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Macan Gurgel 1200: primeira criação de João Gurgel tinha nome de Porsche

Fruto de uma concessionária VW, o 1200 deu origem a uma linhagem de foras de estrada leves que ainda hoje representam o orgulho da indústria nacional

Por Felipe Bitu
8 Maio 2021, 09h35
Este era o conceito de utilitário esportivoem 1966
Este era o conceito de utilitário esportivo em 1966 (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Pouco tempo após se formar na Escola Politécnica da USP, o engenheiro João Gurgel conseguiu uma bolsa de estudos no General Motors Institute, nos EUA. Retornou ao Brasil, ingressou na Ford e em 1958 dedicou-se à produção de plástico moldado, karts e microcarros. Em 1966, apresentou seu primeiro automóvel: o Gurgel 1200.

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A história do modelo teve início cerca de dez anos antes, no bairro paulistano do Ipiranga. Ao passar por um galpão da Rua do Manifesto, João conheceu Friedrich Wilhelm Schultz-Wenk, um alemão responsável pela distribuição de um estranho automóvel com motor refrigerado a ar e que chegava ao Brasil desmontado em caixas: o Volkswagen.

O Volkswagen virou Fusca e Friedrich virou “Bob-by”: a amizade prosperou e, na década de 1960, João tornou-se sócio da Macan (Motores, Automóveis, Carroçarias e Náutica), concessionária VW responsável pelo Gurgel 1200. Schultz-Wenk não apenas aprovou o projeto como ainda solicitou uma unidade para exibir no estande da própria VW durante o Salão de 1966.

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A concepção mecânica do Gurgel 1200 era relativamente simples: o chassi do esportivo Karmann-Ghia era encurtado em cerca de 36 cm e sobre ele instalada uma carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro. Isso possibilitou o desenvolvimento de quatro versões distintas: Enseada, Ipanema, Augusta e Xavante.

ancos revestidos de material impermeável e barras de apoio para os passageiros do banco traseiro indicavam sua vocação recreacional
Bancos revestidos de material impermeável e barras de apoio para os passageiros do banco traseiro indicavam sua vocação recreacional (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Escolhido por Schultz-Wenk, o Enseada era destinado ao uso recreacional. Oferecia quatro lugares, amplo porta-malas e bancos especiais de vime no estilo denominado “Saint-Tropez”.

O Augusta era bem mais requintado, com painel especial, tapetes, rodas cromadas com tala larga, calotas integrais e volante exclusivo. Voltado ao uso profissional, o Xavante era o mais rústico dos quatro e seus pneus lameiros 6,40 x 15 aumentavam o vão livre do solo.

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Emblema da fabricante brasileira
Emblema da fabricante brasileira (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O 1200 se referia à cilindrada do motor VW de quatro cilindros opostos refrigerado a ar. Com 8,8 kgfm a 2.400 rpm e 30 cv a 3.700 rpm, o desempenho só não era pior em razão do peso reduzido, pouco acima dos 600 kg. A Macan falava em otimistas 115 km/h de máxima, mas o consumo médio de 14 km/l parecia razoável.

A mecânica era VW
A mecânica era VW (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Cerca de 200 unidades foram encomendadas no Salão de 1966, situação que assegurou a viabilidade comercial do modelo. Os novos motores VW 1300 (38 cv) e VW 1500 (44 cv) garantiram melhora considerável no desempenho: o Gurgel acelerava mais rápido e superava obstáculos com maior facilidade.

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O baixo centro de gravidade colaborava...
O baixo centro de gravidade colaborava… (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O Gurgel foi um dos 11 automóveis que disputaram o “Troféu Quatro Rodas”, concurso realizado pela revista em 1967 para incentivar e promover projetos nacionais. Acabou perdendo o prêmio para o Puma GT DKW, mas foi alçado à categoria de carro esporte e chegou a despertar o interesse do jurado mais ilustre: o designer italiano Nuccio Bertone.

Ciente de que a Macan deveria focar nas atividades de uma concessionária, João deixa a sociedade e, em setembro de 1969, funda a Gurgel Indústria e Comércio de Veículos Ltda. Em menos de um mês, o carro foi avaliado pelo jornalista Expedito Marazzi, da QUATRO RODAS, que apreciou o desempenho do motor 1500 e a estabilidade proporcionada pelo baixo centro de gravidade.

... para um bom comportamento dinâmico
… para um bom comportamento dinâmico (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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Foi nessa ocasião que o Gurgel recebeu discretas alterações, como caixas de roda redesenhadas, tomadas de ar para a ventoinha de refrigeração nos para-lamas traseiros e maior vão de acesso ao motor. O painel de instrumentos também foi revisto e o para-brisa basculante passou a ser ancorado mais à frente da carroceria.

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Modelo atingia otimistas 115 km/h de velocidade (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O Gurgel 1200 deu origem ao modelo QT (Qualquer Terreno), elogiado por ninguém menos que Colin Chapman, o construtor da Lotus inglesa. Ao perceber que o chassi VW encurtado era frágil para o fora de estrada, a Gurgel desenvolveu o Xavante XT, com chassi próprio Plasteel (tubos de aço revestidos de fibra de vidro). Foi sucedido pelo X-12: a exportação para diversos países consolidou a reputação de João Gurgel como criador de jipes capazes de trafegar nas condições mais adversas.

Ficha técnica do Gurgel 1200

Motor: gasolina, longitudinal, 4 cilindros opostos, 1.285 cm³, comando de válvulas simples no bloco, carburador de corpo simples, 38 cv SAE a 4.600 rpm, 9,1 kgfm a 2.600 rpm
Câmbio: manual, 4 marchas, tração traseira
Dimensões: comprimento, 370 cm; largura, 160 cm; altura, 138 cm; entre-eixos, 204 cm; 620 kg
Rodas e pneus: aço, 5,60 x 15
Consumo: 14 km/l
Preço: (outubro de 1970) Cr$ 16.800;
Preço atualizado: R$ 108.449 (referência: salário mínimo)

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