Latin NCAP chama Citroën C3 de ‘vergonha’ após zerar teste de segurança
Com zero estrela em teste de segurança, Citroën C3 faz órgão pedir à Stellantis que pare de produzir carros "inseguros" e que "ofendem o consumidor latino"
Lançado no ano passado, o novo Citroën C3 decepcionou em sua avaliação no Latin NCAP, o principal teste de segurança veicular da América Latina. O compacto fabricado em Porto Real (RJ) obteve a menor nota possível: zero estrela.
Ao todo, são avaliados quatro grupos principais: proteção ao passageiro adulto, a crianças, aos pedestres e assistentes de segurança, ligados à automação veicular. Em média, o C3 atingiu só 32% do desempenho ideal e motivou críticas fortes à fabricante.
No que diz respeito aos adultos, o carro, que tem apenas 2 airbags, apresentou boa proteção à cabeça de quem viaja na frente. O pescoço, entretanto, está exposto ao efeito chicote, ocorrido quando um outro veículo bate por trás. O Latin NCAP também criticou a fragilidade estrutural do Citroën, destacando que o hatch não está adequado ao documento da ONU que regula padrões de segurança para colisões traseiras.
A completa falta de meios autônomos de mitigação de acidentes também contribuiu para a reprovação. Afinal de contas, o C3 vem equipado só com alerta de cinto não-afivelado e controle de estabilidade de série. O órgão, porém, ressaltou a falta de limitador de velocidade, alerta de pontos cegos e sistema que previne evasão involuntária da faixa de rodagem.
No teste do alce, no qual mede-se a capacidade do veículo de desviar de um obstáculo sem capotar, a velocidade máxima obtida foi de 70 km/h, usando motoristas comuns de referência.
No que diz respeito à proteção de pedestres, um eventual atropelado por um C3 teria sérios problemas no que diz respeito ao impacto da cabeça no para-brisa. Fora isso, há proteção boa, que pode ter a ver com o capô mais elevado. Mesmo estando em desacordo com outros regulamentos da ONU acerca de proteção ao pedestre, essa foi a melhor nota do C3 no teste, com cerca de 50% de aproveitamento
Em nenhum aspecto o carro foi tão mal quanto na proteção às crianças, no qual atingiu-se apenas 12% do esperado. Entretanto, há algumas afirmações polêmicas feitas pelo Latin NCAP, que é baseado no Uruguai.
Utilizando bonecos equivalentes a crianças de três anos e um ano e meio, constatou-se boa proteção para a cabeça, além de proteção quase total para o resto do corpo. As instruções para uso da cadeirinha, entretanto, estariam em desconformidade com o exigido pelo órgão, gerando perda de pontos e até a não-realização de alguns testes, que ficaram com a nota zero.
O ponto de maior polêmica, porém, é a penalização por não ser possível desativar o airbag do carona para instalação da cadeirinha na frente: conforme o Código de Trânsito Brasileiro, é proibido que crianças viajem na primeira fileira, independentemente do acessório de segurança, até os 10 anos de idade. Dessa forma, é justo dizer que o Citroën C3 foi punido por uma exigência que não faz sentido para o mercado brasileiro.
Críticas pesadísimas
Antes mesmo de ser vendido, o C3 já era motivo de discórdia interna na Stellantis, e, segundo apurou QUATRO RODAS, havia séria preocupação quanto aos níveis de segurança do projeto, feito em parceria com a filial da Índia.
No lançamento do carro, em agosto do ano passado, questionamentos semelhantes vieram da imprensa. O responsável técnico de engenharia do conglomerado na América do Sul, Márcio Tonani discordou das críticas, ressaltando que o modelo “atendia aos requisitos internacionais de segurança”. Sobre a questão de ter apenas dois airbags, Tonani citou que era possível acrescentá-los, como foi feito no C3 Aircross, mas quantidade escolhida para o C3 foi uma “questão de definição de mercado”.
O presidente do Conselho de Administração do Latin NCAP, Stephan Brodziak, tem visão totalmente oposta, e foi duro nas críticas, chegando até a pedir que o Citroën C3 pare de ser produzido, reforçando ser uma “vergonha” que a Stellantis produza carros “tão ruins”.
“Um carro dessa natureza representa uma afronta à saúde e à integridade dos latino-americanos, que são tão vulneráveis em situações de colisões e atropelamentos quanto os habitantes dos países onde a Stellantis jamais se atreveria a comercializar um carro com segurança tão precária”, disse Brodziak.
Em nota, a Stellantis disse que “afirma seu compromisso com a proteção veicular, desenvolvendo veículos modernos e alinhados com o segmento. Reafirma ainda que seus automóveis atendem todas as regulamentações vigentes.”