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Mercury Eight: símbolo de rebeldia

Belo e veloz, o Eight sagrou o prestígio da Mercury, criada para suprir a lacuna entre o popular Ford e o requintado Lincoln

Por Felipe Bitu
Atualizado em 9 nov 2016, 14h50 - Publicado em 5 fev 2016, 18h39
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    Henry Ford era obcecado pelo simplório Modelo T. O industrial nem cogitava produzir veículos de luxo e precisou ser convencido por Edsel, seu filho, de que a aquisição da Lincoln Motor Company seria vantajosa.

    A incorporação da empresa revelou-se um bom negócio, mas evidenciou uma grande diferença de qualidade entre as linhas de produção. Isso motivou Edsel a criar uma nova divisão. Em 1938, nascia a Mercury, concebida para ocupar uma posição intermediária entre as marcas. Esse nome era uma homenagem ao deus romano Mercúrio, o deus da venda, lucro e comércio.

    Já no ano seguinte, Edsel desenvolveu o Eight, um modelo situado entre o De Luxe (o Ford mais caro) e o Zephyr (o Lincoln mais barato), para atrair clientes da Dodge, Nash, DeSoto, Oldsmobile, Hudson e Buick. Privilegiando a forma sobre a função, o designer Bob Gregorie recebeu carta branca para desenhar uma carroceria com identidade visual própria.

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    O sucesso do novo modelo foi estrondoso: mais de 65 000 unidades vendidas já no ano de estreia. Barato, ágil e veloz, não demorou para que o Eight se tornasse um dos favoritos dos contrabandistas de bebidas (e também da polícia), que frequentemente se envolviam em perseguições acima dos 160 km/h. A medida de sua personalidade era mensurada em números: comparado aos Fords do mesmo ano, o Mercury acrescentava 6 polegadas na largura (15,2 cm) e 4 (10,2 cm) no entre-eixos. A mecânica também dava o tom de superioridade: o V8 Flathead aumentava de 3,6 para 3,9 litros, fazendo com que a potência saltasse de 85 cv para 95.

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    Havia quatro opções de carroceria: conversível, cupê e sedã de duas ou quatro portas. O conversível de quatro portas foi oferecido apenas em 1940. Um ano depois, chegava a primeira perua: portas e laterais eram feitas com armação de bordo e painéis de bétula ou eucalipto, madeiras extraídas de uma floresta particular da Ford na Califórnia. Para 1942, o Eight reestilizado trouxe uma grade semelhante aos Lincoln, um V8 mais potente (100 cv) e opção da transmissão semiautomática Liquamatic. Também foi o último Mercury que Edsel viu sair da linha de montagem. A produção foi interrompida em fevereiro e o visionário industrial acabaria sucumbindo a um câncer no ano seguinte. Novamente sob o comando do fundador Henry, a Ford Motor Company perdia milhões de dólares a cada mês, situação que só foi revertida com a ascensão de seu neto Henry II, em 1945, graças a uma vasta reforma administrativa.

    Mais uma vez a Ford aposta na Mercury para ajudar na recuperação da saúde financeira da empresa. Em novembro daquele ano, o Eight voltou ao mercado reestilizado, ainda que fosse inteiramente baseado na linha 1942. Além disso, ocorreu a fusão das divisões superiores do grupo, que passaram a se chamar Lincoln-Mercury.

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    A principal novidade após a fusão era o modelo Sportsman, um requintado conversível com portas e laterais  da carroceria construídas em madeira (como na configuração perua) e acionamento eletro-hidráulico dos vidros e da capota de tecido.

    O Mercury Eight permaneceu sem mudanças até o modelo 1948, como este sedã de quatro portas (acima) restaurado por Pedro José de Souza Neto, da PJS Restaurações Especiais. Último trabalho realizado por Bob Gregorie, o modelo 1949 retomou a identidade da marca. Recordista em vendas, o Eight entrou para a história em seu auge, sendo substituído pelos modelos Custom e Monterey, em 1952.

    Ficha técnica – Mercury Eight
    Motor V8, 3,9 litros, 100 cv a 3.600 rpm; 25,9 mkgf a 1.800 rpm
    Câmbio manual de 3 marchas, tração dianteira
    Dimensões Comp., 512 cm; larg., 186 cm; alt., 175 cm; entre-eixos, 299 cm; peso, 1580 kg
    Desempenho 0 a 100 km/h em 20,5 segundos, velocidade máxima de 129 km/h
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