma tem uma ficha, em que consta o dia que teve o motor ligado pela última vez, e por quanto tempo”, diz ele. “O combustível é à parte, por conta do cliente.” O local é protegido por uma apólice de seguro. Dependendo do modelo e tamanho, Mourão cobra entre 150 e 300 reais por mês. “Tem cliente que exige mais espaço entre as outras motos, e paga mais por isso.”

    Nesse “métier” em que o segredo e a discrição são os maiores aliados, muitos não se contentam em ir buscar sua “amada” em um acanhado quarto-esala, mesmo quando merecem mesmo a suíte presidencial.

    HOTÉIS-FAZENDA A prática do motocross, difundida em Minas Gerais, originou hotéis para as motos fora de estrada. Conheça alguns:

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    FEIJÃO MOTOS: mensalidade entre 150 e 300 reais por mês. Põe o motor para funcionar. O local tem oficina completa. Abre de segunda a sexta-feira das 8h às 18h e sábados das 8h às 12h. Não abre aos domingos. Rua Antero da Silveira, 60, Belo Horizonte, tel. (31) 3225-0000.

    OLIVEIRA RACING: cobra ao mês 120 reais por moto e 250 por quadriciclo. Café da manhã incluso, vestiário com chuveiro e escaninho. Lavagem de roupas à parte. Tem oficina, lava-jato, estacionamento e área para carretas. Rua Niágara, 345, Nova Lima, tel. (31) 3542-5834. Aberto de segunda a sexta-feira das 8h às 17h e aos sábados e domingos das 8h às 18h.

    MOTO WORLD: só motos, por 230 reais por mês. Tem vestiário, chuveiro, armário com chave, estacionamento para carros e está aberto todos os dias das 8h às 18h, com oficina, lava-jato, seguro e alarme. Rua da Paisagem, 95B, Nova Lima, tel. (31) 3286-1902.

    HOTEL DE MOTOS: apenas motos, por 140 reais ao mês. Tem chuveiro e vestiário. Lavagem de roupas cobrada à parte. Há oficina e lava-jato para as motos. Está aberto todos os dias das 8h às 19h. Rua Jequitibá, 158, perto do acesso a todas as trilhas de Nova Lima. Tel. (31) 3262-2045.

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