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Mercedes utiliza supercomputadores até para calcular ultrapassagens na F1

Equipe de Lewis Hamilton vem exaltando parceria com a Tibco na busca por eficiência extrema na nova fase da Fórmula 1

Por Eduardo Passos
Atualizado em 27 out 2021, 15h44 - Publicado em 25 out 2021, 21h33
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  • Carro de F1 da Mercedes de 2021 visto de lado
    Lewis Hamilton largará em primeiro na primeira classificação sprint da Fórmula 1 (Divulgação/Mercedes-AMG Petronas Motorsport)

    Nos treinos do GP de Singapura de 2017, Valtteri Bottas começou a notar que sua Mercedes estava com problemas repetitivos na aceleração. Numa estranha coincidência, sempre que o W08 de mais de 1.000 cv passava sobre um trecho do circuito o motor engasgava.

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    A solução não veio de modo supersticioso, tampouco dos engenheiros nos boxes, mas da sede Mercedes-AMG, na Inglaterra. Do outro lado do mundo, na bucólica Northamptonshire, uma análise dos dados em ambiente tranquilo logo encontrou o problema: uma ponte que compõe um trecho do circuito de rua.

    Feita em estrutura metálica, a ponte atuava como uma gaiola de Faraday, gerando efeito eletromagnético que bloqueava instantaneamente a comunicação do carro com os boxes, interrompendo a aceleração. Posteriormente contornada, a falha estava causando mais de 0,02 s de perda — suficientes para mudar muita coisa no jogo.

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    A própria Mercedes conta essa história para exemplificar a importância dos dados na Fórmula 1 atual — e ressaltar o quanto a adrenalina, barulho e burburinho dos circuitos pode ser inimiga da concentração.

    Goste ou não, a era romântica da F1 deu lugar a um duelo de nerds (termo cada vez mais elogioso) e cientistas, disfarçados pelo estiloso fardamento da escuderias. Os pilotos mais se parecem astronautas e, enquanto pilotam uma besta de fibra de carbono e dois motores, ainda mandam mensagens de rádio cifradas que confundem os narradores da TV.

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    Efeito Avenida Paulista

    Por ser um dos pontos mais altos da cidade de São Paulo, os prédios da Avenida Paulista abrigam antenas das mais diversas tecnologias e frequências. Por isso, não é incomum ver carros em teste por ali. No passado, quando a injeção eletrônica não era tão avançada e sua blindagem era inferior a de hoje, alguns carros chegavam a desligar no meio da avenida por causa das interferências.

    Câmbio CVT?

    Para o regulamento que entrará em vigor a partir do ano que vem, gênios da mecânica como Adrian Newey e Gordon Murray dividirão, ainda mais, os louros com quem souber ser não apenas rápida, mas econômica. Afinal de contas, já vigora um limite de gastos anuais com os carros e o primeiro ano de novos carros certamente é mais caro do que a média.

    Mais do que bonita, interface hollywoodiana do software Spotfire (no qual roda a CVT) facilita a tomada de decisões corretas em pouco tempo
    Mais do que bonita, interface hollywoodiana do software Spotfire (no qual roda a CVT) facilita a tomada de decisões corretas em pouco tempo (Tibco/Divulgação)

    Um desses players que a alemã faz questão de expor — num misto de orgulho e compartilhamento da responsabilidade de manter a hegemonia de Toto Wolff e sua turma — é a Tibco, empresa norte-americana da área de tecnologia. O trabalho longevo agora dá um novo passo com a Cost Visualization Tool (ferramenta de visualização de custos, na sigla em inglês), com ares hi-tech.

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    Ele guarda algumas semelhanças semânticas com o CVT mais conhecido, como o fato de ser, de certo modo, continuamente variável. Como explica Oscar Peace, o Business Process Analyst do time de Lewis Hamilton, a QUATRO RODAS, é possível que um projetista veja em tempo real quanto uma pequena mudança no projeto do carro impactará no orçamento todo.

    Segundo Peace, a turma da oficina não queria perder tempo decifrando tabelas. “Os custos tinham que ser visuais”, conta. A solução veio de um membro do time de eletrônica, que se lembrou do modo que computadores domésticos exibem a memória ocupada. Essa memória, no caso da F1, é o orçamento anual de US$ 175 milhões.

    Carro-conceito da F1 para 2022 visto 3/4 de frente
    Equipes terão que construir e aprimorar novos carros em 2022 com praticamente mesmo orçamento deste ano (Divulgação/Formula 1)

    Alimentada por uma imensidão de dados que dá conta de cada centavo do orçamento limitado pela FIA, a CVT foi desenvolvida junto à TIBCO e se afirma capaz de unir coisas tão extremas quanto grandes dados e gráficos simples.

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    É como se, neste momento, o responsável por desenhar a asa dianteira do carro de 2022 soubesse o custo de adicionar um “dedo” a mais de aerofólio, considerando a porção que isso acrescentaria em testes, fabricação, frete (pelo aumento de peso e volume) e estocagem, entre vários outros cálculos que levam em conta até balanços contábeis de despesas “bestas”.

    Isso é mais do que qualquer pessoa calcularia em tempo hábil, mas exibido aos construtores de modo que a decisão mais eficiente seja tomada sem muito esforço. “Esqueça aquela história de ‘nós arrumamos o dinheiro e vocês (equipe) gastam o que for preciso para criar o melhor carro possível’. Em vez disso, cada centavo conta”, diz o diretor financeiro Russel Braithwaite.

    Obviamente o poder de fogo do software não é completamente revelado, mas sabe-se que ele é capaz até de interferir na estratégia de corridas em andamento com base no resto do calendário. Traduzindo em exemplos, é como se o staff de Lewis Hamilton calculasse a volta ideal para ultrapassar Max Verstappen sabendo o custo exato dessa ultrapassagem, seja feita ela feita uma volta antes ou depois.

    Formel 1 - Mercedes-AMG Petronas Motorsport, Großer Preis der USA 2021. Lewis Hamilton Formula One - Mercedes-AMG Petronas Motorsport, United States GP 2021. Lewis Hamilton
    Após 56 voltas com diferentes estratégias, Max Verstappen e Lewis Hamilton terminaram o GP dos EUA com 1.333 s de diferença. Pilotos (e algoritmos) mais parelhos do que nunca (Divulgação/Mercedes-AMG Petronas Motorsport)

    Humildes perante a Máquina, os alemães demonstram inabalável confiança na CVT como peça-chave de mais um título de Construtores, até agora na mão de Wolff mais uma vez. Ciente disso, confesso que passei a não ser mais surpreendido quando as equipes de ponta do circo volta e meia tomam decisões incomuns, pautadas em dados que talvez nem seus engenheiros deem conta. 

    Até o especialista Reginaldo Leme assumiu, em corrida recente, que nem seu extenso conhecimento dá conta de analisar estratégias com base só no que se vê. O que dizer, então, de espectadores como nós…

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    A edição 750 de QUATRO RODAS já está nas bancas! (Arte/Quatro Rodas)
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