Motos elétricas
Nova geração de motos e scooters elétricos se mostra alternativa real de transporte amigável ao ambiente
Enquanto os automóveis elétricos ainda patinam em frentes como autonomia, preço e estrutura de reabastecimento, as motos largam na frente na apresentação de soluções viáveis para o uso cotidiano. A seguir, apresentamos o há de mais novo no mundo das motocicletas que “abastecem” na tomada.
No Sudeste Asiático, onde o transporte predominante é o individual sobre duas rodas, no mais das vezes com scooters, a frota de motonetas elétricas é significativa. Segundo um estudo divulgado parcialmente pela empresa norte-americana Pike Research (o trabalho completo foi posto à venda no fim de abril passado para companhias e governos interessados), o número de motocicletas e scooters elétricos deve subir exponencialmente, dos atuais 17 milhões em 2011 para 138 milhões em 2017. Dave Hurst, analista-sênior da empresa de pesquisas, mostra-se otimista no relatório oficial da pesquisa em relação ao futuro das elétricas: “Motos e scooters elétricos têm um apelo forte para muitos consumidores. Eles são relativamente acessíveis, ocupam pouco espaço e são fáceis de manter, o que os torna atraentes para o usuário urbano. Governantes, em geral, também apreciam os veículos elétricos, porque eles se valem da infraestrutura de eletricidade e de transportes já existente, sem gerar os problemas de congestionamento e de emissões dos automóveis convencionais”.
Em muitas cidades brasileiras, especialmente no Nordeste, a modalidade básica de transporte individual já são os veículos de duas rodas, a exemplo do que acontece na maioria dos países asiáticos. A chegada de motos e motonetas elétricas poderia prevenir eventuais problemas de contaminação ambiental já na raiz.
Os grandes nomes do mundo das duas rodas são cautelosos e avançam a passos comedidos, apresentando protótipos em salões e mostras de tecnologia. Por outro lado, os fabricantes chineses de massa despejam milhares de motonetas elétricas por ano – nos mercados asiáticos, principalmente, mas também de todo o mundo, inclusive o Brasil. Algumas motos e scooters de marcas conhecidas já estão à venda no exterior, caso da Yamaha EC-03 no Japão, por exemplo. Honda e BMW já divulgaram projetos.
Em ordem alfabética, os mais importantes produtores de veículos de duas rodas elétricos no mundo são: Agni Motors, Brammo, Chaowei Power, Current Motor Company, E-Max, e-Moto LLC, Honda, iO Scooter, Jiangsu Xinri E-Vehicle, KLD Energy Technologies, KTM, Mission Motors, New Vectrix, Oxygen, Perm Motor, Piaggio, Quantya, Tianneng Power, Valence, Vmoto, Winston, Xtreme Green, Yamaha, ZAP, Zero Motorcycles e Zongshen. A lista é de maioria chinesa, mas inclui fabricantes italianos, americanos, japoneses e a austríaca KTM, que apresentou uma motocross espetacular, com toda a pinta de uma 125 cc de pista. Até mesmo a Volkswagen já apresentou um protótipo de scooter elétrico, entre outros fabricantes automotivos, como a Mini (BMW) e a Smart (Mercedes-Benz), além da Peugeot, que tem uma divisão específica de ciclomotores. Ninguém quer perder a onda que vem do lado asiático do Pacífico.
No Brasil, há diversas tentativas de importação, de nacionalização via Manaus e também de produção local de scooters elétricos com tecnologia chinesa. A mais avançada é a da Kasinski, com tecnologia Zongshen. A manauara Prima Electra está à venda por cerca de 5400 reais e uma fábrica de e-motonetas está sendo construída no estado do Rio de Janeiro para elevar sua escala de produção.
Enquanto as chinesas ainda lutam com os mesmos desafios que afrontam uma difusão mais rápida dos carros elétricos, tais como baixa autonomia, recarga extremamente lenta e baixo desempenho, a nova geração de motocicletas elétricas de fabricantes alternativos baseados nos Estados Unidos (e alguns também na Europa) já demonstra que desempenho e autonomia são obstáculos contornáveis. Esses exemplares, alguns comerciais, incorporam novas tecnologias, inclusive baterias de lítio (como as de celulares, mais potentes e compactas que as de chumbo-ácido) e até transmissão escalonada em marchas, como nas motocicletas convencionais, aplicadas em motores a explosão.
Há poucos anos, em um pequeno galpão de Santa Cruz, na Califórnia, foi desenvolvida a primeira moto impulsionada por motor elétrico da Zero Motorcycles, pioneira na produção e comercialização em larga escala de motos capazes de atingir velocidades aceitáveis e com autonomia que possibilitasse seu uso no dia a dia.
A empresa californiana acaba de lançar a Zero XU, uma Cross Urban para completar a linha 2011 de produtos, composta de Zero DS (Dual Sport), Zero S (Street), Zero MX (Motocross) e Zero X (Trail). O novo modelo utiliza a mesma plataforma da Zero X e possui baterias facilmente removíveis, permitindo sua troca por uma sobressalente ou seu transporte para a recarga em recinto fechado.
O fabricante garante que o novo modelo tem autonomia para 48 km e atinge a velocidade máxima de 82 km/h. A vida útil da bateria de íon de lítio é de 52000 km e sua carga completa pode levar até 2 horas, mas a empresa já disponibiliza um sistema de carga rápida que permite reduzir esse tempo pela metade. Graças aos diversos instrumentos criados nos Estados Unidos e na Europa, para incentivar o uso de veículos não poluentes e com energia renovável, o preço sugerido para a XU é respectivamente de 7995 dólares e 6795 euros, algo entre 13000 e 19000 reais.
