Jensen Interceptor: hooligan de cartola
Projeto inglês, estilo italiano e alma americana: um esportivo de comportamento selvagem em traje social
Fundada em 1934, na Inglaterra, a Jensen especializou-se em carrocerias artesanais e esportivos com motor Ford V8. Seu padrão de qualidade era tão elevado que chamou a atenção do industrial americano Percy Morgan, que encomendou logo dois: um para ele e outro para seu amigo, o ator Clark Gable.
Foram reconhecimentos como esse que viabilizaram a produção de modelos próprios, que culminaram no Interceptor.
Apresentado em 1950, a primeira geração do esportivo oferecia três versões de carroceria (sedã, conversível e cupê, sempre com duas portas) e era impulsionado por um motor Austin de seis cilindros, 4 litros e 130 cv. Rápido, veloz e exclusivo, apenas 88 unidades foram produzidas até 1957, o que fez dele um modelo quase desconhecido do público.
O nome só brilharia de verdade na segunda geração, no Salão de Londres de 1966, dessa vez batizando um enorme cupê de modernas linhas italianas assinadas pela Carrozzeria Touring de Milão.
O novo Interceptor era definido pelo capô longo e traseira curta, com linha de cintura baixa e ampla área envidraçada, evidenciada pela enorme vigia traseira envolvente. Ele tinha um chassi tubular, no qual os painéis eram soldados e parafusados.
O primeiro ano de produção ficou a cargo da Carrozzeria Alfredo Vignale. Custava o equivalente a dois Chevrolet Corvette, mas menos que o Aston Martin DB6 e o Ferrari 330 GTC.
A Jensen seguiu o exemplo dos patrícios Sunbeam Tiger e AC Cobra e também adotou um motor americano: o escolhido foi o Chrysler V8 de bloco grande, com 6,3 litros de cilindrada e 330 cv. Barato e eficiente, nada devia aos V12 Ferrari e Lamborghini e superava com folga os motores de seis cilindros oferecidos pela Jaguar, Aston Martin e Porsche.
Ele tinha desempenho de sobra: 0 a 96 km/h em 6,4 segundos e máxima de 219 km/h, limitada pela transmissão automática Torqueflite de apenas três marchas.
Mas o conjunto da obra era digno de um autêntico GT: direção por pinhão e cremalheira, diferencial autoblocante, pneus radiais Dunlop 185 VR15 e amortecedores traseiros ajustáveis Armstrong Selectaride. Os freios a disco Girling nas quatro rodas ainda estavam dotados de sistema de frenagem antitravamento (sim, o ABS) que até então só havia sido usado em aviões.
O interior dispunha de quatro lugares e do requinte típico dos melhores automóveis ingleses: feito à mão, trazia muito couro, madeira e cromados. O painel apresentava instrumentação completa: conta-giros, voltímetro, manômetro de pressão do óleo e diversas luzes-espia. Sem assistência, a direção trazia volante de três raios e aro de madeira. Ar-condicionado e toca-fitas de cartucho Radiomobile estavam entre os equipamentos de série.
Cerca de 600 carros eram feitos por ano na fábrica de West Bromwich, perto de Birmingham, número alto para uma produção artesanal. Em 1966, a Jensen lançou o FF (Formula Ferguson), quase igual ao Interceptor e que foi o primeiro automóvel de passeio do mundo com tração 4×4. Em 1969, viria a primeira evolução, o Interceptor II: ganhava novo painel e alterações na suspensão e freios.
O V8 ficou maior em 1971, com 7,2 litros, e o cupê recebia belas rodas de alumínio com cinco raios. No mesmo ano surgiu a rara versão SP (Six Pack), que trocava o carburador Quadrijet por três carburadores de corpo duplo que entregavam 375 cv. A terceira e última geração surgiu em 1972, trazendo freios a disco ventilados: o Interceptor III que ilustra esta reportagem integra o acervo do paulista Edson Roberto Rosolen: “Além do meu, conheço só outro no Brasil, um Interceptor II 1970 de um colecionador de Maceió”.
O conversível deu as caras só em 1974 e a partir dele surgiu a versão hardtop em 1975, com três volumes bem-definidos. Mas era tarde: abalada pela crise energética, a Jensen encerrou suas atividades em 1976, após produzir 6 408 unidades. Dez anos depois, um grupo de investidores tentou ressuscitar a marca: foram produzidas mais 36 unidades do Interceptor S4, com um V8 Chrysler de apenas 5,9 litros. Mas o mundo já não era mais o mesmo.
PLÁGIO?
O Brasinca 4200 GT, ou Uirapuru, era um esportivo nacional que tinha uma curiosa coincidência com o Jensen: os mesmos capô longo com a entrada de ar (na primeira versão), vidros laterais e vigia traseira grande. Só um detalhe: o 4200 GT surgiu em 1964, dois anos antes do cupê inglês.
Motor | 8 cilindros em V de 7,2 litros |
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Potência | 284 cv a 4 800 rpm |
Torque | 52,5 mkgf a 3 200 rpm |
Câmbio | automático de 3 velocidades |
Carroceria | fechada, 3 portas, 4 lugares |
Dimensões | comprimento, 477,5 cm; largura, 175,4 cm; altura, 134,6 cm; entre-eixos, 267 cm; |
Peso | 1765 kg |
0 a 100 km/h | 8 s |
Velocidade máxima | 207 km/h |