A Stellantis já começou a se movimentar para abandonar os motores Fire, da Fiat, no Brasil. O primeiro movimento foi retirar o motor 1.4 Fire EVO da linha 2024 da Fiat Strada. Agora os esforços são para substituir o motor 1.0 Fire EVO do Fiat Mobi e os 1.4 Fire EVO da Fiat Fiorino e da Peugeot Partner Rapid até o final de 2024.
Os motores substitutos já são conhecidos: o três-cilindros 1.0 e o quatro-cilindros 1.3 Firefly, lançados no Brasil há oito anos. E não será difícil, pois o Fiat Mobi Drive, vendido entre 2015 e 2020, já tinha o motor três cilindros e a Fiat testava a Fiorino com motor 1.3 anos atrás, antes mesmo da sua última reestilização.
De acordo com o Autos Segredos, a linha 2025 dos Fiat estrearão, na verdade, os motores Firefly ECO, uma atualização que visa aumentar a eficiência e controlar as emissões de poluentes para atender os novos regimes de emissões do Programa Proconve L8, que entrará em vigor no dia 1° de janeiro de 2025.
Essa atualização nos motores se estenderá aos Fiat Argo, Cronos e Strada, e também aos Citroën C3 e Peugeot 208, que também usam o motor 1.0 Firefly.
Motor Fire tem quase 40 anos
O “Fire” já chegou a ser nome de versões de carros como Palio e Siena, mas é um acrônimo para “Fully Integrated Robotised Engine”, que pode ser traduzido como “Motor Completamente Montado por Robôs”. Sim, “só” isso. A produção de motores automatizada era uma coisa revolucionária nos anos 1980 e o desenvolvimento desse motor também foi revolucionário.
Mas tinha seu status revolucionário quando foi lançado na Itália, em 1985, no Autobianchi Y10. Foi o primeiro motor majoritariamente desenvolvido digitalmente, com projeto em simulação computacional baseada em elementos finitos. E assim chegaram a um bloco com paredes de apenas 4 mm. No lançamento, o bloco de ferro pesava apenas 18 kg ou 69 kg completo.
Conta-se que os motores foram desenvolvidos com a PSA Peugeot Citroën, com quem a Fiat firmou parceria nos anos 1970. As fabricantes francesas teriam ajudado a desenvolver diversas soluções dos motores Fire, nunca chegaram a usar. Isso, pelo menos, até a Stellantis unir Peugeot, Citroën e Fiat no mesmo grupo e lançarem no Brasil o Peugeot Partner Rapid.
No Brasil, a estreia do motor Fire foi 15 anos depois, em março de 2000 e já com injeção eletrônica (chamado globalmente de Super-FIRE), em substituição aos antigos motores Fiasa. O primeiro carro foi o Palio 1.3 16V com 80 cv, mas logo a linha estaria completa: houve versões 1.0 e 1.3, com cabeçotes 8V ou 16V, a depender da versão.
Esses motores estiveram na grande maioria dos carros da Fiat fabricados no Brasil, como Uno, Palio, Siena, Punto, Idea, Strada e Doblò.
Atualizações, como acelerador eletrônico, ajustes de potência e eficiência e a transformação em bicombustível (e também para GNV, no caso do Siena Tetrafuel) foram feitas com o passar dos anos. Em 2006, o 1.3 deu lugar ao 1.4, sempre com cabeçote 8V no Brasil. Mas os 1.4 16V apareceram por aqui: os Fiat 500 podiam ter a versão aspirada, enquanto os 500 Abarth, Linea T-Jet, Bravo T-Jet e Punto T-Jet usaram o 1.4 16V Turbo.
Nessas de motor turbo, chegou a ser usado por carros da Alfa Romeo, da Jeep e da Dodge.
A última grande atualização dos motores Fire nacionais aconteceu em 2010, com o lançamento dos motores Fire EVO. Houve grandes mudanças em pistões, bielas, anéis, coletores e incluíram variador de fase nos 1.4, tudo para reduzir emissões e consumo. Mas essa atualização de 14 anos atrás e outras feitas na injeção para o Proconve L7 não serão suficientes após o fim de 2024.
O motor 1.0 Fire 8V foi lançado com 55 cv a 5.500 rpm e 8,3 kgfm a 2.500 rpm com gasolina e hoje gera até 74 cv a 6.250 rpm e 9,7 kgfm a 3.250 rpm. O primeiro 1.4 Fire 8V era flex e tinha 81 cv a 5.500 rpm e 12,4 kgfm a 2.250 rpm, enquanto hoje tem 86 cv a 6.000 rpm e 12,2 kfgm a 4.000 rpm. O 1.0 evoluiu bastante, mas o 1.4 já foi “sufocado”.
Ao completar 24 anos de Brasil, no mês que vem, os motores Fire terão sido quase tão longevos quanto os motores Fiasa, que foram oferecidos no Brasil do lançamento do Fiat 147, em 1976, até 2001.
Mas talvez os Fiat Fire sejam os motores com a melhor reputação entre mecânicos e consumidores dos que a Fiat já usou no Brasil. A manutenção é fácil, as peças são baratas e têm poucos problemas crônicos. Mas é inegável que a entrega de força deles está defasada há muitos anos.