Desde o início da guerra com a Ucrânia, a Rússia vem sofrendo diversas sanções do mercado internacional e o mercado automotivo, claramente, também foi afetado. Montadoras de todo o mundo encerraram as atividades no país, que agora convive com a falta de modelos novos e peças de reposição.
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Um dos casos que mais repercutiu foi a saída da Renault, líder de vendas no país, principalmente, vendendo carros sob a marca Lada. A responsável por fabricar os modelos era a AvtoVAZ, que tinha 67,61% das ações pertencentes à montadora francesa. Com o início da guerra e das sanções, em março deste ano, a Renault vendeu AvtoVAZ para a iniciativa pública russa, deixando as operações no país.
Para tentar driblar as sanções, o governo Russo vai reativar as produções da AvtoVaz e, consequentemente, trazer a Lada de volta ao mercado russo. Porém, este retorno não será tão triunfante quanto aparenta.
A estratégia é ressuscitar o Lada Granta Classic, um sedã compacto de 2011 que era feito em parceria com a montadora francesa e já havia sido descontinuado. Mas a falta de fornecedores externos farão com que o modelo regresse bem mais do que onze anos no tempo.
Sem airbags, controle de estabilidade, pré-tensionadores do cinto de segurança e ABS, o Granta recebeu um “botão do pânico” como compensação, conectado com o serviço de emergência russo ERA-GLONASS, para ser acionado em caso de acidentes.
Navegação por GPS e multimídia, nem pensar. O Granta Classic “à prova de sanções” e provavelmente se vale da oferta de componentes fabricados localmente para o mercado de reposição. Tem, no máximo, preparação para som com quatro alto-falantes. O ar-condicionado é opcional, enquanto itens como vidros elétricos na frente, Isofix, calotas e frisos na cor do veículo, foram mantidos.
A volta ao passado fica mais evidente na motorização. Embora o motor seja o mesmo 1.6 com 8 válvulas de 90 cv de 2011, ele não atenderá às atuais exigências de emissões. Na verdade, é esperado que ele esteja pareado com as normas da Euro 2, de 1996. Ou seja, será muito mais poluente do que os motores da época do seu lançamento, que seguiam a Euro 5 (de 2009) ou os atuais, que seguem a Euro 6 (2014).
Sem previsão para o fim da guerra, o governo russo continuará tendo dificuldades em manter o mercado automotivo funcionando. Nem mesmo os usados escapam.
Com as barreiras de importação, peças de reposição não chegam ao país. Segundo o jornal The Guardian, existem filas de espera de meses para consertar os carros e proprietários estão pagando até dez vezes mais do que pagariam antes da guerra. Como consequência, o mercado ilegal, composto por componentes falsos e roubados, vem crescendo muito no país, segundo o periódico inglês. Mesmo que a guerra acabasse hoje, o mais provável é que o segmento automotivo russo ainda demore meses ou até anos para se restabelecer da crise.