Do vizinho Canadá vem a motocicleta elétrica Sora, desenvolvida por uma empresa de tecnologia de Québec, a Lito Green Motion. Seu forte é a autonomia, que beira os 300 km com a carga plena de sua bateria de polímero de lítio de 12 kWh. A velocidade final divulgada supera os 190 km/h e a aceleração de 0 a 60 km/h é feita em 4 segundos. O projeto reaproveita a energia gerada pelos freios e já está à venda no Canadá e Estados Unidos por 44000 dólares (cerca de 70000 reais).
RECORDE DE VELOCIDADE Para quem acha que motores limpos são assépticos em relação à emoção, o designer de veículos elétricos e piloto Chip Yates tem resposta na ponta direita do guidão: atingiu, em abril passado, uma marca histórica ao conduzir sua Pro Racing Swigz, empurrada por um motor elétrico desenvolvido pela empresa do Colorado UQM Technologies, até 306,7 km/h na distância de 1 milha (1609 metros), no aeroporto de Mojave, na Califórnia.
“Nosso projeto ainda vai percorrer um longo caminho até cumprir seu objetivo final, que é demonstrar que os veículos elétricos podem atingir o máximo desempenho e competir diretamente com veículos movidos a gasolina, quando bem projetados e executados”, garante o piloto.
Como Yates não cumpriu os dois sentidos da pista de Mojave, pré-requisito para que um recorde seja registrado, sua marca ainda é considerada extraoficial, mas ele garante estar se preparando para, em breve, superar a barreira das 200 milhas por hora.
ILHA DE MAN Como se sabe, as competições têm papel importante na disseminação de novas tecnologias. E aí as elétricas começam a ganhar terreno. O Tourist Trophy da ilha inglesa de Man, uma das mais tradicionais corridas de rua do mundo. Desde 2009, há uma prova destinada às motocicletas sem emissão. A prova é disputada por fabricantes artesanais e por empresas maiores, atraindo um crescente nível de interesse do público e das grandes montadoras.
Na Suíça, uma corrida de supermotards elétricas disputada na cidade de Roggwil em abril foi vencida pela SMRE, apresentada no Salão de Milão, no fim do ano passado. Ela venceu as sete baterias disputadas, sob o comando de Simone Girolami, e apresenta uma transmissão similar à das motos impulsionadas por motor a combustão.
A aparência da SMRE, principalmente na parte baixa do motor, é a de uma moto convencional, com um cárter muito parecido com o dos motores a explosão. Já na parte alta, os tradicionais cilindros foram substituídos pelas linhas retas do propulsor elétrico.
Essa nova proposta está equipada com um novo conjunto de motor elétrico com caixa de câmbio e embreagem convencionais, além de complexos circuitos eletrônicos e de software, que tentam fazer esse motor elétrico simular o comportamento de um motor a explosão, adequando-o assim à novidade real: a introdução de um câmbio de seis velocidades. O invento foi batizado de IET, Integrated Electric Transmission (Transmissão Elétrica Integrada), e foi patenteado pela empresa italiana SMRE. Uma moto elétrica com caixa de câmbio é algo que muitos engenheiros garantiam que nunca veríamos – e que os apaixonados por uma boa pilotagem mais almejavam.
Com soluções criativas que as aproximam das máquinas movidas por motores convencionais em termos de praticidade, o caminho para as elétricas está asfaltado.
No entanto, por aqui, a estrada é mais íngreme. No Brasil, os veículos elétricos ainda não contam com subsídios ou incentivos tributários e mesmo sua regulamentação nos órgãos de trânsito não é um processo dos mais tranquilos, como constatou o Grupo Izzo ao tentar importar o primeiro lote de motos da Zero. As novas versões da marca californiana ainda não têm previsão de chegada.
KASINSKI PRIMA ELÉTRICA A Prima Electra é a primeira iniciativa de produzir e vender em volume industrial um scooter elétrico no Brasil. A pioneira usa baterias de chumbo ácido e custa 5390 reais. Para uso em percursos urbanos relativamente curtos e planos, é perfeita.
ZERO DS É a ponta de lança na comercialização de motocicletas – e não scooters – no mercado internacional. A versão DS é uma trail com suspensões bem agressivas, ótima para usar em regiões inóspitas sem deixar nenhuma pegada de carbono…
HONDA EV NEO A scooter está disponível por ora apenas no Japão. A EV-neo foi projetada para uso profissional, com porta-objetos previstos para o transporte de cargas. Utiliza bateria de íons de lítio e inclui sistema de carregador rápido que permite a recarga completa em apenas 30 minutos.
BRAMMO ENERTIA Eleita nos Estados Unidos a moto elétrica do ano em 2010, incorpora componentes de grifes como garfo dianteiro Marzocchi invertido, freios Brembo e amortecedor traseiro Elka. Segundo a fábrica, tem autonomia média (varia de acordo com a solicitação) de 68 km, com uma velocidade máxima de 95 km/h.
BRAMMO EMPULSE Alto desempenho, refrigeração líquida, quadro externo forjado: aqui a ideia é mostrar que propulsão elétrica também pode ser esportiva e emocionante. O desempenho justifica a estética Café Racer: supera os 160 km/h e tem uma autonomia de até também 160 km (tem três versões, e varia na autonomia, com mínima de 96 km).