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Kia do Canadá cria esquema bizarro para sabotar suas próprias vendas

Ao atrasar entregas por querer, Kia do Canadá busca obter mais verbas da matriz sul-coreana para 2024, revela imprensa local. Lojistas se revoltam

Por Eduardo Passos
20 dez 2023, 10h20
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  • Com a chegada do Natal, muitos gerentes mundo afora terão suas ceias amargadas caso não batam as metas previstas pelos seus chefes. A turma da Kia do Canadá, por outro lado, tinha tudo para saborear a virada do ano, mas optou por uma estratégia bizarra.

    A rede CBC descobriu que a filial canadense da marca está sabotando suas próprias vendas por querer. A ideia é parecer menos bem-sucedida aos olhos da matriz, na Coreia do Sul, a fim de receber mais dinheiro no ano que vem.

    O esquema foi revelado graças a uma videochamada, que reunia executivos nacionais da Kia canadense e representantes de concessionárias. “Todos vocês ficarão muito chateados comigo hoje”, disse o gerente Vince Capicotto antes de repassar o plano, destacando que ele valeria para todo o país e era uma ordem que vinha de cima.

    O anúncio, feito em outubro, informava que a meta de 84.000 emplacamentos no país já havia sido cumprida; assim, os veículos que fossem importados ao Canadá daí em diante seriam retidos em um depósito próximo à cidade de Toronto. Por mais que clientes venham esperando meses por seus veículos, a marca iria segurá-los até que o ano virasse.

    Escândalo Kia Canadá (3)
    Gerente da marca no Canadá durante videochamada em que anunciou o plano fraudulento (Reprodução/CBC)
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    Desse modo, as vendas dessas unidades seriam completadas apenas em 2024, e a filial não bateria sua meta com tanta folga. “Com a desaceleração global, a Kia do Canadá quer controlar seu desempenho em varejo e vendas diretas em 2023, a fim de não demonstrar uma superação elevada das expectativas”, disse o gerente.

    Caso isso ocorresse, explicou, a matriz optaria por reduzir a verba de marketing para o país, direcionando esse dinheiro para outro lugar.

    Concessionários revoltados

    Obviamente, o clima pesou após o anúncio. A gravação obtida mostra vários concessionários inundando o chat da videochamada com mensagens de revolta, inclusive defendendo funcionários mais baixos na hierarquia.

    Um deles lembrou que trabalha com a Kia há 20 anos e, pela primeira vez, viu uma revenda ser “penalizada por vender muitos veículos”. Outros ressaltaram que a medida desrespeitava lojistas e consumidores, enquanto um terceiro completou: “não precisamos de marketing. Precisamos de carros”.

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    Escândalo Kia Canadá (1)
    Além de revelar o escândalo, rede CBC descobriu o depósito onde os carros estão sendo retidos (Reprodução/Kia)

    Sob anonimato, um concessionário explicou à CBC que a medida afeta duramente os vendedores, que dependem das comissões para completar a renda mensal, com tais comissões vindo só quando o veículo é entregue. “Imagine chegar em casa e dizer à sua família que você perderá uma boa quantia de dinheiro pelos próximos dois meses?”, protestou.

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    Vince Capicotto respondeu cada um dos comentários mas não se comoveu, pedindo que os lojistas pensassem a longo prazo. Um dos participantes ainda ironizou, perguntando se poderia dizer aos seus clientes que o atraso era por conta de um incêndio na Coreia do Sul. Inabalável, o executivo disse que cada concessionária deveria encontrar o melhor jeito de justificar a demora sem revelar a verdade.

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    Ferida exposta

    No mercado canadense, a montadora passou por maus bocados: desde 2020, houve problemas com a pandemia, crise de semicondutores e greves pesadas de caminhoneiros, que bloquearam rotas comerciais.

    Os prazos de entrega elevados já vinham causando cancelamentos de pedidos num 2023 que seria de redenção, mas o escândalo, ainda que recém-revelado, disparou um movimento de ainda mais desistências.

    Com evidências tão fortes do esquema, a Kia do Canadá não conseguiu negar o plano, mas se recusou a discutir o assunto. Uma assessora de imprensa apenas ressaltou o compromisso da fabricante com “entregas no prazo em 2023 e além”. 

    A matriz da Kia também não comentou o “drible” sofrido, apenas destacando que a filial da América do Norte já havia dito o que era necessário.

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