Salões do Automóvel não provocam mais congestionamentos ao redor das áreas em que acontecem e extensas filas de pessoas fora e dentro dos pavilhões. Mas, ao contrário do que muitos disseram, continuam atraindo o interesse do público que gosta de carros e das empresas.
Da década passada, quando a validade desses eventos passou a ser questionada, para hoje, muita coisa mudou. Assim como as fábricas, os salões passaram a falar de mobilidade. Deixaram de ocupar apenas recintos fechados, com venda de ingressos, em áreas enormes, e foram para as praças, onde o povo está. Os test-drives das novidades passaram a ser atrações obrigatórias.
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Por falta de um, no mês passado, houve dois salões importantes. Ambos em mercados significativos para a indústria: Munique, na Alemanha, de 5 a 12, e Detroit, nos Estados Unidos, de 13 a 24. QUATRO RODAS esteve nos dois e viu novidades que vão agradar tanto os consumidores locais quanto os brasileiros, que estarão recebendo algumas delas em breve.
Na Alemanha, a BMW, que jogava em casa, se antecipou (em três dias) à abertura oficial da exposição, revelando sua Neue Klasse (Nova Classe), apontada como o lançamento mais importante da marca, nas últimas décadas, quando chegar ao mercado, em 2025, primeiro como i3.
Até lá, vamos tendo visões parciais da base técnica dos elétricos da BMW no futuro, a médio e longo prazo. O concept car chegou com uma promessa que chama atenção: “30% mais autonomia, carregamentos de bateria 30% mais rápidos e eficiência energética 25% mais elevada”, segundo o engenheiro Frank Weber, responsável pelo departamento de desenvolvimento de novos modelos da BMW.
Na Mercedes-Benz, foi mostrado o esboço do futuro CLA, cuja importância tem a ver com o fato de estrear uma plataforma elétrica (MMA), prometendo autonomia de mais de 750 quilômetros, e que será uma família de várias carrocerias compactas, uma das quais esse cupê de quatro portas.
Outro concept car sedutor revelado mundialmente em Munique foi o VW ID.GTI concept. É o herdeiro do espírito de carro esporte compacto com as três letrinhas mágicas agrupadas, que fizeram história a partir de 1976, quando surgiu o primeiro Golf GTI. Claro que agora foi preciso inventar outro significado para a letra “I”, que carros elétricos não possuem injeção de combustível. O “I” agora vem de Inteligente, segundo a VW. Não é a explicação mais brilhante, longe disso, mas pelo menos permitirá que as siglas icônicas se mantenham vivas.
A Opel foi a única marca do Grupo Stellantis presente (com um concept car). A Renault teve protagonismo com a apresentação mundial do Scenic (monovolume convertido em SUV, tal como já tinha acontecido com o Espace). Na sequência, as luzes se voltaram para as montadoras chinesas, como a BYD, que apresentou o sedã Seal, com seu design sedutor (da autoria de Wolfgang Egger, alemão que no passado foi chefe de design da Alfa Romeo e da Audi) e sua versão SUV chamada de Seal U.
Grande curiosidade suscitou a nova marca Avatr, nascida da cooperação entre o fabricante de baterias CTAL e o de aparelhos de comunicação e informática Huawei. A Avatr mostrou o modelo 12, um sedã com 5 metros de comprimento, que segue a linguagem de design do primeiro Avatr, o SUV cupê 11, já à venda na China.
O sedã estará disponível em duas opções de tração – traseira com 313 cv ou a integral, com 578 cv. A plataforma de 750 volts é usada pelos dois modelos da marca, mas o sedã elétrico e o SUV elétrico diferem, entre outras coisas, na capacidade da bateria: enquanto o 11 vem com 90,4 ou 116,8 kWh, o 12 tem 94,5 kWh.
Visualmente, a característica mais marcante é que a Avatr dispensa vidro traseiro e, em vez disso, estica um grande teto panorâmico até a traseira. No interior, eletrônica é o que não falta. A Avatr colocou uma tela estreita com cerca de 1 metro de comprimento abaixo do para-brisa como um painel de instrumentos digital, ladeado por duas pequenas telas de informações e uma quarta tela flutuante sensível ao toque.
