Jeremy Clarkson: psiu, tem um Bentley trabalhando aqui!
O Mulsanne Speed tem a aerodinâmica (e o peso) de uma casa e ainda assim é rápido e absurdamente silencioso. Só que sou mais um Rolls-Royce
As pessoas que moram perto de uma estrada com tráfego pesado reclamam do barulho, e elas têm minha solidariedade. Prefiro ouvir um cão latindo a uma rodovia. E preferiria morar no fim do mundo a perto de uma rotatória movimentada.
O barulho do tráfego tem várias fontes. As motos são uma delas. Quando eu chegar ao poder, banir essas máquinas das estradas estará entre minhas prioridades. Ônibus também são barulhentos e acho que faria sentido se livrar deles. Isso forçaria os pobres a usar bicicletas, e isso faria com que eles ficassem mais saudáveis. O que significaria que eles custariam menos à saúde pública. E há as ambulâncias. Elas realmente precisam de sirenes que podem ser ouvidas a 30 km de distância?
Carros são um caso à parte. Com a exceção de alguns superesportivos muito caros que quase nunca vemos nas ruas, motores e escapamentos modernos são relativamente silenciosos. Na verdade, entre 75% e 90% do barulho feito por um automóvel em uma rodovia vem dos pneus.
Não é apenas o barulho da borracha agarrando a estrada: é o som do ar sendo comprimido na banda de rodagem, tudo amplificado pelo fato de que um pneu é basicamente uma grande câmara de eco.
E isso nos traz ao Bentley Mulsanne Speed. Ele me foi entregue por dois caras que fizeram de tudo para destacar os diversos recursos interessantes do carro. Mas o que realmente me chamou a atenção foi a afirmação sobre os pneus Dunlop que, segundo eles, foram otimizados para ser silenciosos.
E eles não estavam brincando. A 110 km/h, o silêncio dentro do carro é quase absoluto. E isso é impressionante, pois com as propriedades aerodinâmicas (e o peso) de uma casa, ele navega pelos (e sobre os) elementos com o mesmo espalhafato sonoro de uma borboleta alinhando-se a uma pétala de orquídea.
E ele não é silencioso só para seus ocupantes. É silencioso para todo mundo. Tão silencioso que depois de apenas 50 km na estrada, pensei que, quando tomar o poder, vou tornar esses pneus obrigatórios para todos os carros. Eles são brilhantes.
E pela mesma razão, o motor V8 de 6,75 litros deste leviatã automotivo é brilhante. Espantosamente, ele foi projetado antes de eu nascer. E no papel, você pode notar. Palavras como “comando de válvulas simples” e “comando no bloco” são dos tempos do racionamento de guerra.
Ao assumir a Bentley há 18 anos, a Volkswagen falou que esse antigo V8 teria de ser aposentado logo porque não poderia ser ajustado para atender às normas de emissões. Mas estavam errados. Ele recebeu um par de turbos da Mitsubishi e um sistema que desliga metade dos cilindros para economizar combustível.
Você poderia imaginar que isso faria com que ele perdesse musculatura. Mas não. Os números são incríveis: 537cv e, a apenas 1.750 rpm, um torque colossal de 112,2 mkgf. Há máquinas de terraplenagem que têm menos do que isso. É uma força planetária.
Você poderia imaginar que acelerá-lo causaria um estrondo todo- poderoso. Espantosamente, isso não ocorre. Se você enterrar o acelerador no carpete de 2,5 cm de altura, há um rumor quase imperceptível. No resto do tempo, ele é tão silencioso quanto uma freira adormecida.
Então, está estabelecido que este carro é silencioso. E não importa qual ajuste você selecione para a suspensão a ar, ele também é confortável. E bonito. A agressiva nova frente é especialmente impressionante.
E é muito bem equipado, com todo tipo de coisas que você nem sabia que existiam. Como as telas sensíveis ao toque para os passageiros de trás que se levantam silenciosamente. E também tem um sistema de som de 2.200 watts. Não é erro de impressão: a Bentley equipou esse carro totalmente silencioso com um sistema de som que pode arrancar sua cabeça.
Porém, é por causa dessas coisas que eu compraria um Rolls-Royce Ghost em vez dele. Obviamente tem um pessoal na Bentley que acredita que o luxo pode ser medido pelo número de botões. Eles devem achar que uma casa é suntuosa se você puder preparar o banho a partir da garagem ou abrir o portão com o controle remoto da TV. E isso provavelmente é verdade – se você for um jogador de futebol. Mas eu não sou.
No passado, critiquei carros da Bentley por serem um pouco “geração anterior” em equipamentos eletrônicos. O Continental GT Speed, por exemplo, não tem uma entrada USB. O problema é que, com o Mulsanne Speed, eles foram além da conta. Agora há duas telas de GPS que você pode operar tocando na tela ou usando a voz. Tenho certeza de que você pode até dominar a complexidade operacional nisso, mas suspeito que levaria muitos anos.
Felizmente aqui há o USB, mas ele fica numa gaveta que não pode ser fechada se a estiver usando. E há o ponto de recarga, sob o apoio de braço central, que também tem de ficar aberto quando em uso.
Você fica com a sensação de que pedir à Bentley para instalar equipamentos eletrônicos modernos é meio como pedir a um marceneiro para reprogramar seu iPhone. Ou ao Bill Gates para fazer uma cômoda. Você senta ali, confrontado por centenas de botões e interruptores, e não pode evitar pensar o quanto esse carro seria melhor se, pelo menos, fosse menos complicado.
Gosto da ideia de um Bentley mais que a de um Rolls-Royce. Meu avô tinha um Bentley R Type, o primeiro carro que dirigi. Mas nunca dirigi este carro como um Bentley deve ser dirigido. Nunca me senti obrigado a colocar a suspensão no modo Sport e soltar todo o torque do motor. Só passeei com ele.
E se quisesse um sedã grande e luxuoso para passear, prefiro o Ghost, mais simples, arejado e elegante. Porque, quando você se aninha num Ghost, diz: “Aaaah”. Mas quando se ajeita no Mulsanne Speed, você pensa: “Pelo amor de Deus! Onde está o botão que cala a boca dessa mulher do GPS?”