Salão de Detroit
Do outro lado do Atlântico, no dia seguinte ao encerramento do evento alemão, quem mais trouxe novidades foi a Ford, que se apresentou como uma marca renovada, “nesses tempos de grandes transformações”.
Um dos símbolos mais visíveis dessa renovação foi a apresentação do grande complexo de inovação recém-inaugurado na Estação Central de Michigan. A icônica estação ferroviária de Detroit, que foi cartão-postal da cidade e encontrava-se abandonada desde 1988, foi transformada em um centro de estudos aberto a inovadores, startups, empreendedores e parceiros de todo o mundo para desenvolver, testar e lançar novas soluções de mobilidade em situações do mundo real. Com 121.000 m2, o complexo abriga laboratórios, escritórios, auditório, centro de exposições, salas de aula, além de áreas verdes, espaços residenciais e de comércio.
Assim como a BMW, em Munique, a Ford também ampliou suas ações para além dos limites dos pavilhões e aproveitou o sucesso de vendas da F-150 para apresentar seu facelift em meio ao povo, em show ao ar livre no centro da cidade. A picape grande tem nova dianteira, com alteração nos faróis e, nas versões mais caras, na grade. As lanternas foram redesenhadas, a central multimídia de 12” tornou-se item de série em toda a gama e a tampa da caçamba agora tem abertura semelhante à da Fiat Toro, com opção de se abrir uma portinhola ou a peça completa.
Em uma festa menor, dentro do Salão, foi mostrado o Mustang GTD – variante do GT3 feita para que este possa disputar o Mundial de Endurance no ano que vem. Desenvolvido no novo túnel de vento da empresa, equipado com esteiras rolantes que permitem simular velocidades de até 320 km/h, o aerofólio traseiro do GTD não é só gigante, mas possui aerodinâmica com DRS (Drag Reduction System ou Redutor de Arrasto Aerodinâmico) incluso. Seu motor V8 5.2 com supercharger excede os 800 cv e para comprá-lo é necessário passar por uma aprovação prévia da marca, entrar numa fila e aí desembolsar mais de US$ 300.000.
Para o Brasil, as novidades ficaram a cargo do anúncio de dois modelos: a versão Raptor, da Ranger, e o e-Mustang. A Ranger Raptor não traz o design ativo dos esportivos off-road da Ford à toa: a picape média conta com motor V6 3.0 a gasolina de 400 cv e 59,4 kgfm e preparação que inclui até amortecedores da Fox revestidos de Teflon, para atuação mais rápida. O interior vem em tons de preto e laranja, com formato de concha inspirado nos assentos de aviões militares. Não há preço definido, mas algo em torno de R$ 400.000 é aposta razoável.
O Mustang Mach-E já era pedra cantada, mas agora temos a confirmação oficial incluindo a versão à venda, a GT. São 487 cv e 87,7 kgfm providos de dois motores elétricos que, de quebra, dão ao esportivo tração integral (para frear, há freios da Brembo). O Mustang elétrico estreia no Brasil pouco antes de ganhar um facelift no exterior; a Ford garante que seu preço já considera a queda no valor dos elétricos no Brasil, incluindo possíveis rivais como o EX30.
A conterrânea General Motors mostrou a nova geração do GMC Acadia. O SUV grande está maior (5,18 m de comprimento, 22 cm a mais) e traz novo motor 2.5 turbo (332 cv/45,1 kgfm) em todas as versões. O visual está alinhado com a moda geral, assim como as 26” de telas, que servem de painel de instrumentos e central multimídia. Receita parecida foi seguida no Cadillac CT5, que foi apenas reestilizado, mas ganhou faróis chamativos, com elementos verticais que unem luzes principais e auxiliares, do capô ao para-choque.
Como em Munique, a Stellantis, teve presença discreta em Detroit: além de pistas de test-drive dos seus veículos off-road, lançou o facelift da Jeep Gladiator, com releitura da icônica grade e nova central multimídia flutuante de 12,3”, com aplicativo que auxilia o motorista em dezenas de trilhas certificadas pela marca.